Aumenta em 18% os casos de depressão em MS, mas só dois hospitais funcionam
A falta de estrutura para atender pacientes diagnosticados com doenças psíquicas foi apontada em audiência Pública
Apenas dois hospitais psiquiátricos estão funcionando em Mato Grosso do Sul, enquanto o Estado registra aumento de 18% nos casos de depressão e doenças psicológicas nos últimos anos. A falta de estrutura para atender pacientes diagnosticados com depressão e com outras doenças psicológicas e psíquicas foi uma das principais dificuldades apontadas pelos participantes da audiência Pública “Depressão a Doença do Século”, realizada na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, por proposição do deputado Paulo Corrêa (PR).
Paulo Corrêa explicou que entre os encaminhamentos da discussão estão a união de forças com o Governo do Estado e Secretarias para aumentar o número de psicólogos e psiquiatras no atendimento a população; solicitação de implantação de novos hospitais psiquiátricos no Estado e desenvolvimento de ações para prevenção da depressão.
Ele apresentou dados sobre a depressão em Mato Grosso do Sul e no mundo, destacando o alto índice de suicídio entre pessoas diagnosticadas com depressão.
“Primeiro queremos fazer a conscientização porque depressão está matando mais do que muitas outras doenças e por isso precisa de uma atenção especial do Governo do Estado, das prefeituras, das autoridades. Na rede pública de saúde vamos tentar melhorar o atendimento psicossocial, com aumento de psicólogos e psiquiatras. As duas áreas mais atingidas do Estado são Segurança Pública e Educação. Já solicitei reuniões com o Governador Reinaldo Azambuja (PSDB), com o Secretário de Saúde Nelson Tavares, com o Secretário Municipal de Saúde e com o prefeito Marquinhos Trad (PSD) para que possamos fazer uma discussão sobre todos esses encaminhamentos. Queremos também implantar outros hospitais psiquiátricos para poder atender a demanda”, explicou.
Paulo Corrêa também anunciou a destinação de emendas parlamentar para garantir no Estado o tratamento de eletroconvulsoterapia para pacientes carentes que sofrem com a Depressão.
De acordo com o psiquiatra Juberty Antônio de Souza esse tipo de tratamento é extremamente eficaz contra a doença. O psiquiatra afirmou ainda que depressão em estado grave gera 20% de suicídio e a esquizofrenia gera 12%. Dentre os casos de alcoolismo e dependência química, 60% têm relação com a depressão.
“Existe doença mental sim, que mata e incapacita. De cada 100 pessoas adultas invalidadas para o trabalho, 11 são por depressão. Entre as 10 maiores doenças que incapacita para o trabalho, 5 são doenças psiquiátricas. E estima-se que daqui a 5 anos a depressão seja a doença mais prevalente. A depressão atinge o cérebro, causando sua alteração e hoje a depressão na criança e no adolescente também é uma realidade. Os deprimidos se matam porque querem deixar de sofrer. Depressão não é frescura, não é falta de caráter, não é falta de fé” disse ele, apontando que nos últimos anos 90 mil leitos psiquiátricos foram extintos no Brasil.
Juberty Classificou como criminosa a internação de pacientes nas UPA (Unidades de Pronto Atendimento) sem o tratamento adequado.
Para o deputado e médico, George Takimoto (PDT), que trabalhou no Hospital Psiquiátrico Franco da Rocha, é importante o aumento do número de profissionais das áreas de psicologia e psiquiatria no Estado para oferecer tratamento de qualidade aos pacientes.
“Percebi que o número de pessoas assistidas é infinitamente pequeno em relação às necessidades que o ser humano precisa. Essa audiência vai proporcionar para a sociedade Sul-Mato-Grossense um resultado muito bom”, disse ele.
Já o deputado Paulo Siufi (PMDB), que é médico pediatra e presidente da Comissão de Saúde da Assembleia, destacou o aumento de casos de depressão entre as crianças e adolescentes e a necessidade de intensificar a prevenção à depressão.
“Eu que sou pediatra tenho pacientes com depressão. Muitas pessoas se envergonham de dizer que tem depressão ou que alguém na sua família sofre de depressão. Quando fui vereador aprovamos na Câmara Municipal uma lei para diagnóstico precoce da depressão pós-parto e outra que instituiu a Semana Contra a Depressão em Campo Grande, mas até hoje não fizeram nada para colocar isso em prática. A depressão é sim a porta de entrada, não somente para o suicídio, mas para outras patologias que podem causar a morte”, disse.
Paulo Siuf e os deputados presentes na audiência vão apresentar na próxima semana um projeto de lei para instituir o Agosto Verde, mês que será dedicado à prevenção da depressão e de outras doenças psicológicas.
Palestrante na audiência, o deputado Pedro Kemp (PT) falou sobre depressão no trabalho, apontando os sinais mais comuns e a gravidade, que nem sempre é percebida. “Estamos assistindo a um crescimento do número de casos de depressão, inclusive com algumas tragédias. Muitos pacientes procuram primeiro o cardiologista porque sente taquicardia. Depois procuram um pneumologista porque sente dor no peito e ficam buscando soluções em diversos lugares. No Brasil no ano de 2013, 61 mil pessoas receberam auxílio doença em consequência da depressão, número 5% maior do que no ano anterior. A depressão incapacita para o trabalho”, disse ele.
Também palestrante na audiência, o assessor Parlamentar do Senador Pedro Chaves, José Roberto dos Santos Gomes, perdeu a esposa e o filho em dezembro de 2016. A médica Valquíria Feitosa Patrício Gomes, 31 anos, que sofria de depressão e esquizofrenia, se suicidou junto com o filho do casal, João Roberto, de 2 anos, dentro da casa onde moravam, em Campo Grande.
Durante a audiência José Roberto leu a carta deixada pela esposa, afirmando que embora a dor seja grande, ele quer ajudar outras famílias que sofrem com a depressão. “Nossa família era exemplo e eu não percebi a gravidade da doença, porque ela não me deixava perceber. Quero viver e ajudar outras pessoas”, disse emocionado.
A psicóloga Solange Giurizzatto Monteiro de Carvalho falou sobre os sintomas da depressão no dia a dia. De acordo com ela, as mulheres são as mais atingidas.
“As pessoas em geral emagrecem muito ou engordam, porque perdem o apetite ou ganham apetite. Isso é muito comum. Pode haver sono exagerado ou insônia, além de cansaço físico porque a pessoa perde a energia vital. Não tem energia nem para tomar banho ou escovar os dentes e pode ter queda de cabelo. Já os sintomas da mente são: pensar na realidade de forma destorcida, isolamento social, só ver o lado negativo das coisas e não conseguir se relacionar”, pontuou.
O psiquiatra Flávio Vieira de Freitas Junior, que atua em Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) no interior do Estado, disse que o preconceito com relação à depressão ainda é muito grande e também destacou a falta de profissionais da área no Estado.
“Na região de Naviraí eu atendo 25 cidades e a demanda é grande. O CAPS, que é composto de profissionais de diversas áreas, desenvolve um trabalho muito importante. Mas há falta de vagas e de profissionais. A eficácia do tratamento não depende só da medicação, mas de toda uma equipe multidisciplinar”, explicou. Segundo ele, Amambai é uma das cidades de MS com o maior índice de suicídio.
O médico urologista Jamal Salem criticou as ações do Ministério da Saúde. “A falta de tratamento vem do Ministério da Saúde. A política para área da saúde é um ‘faz de contas'”, disse ele.
Já a psicóloga Maria Cristina Leal de Freitas, do Hospital Psiquiátrico de Paranaíba, disse que o Programa de Saúde Mental a nível federal foi muito bem elaborado, mas não é colocado em prática e um dos fatores para isso é a falta de aceitação da doença.
Participaram da Audiência Pública psicólogos, vereadores, secretários Municipais de Saúde, estudantes, profissionais da área da saúde, e autoridades de diversas áreas.
Fonte: Campo Grandenews