Para manter o cérebro ativo por mais tempo e evitar uma série de doenças, desafiá-lo com novas atividades parece ser a melhor alternativa.
Existe uma teoria de que o sistema nervoso precisa ser estimulado de diferentes formas. Ou seja, as funções cognitivas como raciocinar, planejar ou memorizar não se perdem, nem se enfraquecem com o passar dos anos. Por isso, é preciso treinar o cérebro.
Em razão dessa comparação com a atividade física que trabalha os músculos em geral, inclusive o coração, surgiu o termo neuróbica (neurobics, em inglês), que designa o conjunto de exercícios específicos que ajudam o cérebro a funcionar melhor e que também podem ser utilizados para retardar o avanço de doenças que afetam as funções cognitivas, como o mal de Alzheimer. Esse problema atinge 7% da população mundial a partir dos 60 anos e responde por 50% das demências ou perdas cognitivas.
É provável que pessoas, digamos, mais capacitadas para realizar tarefas complexas, por exemplo, tenham um cérebro com mais sinapses que os outros. “Há a hipótese de que Einstein tenha feito o que fez não por ter mais neurônios, mas, sim, porque tinha um cérebro com mais sinapses do que o de uma pessoa normal”, diz Ivan Okamoto, do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia.
Como exercitar o cérebro
Escove os dentes, penteie o cabelo e escreva seu nome com a mão invertida.
Estude e pratique um novo idioma ou aprenda a dançar diferentes ritmos.
Execute alguma tarefa com a qual você não esteja acostumado.
Monte sempre um novo quebra-cabeça ou cronometre o tempo de execução dessa tarefa, repetindo a operação outras vezes.
Escolha uma frase qualquer de um texto e tente formar novas frases a partir das mesmas palavras.
Ande pela casa com os olhos fechados, imaginando o ambiente ao tocar os objetos.
Coloque o mouse do lado contrário em relação ao que você costuma usar ou o relógio no outro braço, para que, assim, você execute tarefas simples como digitar ou checar as horas de uma maneira diferente.
Vá ao supermercado sem uma lista e compre aquilo de que precisa recorrendo ao seu cérebro.
Leia um livro ou analise uma foto conhecida de cabeça para baixo.
Alimente seus neurônios
Ácidos graxos do tipo ômega-3, como atestam vários estudos, previnem doenças degenerativas do sistema nervoso. A recomendação diária desse nutriente, encontrado no salmão, no atum, na sardinha, em nozes e castanhas, por exemplo, é de 1,6 g. Se você comer 100 g ou uma posta de salmão diariamente (1,4 g de ômega-3), terá garantido praticamente toda a recomendação diária desse nutriente. “Outros nutrientes importantes que podem ajudar a retardar o envelhecimento precoce do cérebro são o ácido fólico, a niacina e o ferro”, diz Tânia Rodrigues, nutricionista da RG Nutri, consultoria em nutrição de São Paulo.
Carência de ácido fólico, presente nas folhas verdes e leguminosas (feijão, lentilha e soja), e de niacina, encontrada em ovos e carnes, pode provocar confusão mental. Já a falta de ferro causa anemia, que resulta na deficiência de transporte de oxigênio pelo sangue para todo o corpo, inclusive para o cérebro. E isso diminui o poder de concentração.
Novos desafios
Diante de uma nova situação, como o aprendizado de uma língua diferente, os neurônios do seu cérebro precisam se comunicar para que esse desafio seja vencido.
Pegando a memória como parâmetro, você só consegue resgatar as lembranças de um fato, como, por exemplo, onde aconteceu o seu primeiro beijo, porque o grupo de neurônios responsável pelo registro do acontecimento trabalhou direitinho no seu cérebro. Se você não viveu tal situação ou se as células nervosas não foram sensibilizadas a ponto de registrá-la por meio de sinapses (eis a explicação prática do motivo de algo ficar marcado na sua memória), não haveria a possibilidade de resgatá-la a qualquer momento.
Toda ação parte de um registro no cérebro, que transmite o estímulo do que fazer para as células de outras regiões, como as da musculatura do seu braço, que participam do movimento de arremesso da bola. Esse registro é feito por meio da repetição do ato. É como percorrer o mesmo caminho algumas vezes até conseguir seguir por ele quase automaticamente.
Quanto mais conexões são formadas, mais difícil fica para o cérebro construir outras. É por isso que ações inusitadas se tornam desafiadoras. Uma criança tem mais facilidade de aprender um novo idioma porque, ao contrário do adulto, não teve tempo suficiente para passar por vários tipos de situações capazes de desenvolver infinitas sinapses.
Quanto menos relações ou pontes forem estabilizadas entre os neurônios, mais fácil fica formar outras. “Mas isso não significa que não dá para aprender coisas novas, independentemente da idade. Como se sabe, aprender outra tarefa, por mais simples que ela pareça, como executar um novo passo de dança ou uma receita diferente de algum prato, é algo bastante saudável para o cérebro”, diz Raul Valiente, neurologista do Serviço de Neurologia Vascular da Unifesp.
Alto-astral na cabeça
Ter pensamentos positivos, sorrir, executar tarefas prazerosas e até mesmo seguir uma religião são coisas que também podem fazer bem ao cérebro e às funções cognitivas.
Atitudes ou condutas que o colocam para cima ou fazem com que você aceite melhor os dissabores da vida, não se martirizando ou sofrendo como um condenado, costumam combater o estresse ou algum outro problema que possa provocá-lo, caso da depressão ou da ansiedade.
“O estresse afeta as sinapses entre as áreas do cérebro relacionadas a raciocínio, capacidade de atenção e memória. Isso significa que pessoas estressadas têm mais dificuldade em realizar tarefas que exigem esforço mental, como fazer um cálculo ou decorar um texto”, diz Raul Valiente.
Se o estresse se torna crônico ou se não é bem administrado, seu cérebro não funciona adequadamente, e as atividades cotidianas ficam mais difíceis de ser realizadas. Portanto, seu sistema nervoso, além do coração, também agradecerá se você desenvolver mecanismos que combatam os efeitos nocivos daquela tensão sem fim. TERRA