Levantamento aponta que entre 90% e 94% da heroína consumida nos EUA vem do México.
Os Estados Unidos sofrem a pior crise de drogas desde os anos 1980, segundo um levantamento anual apresentado na quinta-feira pelas autoridades norte-americanas. O documento, que examina os fluxos internacionais das drogas, destaca entre as causas a liderança da América Latina na produção e no tráfico de drogas: dos 22 países listados como os maiores produtores e de trânsito, 17 são latino-americanos ou do Caribe. A Colômbia registra pelo segundo ano consecutivo aumentos notáveis na produção de cocaína, enquanto o México fornece até 94% da heroína consumida nos EUA. Além disso, Venezuela e Bolívia continuam “fracassando de forma clara” na luta contra o narcotráfico. Esses são os dados.
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Estados Unidos
Os Estados Unidos sofrem a pior crise de drogas desde os anos 1980. Segundo William R. Brownfield –membro da equipe encarregada de elaborar o levantamento–, “hoje em dia os Estados Unidos têm mais comunidades, mais famílias e mais regiões confrontadas com o problema das drogas e do vício, especialmente de heroína e outros opiáceos”. Brownfield afirmou que, apesar de existirem “desafios enormes” na luta contra as drogas e os opiáceos, “os Estados Unidos têm mecanismos, cooperação e alianças regionais” para enfrentar com sucesso.
O Governo de Donald Trump tem liderado uma retórica que se baseia em impedir o fluxo de drogas por parte dos países produtores latino-americanos. No entanto, como admitiu Brownfield, o problema também é de demanda. O consumo nos EUA tem sido motivado por uma crescente demanda por opiáceos devido aos altos preços dos medicamentos no país. Portanto, o problema não é só dos países produtores, mas também dos EUA pela demanda que seus cidadãos exercem. “É uma responsabilidade compartilhada e requer soluções compartilhadas”, concluiu Brownfield.
México
Apesar de o México continuar sendo um dos maiores pontos de trânsito de drogas, a Iniciativa Mérida –um programa de cooperação entre EUA e seu vizinho do sul– traçou uma estratégia conjunta baseada no treinamento da polícia, unidades antinarcóticos e a implementação de tecnologia para combater o tráfico das substâncias. Através desse pacto, os EUA aportaram grandes somas de dinheiro e, como resultado, permitiram que o controle de drogas na fronteira entre ambos os países seja “agora melhor do que nunca”, segundo afirmou Brownfield em uma teleconferência com a imprensa. “De certo modo, temos (EUA e México) criado um “muro” de cooperação na fronteira sem ter um muro físico”, disse Brownfield, que evitou dizer se a construção do muro prometido por Donald Trump seria útil para frear a entrada de drogas no país.
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Colômbia
Conforme indica o documento, o cultivo de coca aumentou na Colômbia mais de 81% desde 2013, convertendo o país no “maior produtor de cocaína do mundo”. O Governo colombiano apreendeu 421 toneladas dessa droga apenas em 2016, 124 a mais do que no ano anterior. Segundo a avaliação do Governo dos EUA, a tendência crescente está diretamente relacionada às negociações com as FARC, que obrigaram o Exército colombiano a relaxar as tarefas de supervisão nas zonas de cultivo de coca, controladas ainda pela guerrilha, para evitar um conflito armado.
Segundo a DEA, agência antinarcóticos dos EUA, 90% da cocaína interceptada no país era proveniente da Colômbia. Brownfield afirmou que a Colômbia é um dos aliados mais próximos a Washington, e disse que os EUA continuarão apoiando economicamente o país como parte do programa “Peace Colombia”, que estipulou ajuda de 450 milhões de dólares para 2017.
Venezuela
Em 2016, o presidente dos EUA “determinou que a Venezuela havia fracassado de maneira clara na hora de cumprir suas obrigações de combater o narcotráfico estipuladas por acordos internacionais”. “As autoridades venezuelanas mostraram uma grande falta de efetividade para capturar traficantes devido, em parte, à corrupção política”, destaca o documento.
A Venezuela continua sendo um oásis “para o tráfico de drogas para Europa, Estados Unidos, África ocidental e Caribe”, um problema que se vê acentuado, segundo o levantamento, pela corrupção do Governo, que teve alguns membros sancionados pelos EUA. A última, há apenas duas semanas, quando o Governo de Donald Trump puniu o vice-presidente do país bolivariano, Tareck El Aissami, por estar envolvido no tráfico de drogas.
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Segundo explicou Brownfield, a relação entre EUA e Venezuela conta com vários problemas de “cooperação e coordenação”. Washington exige um esforço maior por parte do Governo de Nicolás Maduro para combater o fluxo de drogas, mas segue comprometido com ajudas limitadas ao país bolivariano.
Bolívia
A Bolívia é outro país latino-americano apontado pelos EUA como um “fracasso de forma clara” na luta contra o narcotráfico. A afirmação se fez com base na “insuficiência dos esforços governamentais para desmantelar os carteis de drogas”, afirma o documento. O país dirigido por Evo Morales é o terceiro maior produtor de cocaína do mundo e um lugar-chave para o trânsito da cocaína peruana.
Existe preocupação sobre a falta de habilidade da Bolívia para controlar que os cultivos legais de coca não se convertam em fontes para a produção ilegal de cocaína. Vários agentes de polícia foram investigados por casos de corrupção relacionados ao tráfico de drogas, e a falta de transparência continua impedindo a efetividade das autoridades. A cooperação norte-americana com o país latino-americano é mínima em comparação com os demais países citados.
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