No mesmo ano em que a Coamo inaugura complexo industrial de R$ 795 milhões no município, a Copacentro entra em liquidação por dívidas de R$ 62 milhões.
Duas cooperativas ligadas ao setor agrícola vivem momentos opostos em Dourados, centro de uma região que produz mais de 50% da soja de Mato Grosso do Sul, por sua vez o 5º maior produtor nacional do grão. No mesmo ano em que a Coamo inaugura complexo industrial com investimentos de R$ 795 milhões, a Copacentro encerra as atividades em liquidação por dívidas superiores a R$ 62 milhões.
Em comum, além do fato de serem associações de pessoas com interesses comuns, elas têm nos grãos produzidos por essa terra a matéria prima para subsistência. A Coamo dispõe de uma estrutura com 92 mil metros quadrados para operar com capacidade de processar 3 mil toneladas de soja e refinar 720 toneladas de óleo de soja por dia. Já a Copacentro armazena, compra e vende tanto a oleaginosa quanto o milho.
Inaugurado no dia 25 de novembro, com a presença da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, o complexo industrial da Coamo possibilitou a ampliação para 8 mil toneladas/dia de esmagamento de soja no Brasil. Além da unidade douradense, há indústria do mesmo tamanho existente em Campo Mourão, no Paraná, que processa 3 mil toneladas por dia, e outra em Paranaguá, no mesmo estado, com capacidade para processamento de 2 mil toneladas diariamente.
Presidente da cooperativa agroindustrial, José Aroldo Gallassini explicou ao Dourados News, na ocasião, que muito antes de lançar a pedra fundamental da obra, um amplo estudo de viabilidade econômica comprovou que o investimento na região estava de acordo com os interesses dos cooperados.
“A decisão por Dourados, como em todas as indústrias que nós fizemos, estamos na 10ª indústria, a gente faz um estudo de viabilidade econômica e onde der a gente vai. Não é só porque eu quero que vou para esse local. Deu Dourados em função do volume de soja que tem Mato Grosso do Sul e que vai crescer”, informou.
De acordo com a mais recente Pesquisa Agrícola Municipal, divulgada em setembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisas), nove dos 10 maiores produtores de soja de Mato Grosso do Sul estão no entorno de Dourados, distantes menos de 200 quilômetros. Juntos, esses municípios produziram mais de 5 milhões de toneladas em 2018, volume superior a 50% das 9.869.382 toneladas colhidas em terras sul-mato-grossenses naquela safra.
Contudo, em contraponto ao otimismo gerado na economia local por causa dos investimentos feitos pela Coamo, poucos dias antes, em 8 de novembro, começou a tramitar na 5ª Vara Cível de Dourados um processo no qual o representante da Copacentro (Cooperativa Agropecuária do Centro-Oeste), Tiago Vargas Mantuani, requer o pagamento de R$ 62.806.928,71 da antiga diretoria como indenização por danos morais e materiais a cooperados e credores prejudicados com a falência.
Eleito liquidante da massa falida pelos próprios cooperados durante assembleia extraordinária no dia 9 de agosto, ele informa ter apurado, no balanço de 31 de dezembro de 2018, um ativo de R$ 42.936.916,22 e um passivo de R$ 38.284.231,36. Porém, no dia 25 de julho deste ano, em Assembleia Extraordinária, diz ter sido apresentado pelos então gestores um déficit de R$ 40.673.488,00.
“Como entender uma evolução deficitária em curto espaço de tempo?”, questiona na petição inicial do processo, para decretar a resposta: “sem sombras de dúvidas, a má gestão dos administradores da Coopacentro”.
O liquidante aponta como “afetados pela má gestão” 65 cooperados, 45 credores não cooperados, 12 empresas credoras por aquisição de produtos (Milho e Soja), 13 empresas fornecedoras de produtos químicos e insumos que depositaram produtos, entre esses alguns credores que venderam, e cinco bancos credores por empréstimos.
Nessa ação, o juiz César de Souza Lima recebeu a petição inicial em despacho proferido no dia 11 de novembro, ocasião em que também determinou a intimação das partes para audiência de conciliação às 17h20 de 23 de janeiro de 2020. D.NEWS