Azambuja chora duas vezes, nega propina e atribui delação da JBS a ‘retaliação’
Por duas vezes, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) chorou nesta tarde, na entrevista coletiva em que negou todas as afirmações feitas pelos donos da JBS na delação premiada que provocou terremoto político no País, na semana passada, atingindo mais de 1,8 mil políticos, entre eles o presidente da República, Michel Temer (PMDB). Mato Grosso do Sul teve um capítulo específico em que os irmãos Joesley e Wesley Batista e ainda o diretor Valdir Boni afirmam que um esquema baseado em emissão de notas frias sustentou pagamento de propina de R$ 150 milhões a três governadores de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, André Puccinelli (PMDB) e Reinaldo Azambuja.
Na tarde desta terça-feira, o tucano disse novamente que é tudo mentira e atribuiu a uma retaliação da JBS, que, segundo ele, estaria incomodada com o aumento da carga tributária no governo atual. Reinaldo citou que, de R$ 40 milhões em 2014, o montante recolhido pela JBS teria aumentado para mais de R$ 140 milhões este ano. Ele falou dos números apenas de 2014, e de 2016, quando a empresa, segundo disse, recolheu R$ 73 milhões em impostos. Neste ano, prosseguiu, o volume teria mais que dobrado, ou seja,passado dos R$ 140 milhões.
De acordo com o governador, 31 unidades do grupo JBS têm incentivos fiscais no Estado, ou seja, redução da carga tributária, concedida como forma de garantir empregos e investimentos. “Nós mudamos a política de incentivos fiscais de Mato Grosso do Sul e a JBS dobrou os valores que recolheu ao Estado em 2017”, afirmou o governador, ao sustentar a ideia de uma retaliação com a delação premiada.
Aos procuradores do MPF (Ministério Público Federal), a JBS afirmou que o incentivo fiscal, nos três últimos governos, só era concedido no Estado mediante pagamento de propina. Para disfarçar o pagamento de valores irregulares, a empresa diz que eram emitidas notas frias, por pecuaristas e empresas, indicadas pelos governadores.
No caso de Reinaldo, o montante informado pela empresa passa dos R$ 38 milhões, com notas frias até do secretário de Fazenda, Márcio Monteiro, que é deputado federal licenciado e presidente do PSDB no Estado, e nega qualquer irregularidade.
Choro
Reinaldo falou nesta tarde sobre o assunto pela terceira vez. Havia se pronunciado por meio de nota, na sexta-feira, negando repasse irregular e dizendo que, na campanha, recebeu R$ 10,5 milhões oficialmente. No sábado, em Dourados, o governador classificou a delação da JBS como uma “piada”.
Nesta terça, acompanhado de todo o secretariado, da vice-governadora Rose Modesto, e da esposa, Fátima Azambuja, ele voltou a falar e demonstrou emoção, o que chamou atenção por fugir do perfil do político, sempre comedido. Ele chorou, primeiro, quando falou que tem 20 anos de vida pública, iniciada em 1997.
A segunda vez, quando ele chegou a embargar a voz e fazer silêncio, foi quando comentou que tudo que tem de bens pessoais vem da família, começando pelo bisavô. Nesse momento, alguém do staff do governador chegou a oferecer um lenço, recusado pelo governador. O apoio também veio da esposa, que segurou a mão de Azambuja.
Produtor rural, ex-prefeito de Maracaju, ex-deputado estadual e ex-deputado federal, Azambuja venceu Delcídio do Amaral nas eleições de 2014. Tem um dos maiores patrimônios entre os governadores, estimado em R$ 38 milhões segundo a declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral.