As últimas “trincheiras” contra o avanço do vírus estão em rincões distantes, cidades com menos de 5 mil habitantes
assados 140 dias da confirmação do primeiro caso em São Paulo, o coronavírus só não havia chegado, até ontem, a cinco dos 645 municípios do Estado. As últimas “trincheiras” contra o avanço do vírus estão em rincões distantes, cidades com menos de 5 mil habitantes, sem leitos de UTI e, em caso de doença grave, as prefeituras teriam de mandar os pacientes para outras cidades. Juntos, esses cinco municípios somam 18,6 mil moradores.
São José do Barreiro, a 269 km da capital, na divisa com o Rio de Janeiro, tem barreiras instaladas na entrada e na saída da área urbana desde meados de março. Abrigando 4.174 moradores, encravada no Parque Nacional da Serra da Bocaina, atrai turistas pelas belas paisagens. Além do parque, estão fechados hotéis, pousadas e fazendas históricas.
“Mesmo com todo o trabalho, é um milagre estarmos sem casos, pois não há como impedir que os visitantes entrem, principalmente nos fins de semana”, disse a chefe de gabinete da prefeitura Beatriz Carvalho Martins.
Na mesma região, e a 190 km de São Paulo, Lagoinha, de 4.954 moradores, resiste ao vírus – que atinge com intensidade todas as cidades do entorno.
Além das barreiras que também a isolam, a prefeitura faz campanha para que as pessoas comprem no comércio local, evitando a saída para fazer compras em cidades maiores da região. A campanha deu certo. “As pessoas estão preferindo se abastecer por aqui mesmo para não correr risco, pois as cidades próximas estão com muitos casos”, disse o comerciante Carlos Eduardo Coelho, dono de um mercadinho. Parte do comércio não essencial já reabriu.
Em Florínea, funcionários da prefeitura foram treinados para fazer máscaras e a proteção facial foi distribuída a todos os moradores. “Entregamos casa por casa, para que ninguém alegasse que não tinha, e reforçamos a fiscalização”, comenta o secretário da Cultura, Ítalo Garcia. Ali vivem 2.676 pessoas, bem à margem do Rio Paranapanema, na divisa com o Paraná, a 484 km da capital. O rio atrai veranistas e pescadores. “Temos dois condomínios de chácaras que recebem turistas e adeptos da pesca esportiva nos fins de semana, mas fizemos um trabalho intenso com eles”, disse Garcia.
Outro foco de preocupação é a penitenciária, onde cumprem pena 1.701 presos, mais que a metade da população. “Instalamos barreiras, fechamos o comércio, mas no presídio a ação do município é limitada. Felizmente o vírus não entrou lá”, disse o secretário. Na fase laranja do Plano São Paulo, a cidade reabriu parte do comércio não essencial.
Em Ribeirão Corrente, na região norte, a 420 km da capital, os 164 anos da cidade, em junho, passaram em branco. A prefeitura fez um apelo para que os 4.718 moradores a homenageassem ficando em casa.
Na quinta cidade, Cruzália, com 2.073 moradores, a história é um pouco diferente. Um homem apresentou sintomas e o teste deu positivo para o vírus. Mas como o paciente é de outro município a prefeitura decidiu não fazer a contabilização – e a cidade se mantém sem coronavírus.
“O morador procurou nossa equipe de saúde com sintomas de gripe. Fizemos o teste rápido e deu positivo, mas ele retornou a sua cidade. O caso é de lá”, informou a prefeitura. Segundo o município, as pessoas que tiveram contato com o paciente foram contatadas e estão em isolamento preventivo.
Infectado
Até o início de julho, eram 12 as cidades ainda sem coronavírus no Estado. Em lugares onde todos se conhecem, a chegada do vírus assusta os moradores. Foi o que aconteceu em Jeriquara (4.873 habitantes), com o primeiro caso confirmado no dia 9.
O prefeito Eder Gonçalves (PSDB) fez live em rede social para tranquilizar a população, que exigia que o nome do infectado fosse revelado. “Imploro que mantenham o isolamento. Aqui todo mundo conhece todo mundo e um precisa cuidar do outro”, disse Gonçalves.
No dia 2, em boletim extra, a secretaria da Saúde de Arco Íris (1.791 habitantes), anunciou o primeiro caso. “A paciente trabalha na área de saúde em Tupã, cidade próxima, e só vem a Arco Íris para dormir”, disse a prefeita Ana Serafim (PTB). Como a mãe e duas crianças que vivem não pegaram o vírus, a prefeita decidiu pedir que no caso seja feito um novo teste. O município abriga 300 índios vanuíres, da etnia caingangue. Nenhum pegou o vírus.
Na segunda-feira, Nova Independência confirmou o primeiro caso entre seus 3.969 habitantes. Nesse mesmo dia, a prefeitura de Nova Canaã Paulista, onde vivem 1.881 pessoas, confirmou dois casos positivos e um óbito suspeito. No dia 13, foi a vez de Bonsucesso de Itararé confirmar o primeiro caso positivo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.