- Com vendas acima do esperado, mercado vive descompasso entre oferta e demanda de produtos; volta à “normalidade” só deve acontecer em 2021
- Por Felipe Mendes6 out 2020, 08h29 – Publicado em 6 out 2020, 08h06
A pandemia do novo coronavírus causou uma ruptura entre abastecimento e consumo no mercado de vestuário do país. Como ainda não há uma forte presença da venda on-line neste setor, devido ao menor interesse do consumidor em comprar roupas à distância, o mercado estagnou nos meses mais severos da disseminação da Covid-19. Com as lojas fechadas, apenas uma pequena parcela do consumo migrou para a internet. Isso não foi suficiente para que as varejistas demandassem mais produtos da indústria devido à incerteza na retomada. Com a reabertura das unidades físicas, as redes de vestuário passaram, então, a registrar um avanço expressivo em suas vendas, o que causou atritos para a recomposição dos estoques. Falta matéria-prima hoje para suportar a demanda de um cliente mais ávido a tirar o atraso em seu vestuário. A escassez, sobretudo do fio de algodão, e o avanço nos preços da matéria-prima preocupam o varejo, que se vê desafiado para renovar os seus estoques exatamente quando se preapara para a época de festas, o período mais profícuo para toda a cadeia.
Com o avanço do dólar frente ao real, o preço da pluma do algodão para o consumo interno disparou, já que a cotação é baseada no mercado internacional. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, a Abit, entende que não há motivos para pânico. Como a cadeia de produção é longa, por mais que os preços para o produtor subam, é pouco provável que exista necessidade de repasse no valor do produto final. Mas Edmundo Lima, presidente da Associação Brasileira do Varejo Têxtil, a Abvtex, não pensa da mesma forma. “Começamos a perceber que o limite do que o varejo pode suportar em termos de redução de margens já foi ultrapassado”, diz ele. “Para não aumentar os preços dos produtos, as grandes varejistas estão em um momento de negociação. Mas os pequenos empreendedores, que têm lojas individuais, não têm esse poder de barganha.” Revista Veja