Após dias à deriva, mais de 600 imigrantes rejeitados por Itália e Malta rumam para a Espanha
Embarcação Aquarius irá enfrentar mais 4 dias no mar com imigrantes resgatados perto da costa líbia.
Foto de 9 de junho mostra imigrantes sendo resgatados pela tripulação do barco Aquarius, que faz buscas e resgates no Mar Mediterrâneo (Foto: Karpov/handout via Reuters) Foto de 9 de junho mostra imigrantes sendo resgatados pela tripulação do barco Aquarius, que faz buscas e resgates no Mar Mediterrâneo (Foto: Karpov/handout via Reuters)
Foto de 9 de junho mostra imigrantes sendo resgatados pela tripulação do barco Aquarius, que faz buscas e resgates no Mar Mediterrâneo (Foto: Karpov/handout via Reuters)
A embarcação Aquarius das ONGs SOS Mediterranée e Médicos Sem Fronteiras, e outros dois navios italianos que chegaram em apoio, transportam, partiram nesta terça-feira (12) para Valência, no leste da Espanha, com 630 imigrantes resgatados após 48 horas de indecisão devido à recusa de Malta e da Itália de recebê-los.
As centenas de imigrantes estavam à deriva no Mediterrâneo desde domingo (10) e enfrentarão mais quatro dias no mar até chegarem a terra firme na Espanha.
Resgatados ao longo da costa líbia entre sábado e domingo, estes imigrantes – entre eles sete mulheres grávidas, 11 crianças pequenas e outros 123 menores – foram divididos entre a embarcação humanitária Aquarius e dois navios italianos.
Desde domingo, o Aquarius estava bloqueado a algumas milhas da costa maltesa, diante da recusa dessa pequena ilha mediterrânea (e também da Itália) de abrir seus portos.
“As equipes estão aliviadas que uma solução esteja surgindo. Mas isso prolonga inutilmente o tempo passado para resgatados já vulneráveis”, comentou no Twitter a ONG francesa SOS Méditerranée, responsável pelo Aquarius.
Preocupação
Enquanto a espera se prolongava, muitos desses imigrantes temiam ser devolvidos para a Líbia, a ponto de os socorristas do “Aquarius” rodarem o navio, com mapas nas mãos, para lhes mostrar que estavam distante da costa da Líbia, contou uma jornalista do canal Euronews por telefone.
Presente desde fevereiro de 2016 nessa parte do Mediterrâneo, onde já socorreu quase 30.000 pessoas, o “Aquarius” estava desde domingo no centro de uma queda de braço entre Itália e Malta, até que a Espanha se oferecesse para recebê-los.
Preocupada com a duração da viagem, a SOS Méditerranée recusou a oferta espanhola em um primeiro momento.
Determinação
“A melhor solução será desembarcar as pessoas socorridas no porto mais próximo, de onde elas poderão ser transportadas para a Espanha, ou para um outro país seguro”, reagiu a ONG francesa Médicos sem Fronteiras (MSF), também presente no “Aquarius”.
A rejeição do ministro italiano do Interior e presidente da Liga (extrema direita), Matteo Salvini, foi determinante. “Salvar vidas é um dever. Transformar a Itália em um enorme campo de refugiados, não. A Itália não vai mais ceder e obedecer. Desta vez, TEM ALGUÉM QUE DIZ NÃO”, tuitou Salvini.
Matteo Salvini também alertou as demais ONGs que patrulham o litoral líbio, afirmando que todas serão tratadas da mesma maneira. Disse ainda que, para essas organizações, entre as quais nenhuma é italiana, o acesso aos portos italianos está proibido.
A declaração não intimidou a SOS Méditerranée, que declarou hoje que suas operações de resgate ao longo da costa líbia continuarão, logo que o “Aquarius” deixar a Espanha.
A Itália, que viu mais de 700 mil imigrantes desembarcarem no país desde 2013, acusa com frequência os europeus de terem-na deixado sozinha para lidar com a crise migratória.
Nesta terça, o presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou “o cinismo e a irresponsabilidade do governo italiano” nesse tema.
Já a ministra espanhola da Justiça, Dolores Delgado, reafirmou a decisão do novo governo socialista de que se trata de uma “questão de humanidade” e evocou a possibilidade de uma “responsabilidade penal internacional” dos Estados que se recusarem a acolher imigrantes.