Tem recém-casado que sonha passar a lua de mel em um resort no Caribe, fazer um roteiro romântico pela Provença ou se hospedar em um bangalô na Polinésia Francesa. Mas para o casal Arturo, de 36 anos, e Nathalia, 25, o destino perfeito para selar o casamento foi a maior “cidade” nudista do mundo.
Após se casarem no civil, em São Paulo, esses dois paraibanos de Guarabira, no interior do estado, passaram uma semana em Agde, na região de L’Occitanie, no sul da França.
Poderia até ser apenas mais um daqueles destinos paradisíacos na costa mediterrânea francesa, mas Cap d’Agde, onde ficaram hospedados, é um complexo turístico que funciona como uma espécie de mundo paralelo, onde as pessoas circulam peladas por ruas e estabelecimentos comerciais, como banco, restaurantes e até supermercados
“Em Cap d’ Adge, 99% das pessoas estão nuas. Foi como ter uma vida natural em uma cidade medieval. Era inacreditável, mas ninguém usava celular”, descreve o noivo, que atualmente vive com a esposa entre São Paulo e João Pessoa.
Com uma praia de dois quilômetros em meio às dunas, exclusiva para a prática do naturismo, o local chega a receber cerca de 40 mil visitantes no verão e tem diferentes opções de hospedagem, como vilas, campings, casas de aluguel e hotéis, cujas diárias para o casal, em agosto de 2021, vão de 205 a 1.550 euros (de R$ 1.236 a R$ 9.351, aproximadamente).
O acesso à vila naturista costuma ir de março a meados de outubro. Do lado de fora, porém, Agde é conhecida por seu centro histórico de ruelas medievais e por um dos mais originais banhos gelados de fim de ano nas praias da França, a única com proposta naturista.
Todo mundo nu
No interior da vila, a nudez é opcional, mas Arturo lembra que a tradição por ali é usar roupas transparentes ou com decotes, em bares e restaurantes. À noite, mesmo quando as temperaturas caem, sua dica é vestir-se “com o mínimo possível”.
É como vivenciar algo livre com a esposa, sem preconceitos. É uma experiência única que você não vive em lugar nenhum no mundo”
E para hóspedes despreparados para a ocasião, Cap d’ Adge tem lojas 24 horas para quem quiser comprar roupas mais ousadas. O destino é famoso também pelas casas de swing e discotecas eróticas.
Despir-se totalmente não foi uma barreira para o casal, que está por trás dos personagens “Arthur O Urso” e “Luana Kazaki”, no OnlyFans, plataforma de conteúdo adulto em que eles têm cerca de 5 mil inscritos que pagam US$ 9,99 mensais para acompanhá-los.
Autointitulados “coachs de relacionamento”, Nathalia e o marido se tornaram referência no mundo do swing “porque a gente mostra nosso estilo de vida sem cortes e sem edição”, explica Arturo.
Atualmente, o casal produz um documentário sobre cidades liberais, e a lua de mel na França foi como um laboratório.
Apesar de ser considerada um dos destinos mais liberais do mundo, Cap c’ Adge proíbe atos como sexo em público, cuja multa aos infratores pode chegar a 15 mil euros (R$ 90 mil, aproximadamente).
É o sonho de toda mulher ter uma vida padrão, mas a gente sempre gostou de viver essa forma livre e única”, explica Nathalia.
Apesar de se sentirem à vontade como vieram ao mundo, literalmente, eles acreditam que o único momento de constrangimento foi a abordagem por seguranças quando tiravam fotos.
“Só podíamos registrar lugares neutros, sem comprometer pessoas ou estabelecimentos comerciais”, conta Arturo, que também avisa que o não cumprimento dessa regra pode acarretar na expulsão do visitante.
Em nenhum momento me senti constrangida, até porque as pessoas estão vivendo suas vidas. Fui muito respeitada”, conta Nathalia.
Aliás, esses estabelecimentos exclusivos para naturistas já não são novidades e o público conta com resorts em destinos como a República Dominicana e a Jamaica.
Praticantes do naturismo desde que se conheceram, há seis anos, Arturo e Nathalia já tiveram experiências do gênero em locais como Tambaba, a primeira praia de naturismo do Nordeste brasileiro, no litoral sul da Paraíba, e em Tenerife, nas Canárias, na Espanha.
“Tanto no Brasil como na Europa, a cultura do naturismo é a mesma, o que muda é a paisagem das praias. Mas uma cidade inteira só para isso é único em Cap d’ Adge. É como viver como Adão e Eva, de uma forma completamente livre”, analisa Arturo.Surto de coronavírus
Com o relaxamento das regras de quarentena na França, no ano passado, Cap d’Agde ganhou destaque internacional quando 30% dos 800 naturistas testaram positivos para coronavírus.
De São Paulo, o casal de paraibanos voou até a Suíça, que recentemente liberou a entrada de brasileiros sem teste PCR ou quarentena e seguiu de trem até Nyon, próximo da fronteira com a França, onde tomou um ônibus até Agde.
Imunizado na Suíça com vacina de dose única, Arturo garante que fez uma viagem segura, seguindo todos os protocolos exigidos.
“Havia muito controle com relação ao coronavírus. Quando entramos no complexo foi preciso apresentar cartão de vacina e isso nos deu mais segurança”, conta Arturo. Porém ele avisa que, durante a estadia, não havia exigência de uso de máscaras nas áreas sociais do hotel. “Parece que não havia covid-19 no complexo”, completa.
Ainda assim, Arturo diz que está impactado até agora pela experiência.
“Eu não consigo explicar o que foi aquilo. Existe uma magia lá dentro que te faz prestar mais atenção nos detalhes. Foi uma coisa inacreditável”, finaliza.