O dólar fechou em queda frente ao real nesta quinta-feira, acompanhando o bom humor externo após sinalização de que o banco central dos Estados Unidos pode reduzir seu ritmo de aperto monetário, em sessão de volumes reduzidos devido a feriado norte-americano e ao primeiro jogo da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo.
A moeda norte-americana à vista caiu 1,13%, a 5,3103 reais na venda, após operar em queda durante todo o pregão. Foi o patamar de encerramento mais baixo desde o último dia 14 (5,3026 reais).
Segundo Evandro Caciano dos Santos, chefe de câmbio da Trace Finance, o principal fator por trás da desvalorização do dólar nesta sessão foi a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve, que, segundo ele, veio “muito mais leve do que se imaginava”.
O documento, divulgado na véspera, mostrou que uma “maioria substancial” dos formuladores de política monetária concordou que “provavelmente seria apropriado em breve” desacelerar o ritmo das altas das taxas de juros, medida que jogaria a favor de ativos considerados arriscados.
Dos Santos acrescentou que o feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos pode ter favorecido um redirecionamento de recursos do exterior para o Brasil, cujos mercados oferecem rendimentos elevados e atraentes para o investidor internacional.
Com Wall Street fechada pelo feriado local e com a estreia do Brasil na Copa do Mundo nesta tarde, a sessão foi de baixa liquidez, disseram especialistas, o que pode ter ajudado a exacerbar a queda da moeda norte-americana.
Na cena local, colaborou para o bom humor do mercado a decisão do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, de indeferir a ação apresentada pela coligação do presidente Jair Bolsonaro (PL) que pedia verificação extraordinária do resultado do segundo turno eleitoral, alegando mau funcionamento de urnas eletrônicas.
Mais cedo nesta semana, a tentativa de questionar as urnas havia abalado os ânimos dos investidores, que temiam agravamento das tensões políticas domésticas.
Apesar da queda do dólar nesta quinta, adiamentos sucessivos da apresentação do texto final da PEC da Transição—que o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva busca aprovar para permitir gastos extra-teto a partir do ano que vem—continuavam sendo motivo de preocupação.
“O que se vê a cada tentativa de avanço, a cada sinal emitido, é que o PT está extremamente incomodado com as amarras fiscais e que, se possível, não quer respeitá-las, ainda que possam ocorrer as consequências macroeconômicos amplamente conhecidas”, disse em relatório Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
O governo eleito inicialmente propôs na PEC um gasto extra-teto de quase 200 bilhões de reais por tempo indeterminado, mas boa parte dos mercados espera que o texto possa ser reduzido nas negociações com o Congresso.
O senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator-geral do Orçamento do próximo ano, disse à Reuters que o texto da PEC da Transição será protocolado até a próxima terça-feira.