Confira o editorial deste sábado/domingo: “Eficiência contra o crime”

O ataque às finanças do crime organizado é o fogo na Hidra de Lerna. Só assim para fazer com que não surjam mais bandidos a cada prisão ou a cada operação.

Na mitologia grega havia um monstro com corpo de dragão e várias cabeças de serpente, conhecido como Hidra de Lerna. Algumas versões da lenda indicam que, quando se cortava uma das cabeças, surgiam outras duas no lugar. Para derrotar o monstro, foi preciso nada menos do que o super-humano Hércules, que o executou em seu segundo trabalho.

O mito da Hidra de Lerna é aplicado até hoje em várias comparações, e uma das mais válidas é na analogia feita com o crime organizado. Nas últimas décadas, o Brasil deu todas as mostras de que perde a maioria das batalhas da guerra contra o crime organizado. Organizações como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), que surgiram no fim do século passado, aparentemente continuam dando as cartas nos roubos, grandes golpes e no tráfico de drogas e contrabando no Brasil. Elas estão em praticamente todas as unidades da Federação e ainda têm “tentáculos” em países vizinhos, como o Paraguai, por exemplo.

Desde que as organizações criminosas –como as citadas acima – controladas de dentro das penitenciárias começaram a ganhar destaque, foram inúmeras as operações das polícias civis dos estados e da Polícia Federal contra seus chefões e suas estratégias de crime. A análise que pode ser feita é de que elas continuaram agindo, pelo menos não demonstraram ter perdido nenhuma força. Ao contrário, conquistaram novos territórios, como a rota do tráfico de cocaína do Peru e da Bolívia, que entra no Brasil pela fronteira com o Paraguai.

As ações do poder público brasileiro contra esses criminosos se parecem com as tentativas de ataque à Hidra de Lerna da mitologia. Para cada cabeça que é cortada, surgem outras duas no lugar. Talvez a resposta para pôr fim a essas organizações criminosas esteja na lenda do próprio Hércules. Ele só conseguiu derrotar a Hidra depois que um incêndio no bosque ao lado do local de batalha queimou as feridas das cabeças cortadas, impedindo que outras crescessem no lugar.

Operação desencadeada nesta semana pela Polícia Federal ataca justamente o braço financeiro do PCC. Foram atuações em vários estados, entre eles, Mato Grosso do Sul. Houve apreensão até mesmo de aviões, além de dinheiro e armas, e também dezenas de presos.

O ataque às finanças do crime organizado é o fogo na Hidra de Lerna. Só assim para que não surjam ainda mais bandidos a cada prisão ou a cada operação. Apreender recursos financeiros e patrimoniais dos chefes de quadrilha é um plano eficiente: reduz o poder de fogo e de atuação dos criminosos e ainda retira o que os une: poder e dinheiro.

CORREIO DO ESTADO