A história do mais antigo filme brasileiro preservado de que se tem notícia se transformou em um documentário que fará sua estreia hoje (8) na Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP). Mais de um século após o início da produção de Reminiscências, chegam ao público detalhes da obra pioneira do mineiro Aristides Junqueira e que reúne imagens gravadas entre 1909 e 1926.
O documentário de 75 minutos, intitulado Até onde pode chegar um filme de família, foi dirigido pelo também mineiro Rodolfo Junqueira Fonseca, sobrinho-neto de Aristides. Segundo o cineasta, a proposta foi investigar os sentidos familiares e as interpretações em torno do que considera um marco dos primórdios do cinema nacional.
“Ajuda a preencher lacunas da nossa memória cinematográfica. Havia várias histórias desconhecidas envolvendo a relação de Aristides com o cinema, que foram descobertas no processo de pesquisa de acervos pessoais e públicos e nas entrevistas que realizamos”. Netos e bisnetos de Aristides também participam do documentário.
Reminiscências reúne imagens que vão de um encontro familiar no quintal de casa até um casamento. São apenas nove minutos de duração. A exibição, hoje, será um retorno ao local onde, de certa forma, tudo começou. Aristides Junqueira nasceu exatamente em Ouro Preto, no ano de 1879, quando a cidade ainda era capital de Minas Gerais.
“Ele começou a registrar eventos sociais e políticos e a realizar documentários autorais. Seus diversos filmes incluem imagens que vão desde personalidades públicas até índios do Araguaia. Mais tarde, ele monta uma produtora no Rio de Janeiro. O documentário acaba contando também a biografia do cineasta”, conta Rodolfo.
Obra recuperada
Quando faleceu em 1952, Aristides tinha 73 anos e trabalhava como fotógrafo responsável pelo setor de microfilme da prefeitura de Belo Horizonte. Ele deixou oito filhos do primeiro casamento e um do segundo. Seu acervo de fotografias e filmes em película em suporte de nitrato foi se degradando e acabou descartado ou vendido por sua segunda e última esposa.
Somente em 1970 é que a cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro teve acesso a Reminiscências. Uma cópia em nitrato do filme foi doada por um neto de Aristides, o historiador Paulo Junqueira Alvarenga, que guardou o material em sua geladeira por décadas. Mais tarde, o original foi levado à Cinemateca Brasileira, que realiza cópias assegurando a preservação da obra.
O documentário deve percorrer outros festivais e, segundo o diretor, o público futuramente terá acesso também pela televisão e por streaming. A exibição de hoje acontece às 18h45, em uma tela de cinema montada na Praça Tiradentes, no centro da cidade histórica mineira. Toda a programação da CineOP é aberta ao público e gratuito. A abertura do festival ocorreu na última quinta-feira (6) e o encerramento está previsto para a próxima segunda-feira (10).agenciabrasil