Como será possível viajar no pós-pandemia?

Setor fortemente afetado pelo vírus, turismo tentará ressuscitar sob novos parâmetros, estabelecendo regras de comportamento de viajantes em aeroportos, hotéis, praias e museus.

27/04/2020 09h02  Atualizado há 11 horas


Norwegian Jewel, navio de cruzeiro recusado em quatro países da Oceania em meio às medidas contra o novo coronavírus — Foto: Reprodução/Norwegian Cruise Line

A incerteza que se abateu sobre o setor turístico, gravemente impactado pela velocidade com que o novo coronavírus se alastrou pelo mundo, reverbera a longo prazo no período pós-pandemia. Mesmo depois que a quarentena mundial for flexibilizada e as fronteiras reabertas, o planejamento de férias entrará em outro modo: o novo normal implicará regras rigorosas e uma reviravolta nos hábitos de viagens.

A indústria do turismo, da qual dependem 75 milhões de pessoas no mundo, tenta traçar novos cenários que guiarão os viajantes na nova era. A retomada certamente não prosseguirá nos moldes verificados em dezembro de 2019, mas de outro patamar de segurança em aeroportos, hotéis, restaurantes e museus.

Ministros de Turismo da região mais afetada — a União Europeia — reúnem-se nesta segunda-feira (27) para discutir parâmetros para proteger o setor e os passageiros. Estima-se que será necessário um reforço de US$ 250 bilhões para ressuscitar a indústria do turismo no continente.

Se o objetivo é voltar a viajar ainda este ano, são cogitados ainda atestados de imunidade para quem já contraiu a doença e medição de temperatura para todos os viajantes, enquanto a vacina contra o Covid-19 não é produzida. Ambas as medidas, contudo, não isentam o viajante do risco de contágio.

Novos comportamentos serão exigidos em atividades rotineiras em piscinas, praias, ônibus de turismo ou bufês de café da manhã, como exemplificou o ministro de Turismo da Grécia, Harry Theoharis, ao jornal britânico “The Guardian”. A mudança prevê higienização redobrada nos destinos turísticos. Levará tempo para passageiros voltarem a se aventurar em cruzeiros marítimos sem correr o risco traumático de ficar à deriva, caso alguém for infectado no meio da viagem.

A proximidade do verão no Hemisfério Norte — período sagrado para férias — preocupa hoteleiros de Itália, Espanha e Grécia, onde o turismo representa um quinto do PIB. Um estudo feito pela Câmara Helênica de Hotéis revelou que 65% de seus integrantes veem como provável ou muito provável a falência de seus negócios após os bloqueios e fechamentos de fronteiras. Esta sensação se amplifica nos países dependentes do setor.

Ministros de Turismo do G-20 concordaram, na semana passada, em estabelecer condições para revigorar o setor de viagens, que equivale a 10,3% do produto interno bruto global. Se a janela do verão for desperdiçada, ou seja, os esforços para a retomada forem adiados até setembro, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que a queda no turismo internacional será de 70%.

Especialistas acreditam que o primeiro passo para a recuperação se verificará em viagens curtas e domésticas. O preço da liberdade de circulação será alto e vai requerer cuidado redobrado para cumprir as exigências sanitárias que se farão necessárias. No novo normal, até conseguir relaxar, o turista enfrentará uma gincana exaustiva e nem um pouco divertida.