De olho em pena menor, preso por matar Mayara quer mudar crime para feminicídio
A defesa de Luís Alberto Bastos, 27 anos, preso por envolvimento no assassinato da musicista Mayara Amaral, morta em um motel de Campo Grande no dia 25 de julho, anunciou que ele quer mudar a versão dos depoimentos que já prestou. Segundo o advogado Conrado Souza, a defesa quer mudar o indiciamento para feminicídio, ao invés de latrocínio.
Luís deve prestar novo depoimento nesta sexta-feira (4) e, segundo a defesa, vai mudar a versão sobre o que aconteceu no dia em que Mayara foi morta no quarto de um motel na região oeste de Campo Grande, a golpes de martelada, e teve o corpo abandonado e parcialmente queimado numa estrada de acesso ao Inferninho.
O advogado adiantou que o cliente dele deve ‘esclarecer’ que, no dia do assassinato, estava sob o efeito de diversas drogas que teriam consumido, como cocaína, maconha, crack e álcool. Com isso, a defesa deve alegar que ele não tinha controle sobre as ações.
Após ampla repercussão nas redes sociais reclamando da tipificação do crime como latrocínio, roubo seguido de morte, a defesa do preso pelo assassinato também vai aderir e pedir a mudança do indicamento de Bastos para feminicídio, que tem penas menores. Familiares da vítima reclamaram da forma como a versão dos presos pelo assassinato foi tratada por setores da imprensa e pela opinião pública nas redes sociais.
Segundo o advogado, Mayara não teria nada de valor para ser roubado. No entanto, os implicados chegaram a negociar o automóvel da musicista, um Gol ano 1992, além de terem subtraído objetos dela, como o instrumento musical, após o assassinato.
Além disso, a defesa pediu a transferência de Luís Alberto, e os outros dois envolvidos no crime, Ronaldo da Silva Olmedo, de 30 anos, e Anderson Sanches Pereira, 31 anos, para outro presídio. Segundo o advogado, Luís “se sente inseguro no estabelecimento penal”. Ainda não há informações para onde ele seria levado caso o pedido fosse aceito.
Outra estratégia da defesa deve ser mudar a participação dos presos nos fatos que levaram à morte de Mayara. O advogado admitiu que detalhes da versão inicial, como a participação de Ronaldo da Silva Olmedo, o ‘Cachorrão’, na morte, podem ser alterados no novo depoimento de Luís.
Entenda o caso
Após ser preso, Luís disse à polícia que a ideia de assassinar a musicista seria de ‘Cachorrão’, Os dois marcaram um encontro com a Mayara e na noite do dia 24 de julho, foram para um motel na saída para Rochedo. Ele afirmou que depois do ensaio com a banda a musicista o buscou em casa, depois foi até a casa de ‘Cachorrão’ e de lá para o local em que o crime aconteceu.
Inicialmente, ele afirmou que não tinha a intenção de matar a musicista, mas que ‘Cachorrão’ teria levado a arma usada, um martelo. Ele, no entanto, admitiu que “ajudou com o corpo”.
A versão dos dois, conforme apontado pelo Jornal Midiamax desde o início, apresenta pontos não explicados, como a forma como teriam entrado e saído do Motel. No estabelecimento, funcionários teriam achado que um aborto havia sido feito no quarto, devido ao sangue encontrado, mas ninguém acionou a polícia.
A dupla então teria ido para a casa de Anderson, vizinho de frente de Ronaldo, lá eles deixaram o corpo enquanto Luís voltava até sua casa, deixava os objetos da vítima e pegava uma pá. Juntos, os três autores foram para a região do Inferninho, na saída de Campo Grande para Rochedo, com a intensão de carbonizar e enterrar a mulher. Mas, teriam desistido do último passo porque o terreno ‘tinha muita lama’.
No primeiro contato com a polícia, o rapaz negou o crime e tentou incriminar um ex de Mayara, afirmando que no horário do almoço haviam visto os dois juntos e que o homem espancava a amiga. Mas familiares dele acabaram desmentindo a versão e afirmaram aos investigadores que Luís passou parte da terça-feira com o Gol da musicista. A contradição e o nervosismo, somado com as provas colhidas pela investigação, entregaram o rapaz.
Mais uma vez, Luís afirmou à polícia que a ideia das mensagens enviadas para incriminar o ex de Mayara partiu dos comparsas, ‘para atrapalhar as investigações’. A primeira informação repassada para a polícia era de que a vítima havia enviado mensagens para a mãe afirmando estar sendo ameaçada pelo ex e por isso estava fugindo.
O rapaz chegou a ser detido e as investigações o inocentaram. Depois de se passar pela musicista, ele se livrou do celular. Os outros dois suspeitos negaram participação no crime.
Anderson negou que o corpo ficou em sua casa, afirmou que o único negócio com o rapaz era a troca do carro da musicista por outro Gol, esse de modelo 1984. Ele afirmou que ficou com o veículo da vítima antes de cumprir sua parte do acordo. Foi com o Gol modelo 1992 que o suspeito foi preso, além de um home theater, comprado com R$ 1 mil roubados da vítima.
Ronaldo, o ‘Cachorrão’, afirmou que só falaria em juízo, mas para a imprensa alegou que Luís teria oferecido o carro para ele por R$ 1 mil. “Eu já vi ele com a vítima e até falei que não queria comprar. Não sou cagueta, mas quem matou foi o Luís. Ele agiu de má-fé comigo”, disse. No quarto de Luís foram encontrados instrumentos, computador e até as roupas ensanguentadas de Mayara.