O surgimento de novas linhagens virais é um processo esperado, já que faz parte da natureza dos vírus sofrer mutações conforme se multiplicam ao longo do tempo.
Segundo nota técnica publicada pelo grupo da Fiocruz Amazônia em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do estado do Amazonas (FVS-AM), o percentual de 91% representa “um aumento substancial” na circulação da variante, que foi identificada pela primeira vez em uma amostra coletada em 4 de dezembro e estava em 51% das amostras analisadas no mês passado.
Foram sequenciados até o momento 24 genomas coletados em novembro, e em nenhum deles foi encontrada a presença da nova variante. Em dezembro, a P.1 estava em 51% das 55 amostras, e, até 13 de janeiro, em 91% dos 35 genomas sequenciados.
O surgimento de novas linhagens virais é um processo esperado, já que faz parte da natureza dos vírus sofrer mutações conforme se multiplicam ao longo do tempo. No caso da variante P.1, Naveca explica que a mudança genética trouxe alterações na proteína spike, que forma a coroa de espículos que dá nome ao coronavírus e é a estrutura usada pelo micro-organismo para se conectar às células humanas.
“A variante tem como característica mutações na região da proteína spike, em especial na região de ligação ao receptor celular, que conferem a ela um provável aumento de transmissão”, explica Felipe Naveca, que se baseia na velocidade com que a variante se tornou dominante e em dados sobre mutações semelhantes que geraram as variantes encontradas no Reino Unido e na África do Sul. “A gente ainda precisa entender melhor se ela está relacionada com gravidade [da doença], mas o fato de ela ter sido encontrada com essa frequência e ter essas mutações nos sugere que ela é mais transmissível.”
“Acreditamos, sim, que ela é uma das variáveis importantes relacionadas à explosão de casos, mas não é a única”, afirma Naveca. “Tivemos uma diminuição do distanciamento social que foi observada em uma crescente desde outubro e, principalmente, no Natal e no Ano-Novo”.
O estado do Amazonas e a capital, Manaus, tiveram em janeiro o pior momento da pandemia de covid-19, com a média móvel de mortes atingindo mais do que o dobro do recorde registrado em maio do ano passado, segundo o painel de dados Monitora Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Em 31 de dezembro, o estado do Amazonas tinha uma média móvel de 19,14 vítimas por dia, se considerados os últimos sete dias. Em 26 de janeiro, essa média chegou a 139,14 mortes por dia. Ao longo do ano passado, a pior média de mortes no estado foi em 9 de maio, quando chegou a 65,86 mortes diárias.
A variante P.1 evoluiu a partir da linhagem B.1.1.28, que circulava como dominante no estado do Amazonas. A mutação foi identificada pela primeira vez por pesquisadores japoneses, que analisaram amostras coletadas de quatro viajantes que estiveram no Norte do Brasil. Autoridades japonesas comunicaram a descoberta ao Brasil, e, em 12 de janeiro, a Fiocruz Amazônia confirmou que a linhagem evoluiu no estado do Amazonas.
Os pesquisadores também confirmaram em 13 de janeiro o primeiro caso de reinfecção pela nova variante. Naveca explica que, além de haver estudos que indicam que mutações semelhantes aumentaram a capacidade de transmissão, também há indícios de que a mutação permita que o coronavírus escape dos anticorpos produzidos a partir do contato com outras linhagens.
Os cuidados para evitar o contágio, no entanto, não mudam. “As orientações são as mesmas: manter o distanciamento social, a utilização correta das máscaras, a lavagem das mãos por pelo menos 30 segundos ou o álcool em gel. São as mesmas recomendações relacionadas às outras variantes.”
Com informação: Agência Brasil