À medida que a Europa se move para reduzir sua dependência de agroquímicos no sistema agrícola nos próximos 10 anos, a biotecnologia agrícola surge e ganha espaço para substituí-los. Foi isso que afirmou Farhan Mitha, comunicador científico com sede no Reino Unido, com experiência no setor de biotecnologia e mestrando em genômica evolutiva.
“O uso de agroquímicos – pesticidas, fertilizantes e potenciadores de crescimento de plantas – tem sido crucial para a humanidade no último século. Eles permitiram que a produtividade agrícola acompanhasse o período mais drástico de crescimento populacional da nossa história e salvaram bilhões de pessoas da fome. No entanto, seu impacto no meio ambiente se tornou profundo demais para ignorar, e eles são cada vez mais vistos como instrumentos do século XX que não são adequados para os desafios do século XXI”, afirmou.
De acordo com ele, historicamente, a biotecnologia agrícola tem um relacionamento difícil com os reguladores da União Europeia, já que a regulamentação de culturas geneticamente modificadas (OGM) no continente está cada vez mais restritiva. “No entanto, a biotecnologia agrícola se estende muito mais do que apenas as culturas OGMs: os cientistas aplicaram a biotecnologia para criar uma gama de soluções biológicas para melhorar a maneira como cultivamos, sem violar as regulamentações existentes em torno da modificação genética das próprias culturas”, completa.
Um desses usos que estão surgindo são os feromônios aplicados ao controle de pragas. “Os feromônios são moléculas de sinal natural usadas por insetos que não são tóxicos, persistentes e atingem o objetivo de proteger as culturas, confundindo os insetos e impedindo-os de acasalar, em vez de matá-los”, explicou Irina Borodina, fundadora e CTO da BioPhero. “Além disso, a proteção de culturas baseada em feromônios é específica da espécie, o que significa que ela é limitada às principais pragas-alvo, deixando a biodiversidade intacta”, completou.
Outra prática é o biocontrole de proteínas, que são projetadas para atingir pragas e patógenos específicos. “A lhama é nossa fonte de inspiração. As lhamas e outros membros da família Camelidae, assim como os tubarões, têm um sistema imunológico específico com anticorpos muito mais simples que os humanos”, disse Patrice Selles, CEO da Biotalys. “A partir desses anticorpos, pode-se identificar pequenas proteínas [que] demonstram interessantes propriedades físico-químicas e estabilidade, com atividades biológicas eficazes”, explicou.
Por fim, o especialista cita o recrutamento de bactérias do solo. “É um tema que atinge regularmente as manchetes em relação às bactérias do intestino humano, que empresas de biotecnologia estão correndo para usá-las em intervenção terapêutica, mas também se tornou um ponto focal em pesquisa agrícola. As plantas, afinal, também têm um microbioma”, concluiu.
Fonte: Agrolink