O dólar fechou em forte queda nesta terça-feira (28), interrompendo uma sequência de cinco altas seguidas na cotação da moeda, com operadores realizando lucros. O dia foi de maior apetite por risco no exterior diante da expectativa de flexibilização das quarentenas nas principais economias, mas a possibilidade de volatilidade permaneceu à medida que os investidores seguem atentos à trama política doméstica.
A moeda norte-americana encerrou o dia em queda de 2,53%, a R$ 5,5150. Na mínima, chegou a R$ 5,4723. Nesta sessão, o Banco Central fez leilão de até 10 mil contratos de swap cambial tradicional para rolagem do vencimento junho de 2020. Em meio a cenário de juros baixos – com expectativa de ainda mais cortes na Selic pelo Banco Central –, o dólar acumula alta de 37,54% no ano. No mês, a alta acumulada chega 6,14%.
Cenário externo
“Os investidores ainda reagem positivamente à perspectiva de relaxamento do distanciamento social em vários países da Europa”, disse o Bradesco em boletim diário, citando também expectativa em relação às reuniões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central Europeu desta semana.
Após semanas de quase estagnação na atividade dos negócios em meio a medidas de distanciamento social, países como Itália e Espanha se preparam para relaxar as quarentenas e permitir que lojas, empresas e fábricas voltem a abrir suas portas. Nos Estados Unidos, alguns Estados seguem os mesmos passos em direção a uma reabertura da economia.
Cenário interno
Enquanto isso, no cenário doméstico, os investidores seguem atentos aos desdobramentos políticos, que têm elevado a cautela e a volatilidade nos últimos dias. O comentário no mercado é que o desmonte de posições em dólar pode estar relacionado à percepção de que, com a saída de Sergio Moro do governo, o presidente Jair Bolsonaro poderia se sentir mais “dependente” do ministro da Economia, Paulo Guedes. Os dois formavam a dupla de “superministros”, vistos como importantes suportes ao presidente junto à opinião pública e ao mercado financeiro.
“Dentre todos os problemas criados pela demissão do ex-ministro Sérgio Moro, o mais claro deles estaria a perspectiva de manutenção de Paulo Guedes”, comentou em nota a Infinity Asset. “Agora, com o discurso de Guedes ontem junto ao presidente, reiterando o total controle da economia ao ministro (…), Guedes retoma sua posição e alivia a tensão do mercado.” Uma turbulência contínua nos mercados – como a vista na semana passada na esteira da atribulada saída de Moro – poderia prejudicar mais a avaliação geral sobre o governo.
Na véspera, Bolsonaro deixou claro que Guedes continua com a palavra final nos gastos federais, dizendo que “o homem que decide economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes”, numa demonstração pública de apoio ao ministro, que havia atraído especulações de que poderia ser o próximo a deixar o governo depois de Moro.
Na segunda-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou, questionado sobre eventual impeachment, que o Parlamento não será instrumento de turbulências e crise política, o que poderia trazer mais incertezas e dar “contornos ainda mais graves” à crise da pandemia do coronavírus.
“Este é um momento de suma importância para o alívio das tensões políticas, pois além dos países estarem próximos ao pico das reações econômicas negativas da crise viral, uma parte significativa começa a sinalizar a retomada das atividades”, avaliou a Infinity Asset.
Fonte: Fiems