O dólar voltou a apresentar forte queda no mercado doméstico de câmbio na sessão desta sexta-feira, 4, em meio a relatos de entrada de fluxo externo para ativos domésticos. Segundo analistas, à consolidação de uma transição de governo sem rupturas, com esvaziamento dos protestos pró-Bolsonaro, somaram-se nesta sexta à baixa global da moeda americana e à valorização das commodities diante de sinais de que a China vai relaxar a política de covid zero. Dados do mercado de trabalho norte-americano mistos ratificam perspectiva de diminuição do ritmo de alta de juros nos EUA em dezembro, embora se espere taxa terminal mais elevada em razão de declarações do chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, na quarta-feira, 2, após comunicado do BC americano.
Em baixa desde a abertura dos negócios, o dólar registrou máxima a R$ 5,1132 (-0,25%) pela manhã, com pressão compradora momentânea após a divulgação do relatório de emprego nos EUA (payroll). Rapidamente, porém, a divisa voltou a apresentar queda superior a 1% e, à tarde, desceu até mínima de R$ 5,0205 (-2,05%).
No fim da sessão, o dólar recuava 1,24%, a R$ 5,0622 – menor valor de fechamento deste 29 de agosto (R$ 5,0334). Com isso, a moeda encerra a primeira semana após a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial com baixa acumulada de 4,49%.
“O mercado se animou com essa história de que a China vai flexibilizar controles. Os preços estavam bastante deprimidos na parte de commodities com a política monetária restritiva nos países desenvolvidos, especialmente nos EUA, e a economia chinesa fraca”, afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, ressaltando que ainda existem uma “incerteza grade” sobre a atividade na China. “O payroll não chegou a ter grande influência nos preços. O mercado de trabalho americano está se ajustando devagar e o Fed ainda tem que elevar os juros. O que domina hoje é a questão das commodities, que influencia muito o comportamento da nossa moeda.”
A equipe de transição para o governo Lula, comandada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, negocia um meio de atender às promessa de campanha, como manutenção do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) no valor de R$ 600 a partir do ano que vem e um aumento real para o salário mínimo. Na mesa, estão duas opões: a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição, a chamada PEC de Transição, ou uso de crédito extraordinário. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse no início da tarde que a equipe de transição ainda não tem cálculos da área técnica sobre o valor que seria contemplado na PEC.
Fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) afirmam que ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) vêm precedente para que o uso de crédito extraordinário para cobrir o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023 e despesas de outros programas. Nesta sexta à tarde, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) defendeu a abertura de crédito extraordinário (fora do teto) via Medida Provisória como melhor alternativa para contemplar os gastos prometidos em 2023.
Para Lima, da Western Asset, o ambiente político ainda é de muito ruído e pouca informação concreta, dado que não saiu o nome de quem comandará o ministério da Fazenda no futuro governo Lula. Há dúvidas também sobre qual será o tamanho do espaço de gastos fora do teto em eventual PEC ou via crédito extraordinário. “O mercado estava com medo de risco de não aceitação do resultado e houve uma alívio com o fato de que vai haver uma transição e o Congresso deve apoiar na largada. Mas ainda existem muitas dúvidas sobre o que vai ser o próximo governo”, diz. MIDIAMAX