(*) Alberto Dines
Os latinistas divergem: poderia ser brasiliensium, brasiliensis, brasilii. Injusto generalizar o nome do odiento mosquito e estendê-lo ao país onde se estabeleceu há mais de um século. Mais apropriado singularizar, batizar o “coisa ruim” com nome próprio.
Talvez aedes cunhensii? A verdade é que o nome Eduardo Cunha conseguiu o milagre de superar nosso contumaz facciosismo e se tornou irrestrito, universal, suprapartidário, igualmente abominado pela esquerda e direita. Oitenta por cento dos brasileiros atribuem a ele os males que atormentam atormentam. Se o impedimento da presidente da república é, felizmente, questão controvertida, portanto reversível — a necessidade de afastar o presidente da Câmara dos Deputados é ponto pacífico, unanimidade imediata.
Mesmo os tucanos com a sua orgânica propensão para as dúvidas estão convencidos de que a simples presença de Cunha compromete e macula o processo político por inteiro. Então por que se enreda o PSDB cada vez mais em suas ardilosas e indecorosas manobras?
Ser ou não ser, eis a questão, propôs Shakespeare, porem nossos hamletianos de plantão não se deram conta de que uma vergonhosa chantagem — como foi a abertura do processo de impeachment da Presidente – compromete vitalmente qualquer jogada tática por mais que se cultive o oportunismo como ferramenta política.
Se ao longo da sua história o PSDB sempre proclamou que os fins não podem justificar os meios, agora está moralmente impedido de embarcar numa aventura engendrada por um kamikaze que não se incomoda em desempenhar o papel de patife-mor. O partido que empunhou a bandeira da ética para desligar-se do viciado PMDB, não pode agora colocar-se a seu serviço. Nem a imprensa a ele atrelada pode ignorar seu papel na formação de uma nova geração de políticos e novas mentalidades.
Como apostar as fichas em Michel Temer, aliado habitual do PSDB paulistano nos embates com Orestes Quércia e, não obstante, parceiro do PT em troca de uma vice-presidência decorativa durante um mandato inteiro?
Quem garante que numa eventual transferência para o palácio do Planalto o atual ocupante do Jaburu não converta o seu semi-presidencialismo à la française, num híbrido com todos os defeitos do presidencialismo e nenhuma das vantagens do parlamentarismo?
E se, porventura, a presidente Dilma acatar os conselhos de José Sarney e armar um cronograma que permitirá entregar ao sucessor ou sucessora um regime integralmente parlamentarista — não seria uma alternativa menos arriscada, sem vencidos nem vencedores, com chance de produzir um sistema mais elaborado, sobretudo sem os inevitáveis sobressaltos de um traumático impeachment?
O aedes brasileiro – ou fluminense — precisa ser apeado imediatamente do poder. Para confrontar sua megalomania, melhor que seja humilhado, como costumava fazer o presidente Geisel com os generais que não obedeciam às suas determinações. Este inseto é um perigoso vetor para inúmeros vírus – alguns com letalidade ainda desconhecida – capaz de infectar e empestar qualquer ambiente ou ser vivo.
É a terceira praga que jogam sobre nós (depois da catástrofe de Mariana e o surto de microcefalia). Se não for prontamente erradicada seremos obrigados a purgar as outras sete.
(*) Jornalista do Observatório da Imprensa