Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar perdeu terreno frente ao real nesta terça-feira, embora tenha encerrado o pregão bem distante das menores cotações intradiárias, com sinais tangíveis de progresso nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia elevando o apetite por ativos considerados arriscados.
A divisa negociada no mercado interbancário fechou em queda de 0,30%, a 4,7573 reais na venda. No início da sessão, chegou a cair 1,17%, para 4,7157 reais, mas recuperou espaço ao longo da sessão no que alguns operadores atribuíram a fator técnico de ajuste devido ao preço baixo atingido pelo dólar.
Na B3 (SA:B3SA3), às 17:07 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,20%, a 4,7640 reais.
Em conversas em Istambul, a Rússia prometeu reduzir drasticamente suas operações militares em torno de Kiev e da cidade de Chernihiv, enquanto a Ucrânia propôs um status de neutralidade –não se juntar a alianças militares ou hospedar bases militares–, o que impulsionou as ações globais e derrubou o índice do dólar frente a uma cesta de rivais fortes.
A melhora do humor também beneficiou os ativos do Brasil, com o Ibovespa aproveitando o clima internacional para subir mais de 1% no dia, acima dos 120 mil pontos.
O progresso nas negociações de paz teve efeito calmante sobre a aversão ao risco globalmente mas, por outro lado, reduziu o ímpeto de alta dos preços das commodities. Nesta terça-feira, os contratos futuros do petróleo e de várias commodities agrícolas caíram acentuadamente, já que eventual resolução do conflito na Ucrânia poderia reduzir a restrição de oferta mundial.
O real, que tem se valorizado em linha com o avanço das commodities desde o início da guerra, pode acabar sentindo alguma “normalização” caso haja ajustes significativos para baixo nos preços desses produtos, disse Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
“Mas quer dizer que vamos voltar para 5,50? Não, porque acabar com o conflito não significaria acabar com as sanções contra a Rússia”, disse Izac, ressaltando que isso manteria algum viés de alta nos preços do petróleo e outros insumos. Ele acrescentou que o real tem fator adicional de suporte, que é o patamar elevado da taxa Selic.
O Banco Fibra afirmou que “o diferencial de taxa de juros entre o real e o dólar beneficia o ‘carry trade’ e, portanto, o fluxo positivo de dólares no mercado de renda fixa”. O comentário faz referência a estratégias que buscam lucrar com a tomada de empréstimo num país de juro baixo e investimento desse dinheiro num mercado de rendimentos mais atraentes.
A Selic está atualmente em 11,75%, enquanto os juros básicos dos EUA estão num intervalo entre 0,25% e 0,5%. Com esse diferencial expressivo somando-se ao preço alto das commodities, “vemos espaço para moeda (real) menos desvalorizada nos próximos meses”, disse o Banco Fibra em relatório divulgado nesta terça-feira, assinado por seu economista-chefe, Cristiano Oliveira, e Ágila Cunha, do departamento econômico.
O banco espera que o dólar encerre este ano a 5,00 reais, uma forte revisão ante cenário anterior que previa patamar de 5,50.
No acumulado de março, o dólar tem queda de 7,74% frente ao real, o que o deixava a caminho de marcar seu pior desempenho mensal desde a baixa de 7,79% vista em outubro de 2018. No trimestre prestes a se encerrar, sua desvalorização até agora é de 14,64%. Caso mantenha essas perdas até quinta-feira, último dia do mês, o dólar terá sua perda trimestral mais intensa desde o tombo de 15,81% registrado no período de abril a junho de 2009.
Em 2022, a divisa dos EUA perde 14,64%, deixando o real com a melhor performance global no período. Reuters