Matheus Prado, do CNN Brasil Business, em São Paulo*
Joseph Safra, que morreu nesta quinta-feira (10) em São Paulo, era um dos homens mais ricos do Brasil. Segundo dados de 2020 da revista Forbes, o banqueiro possuia uma fortuna de R$ 119 bilhões, o que o colocaria no primeiro lugar do pódio nacional.
Já no ranking feito pela agência Bloomberg, Safra aparece como segundo mais rico do Brasil com uma fortuna estimada em US$ 17,6 bilhões (cerca de R$ 90 bilhões). Nessa lista, Jorge Paulo Lemann lidera a lista brasileira com US$ 23,7 bilhões (R$ 121 bi).
Seu José, como era chamado pelos mais próximos, nasceu em 1938 no Líbano e imigrou para o Brasil na década de 1960, para dar continuidade aos negócios de seu pai, construindo os sólidos alicerces do Grupo Safra, mais conhecido no Brasil como Banco Safra.
Sempre foi o mais conservador dos irmãos – um concorrente já o definiu ao Financial Times como um banqueiro que só empresta para quem não precisa de dinheiro. Ele era mesmo um dos preferidos dos milionários.
A cultura que Joseph impôs nos negócios da família imprimiu na marca Safra uma imagem de solidez e de que o banco é blindado a crises. Ao mesmo tempo, também fez com que o grupo demorasse mais do que os concorrentes para se ajustar às inovações do mercado.
Enquanto fazia negócios mundo afora, Joseph Safra também se dedicou à filantropia. Foi um dos maiores doadores dos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês, em São Paulo.
À Pinacoteca, ele doou esculturas de Rodin e ao Museu de Israel, em Jerusalém, o manuscrito original da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Durante a pandemia da Covid-19, o banco doou cerca de R$ 40 milhões para hospitais e Santas Casas.
A dinastia Safra
Antes de se juntar aos pais e irmãos em São Paulo, Joseph Safra concluiu os estudos na Inglaterra e chegou a trabalhar no Bank of America, nos EUA. Edmond, o mais velho dos nove irmãos, assumiu os negócios da família no exterior, enquanto Moise e Joseph ajudavam o pai no Brasil.
Em 1999, Edmond Safra foi assassinado no apartamento onde vivia com a mulher Lilly, em Mônaco, após um incêndio criminoso provocado por um de seus enfermeiros. A morte desencadeou uma briga familiar em torno da herança.
Sem chegar a um acordo para que Moise vendesse sua participação no banco, Joseph fundou o J. Safra, com as mesmas características e para atender aos mesmos clientes. Os dois só chegariam a um acordo em 2006.
A essa altura, perto de completar 70 anos, Joseph já começava a colocar em curso seu plano de sucessão, para entregar o comando dos negócios aos filhos. A troca de bastão, no entanto, acabou sendo adiada por causa da crise financeira global em 2008.
Expansão
Nos anos seguintes à crise, com a discrição que lhe era peculiar, Joseph surpreenderia o mercado com o anúncio de grandes negócios. Em 2012, comprou o banco suíço Sarasin, dobrando o volume de recursos sob sua administração.
Dois anos depois, junto com o empresário brasileiro José Luís Cutrale, entrou na disputa (e ganhou) por uma das maiores produtoras de bananas do mundo, a americana Chiquita Brands International, adquirida por US$ 1,3 bilhão.
Hoje, o conglomerado da família Safra inclui, além de bancos na Suíça, no Brasil e em Nova York, mais de 200 imóveis ao redor do mundo, entre eles o famoso Gherkin Building em Londres.
Nova disputa?
Casado com Vicky Sarfaty, o empresário teve quatro filhos, Jacob, Alberto, David e Esther, e 14 netos. Serão eles os herdeiros da fortuna do empresário, apesar de já terem demonstrado algumas discordâncias com o patriarca ainda vivo.
Joseph controlou oficialmente, até sua morte, os negócios do banco, mas já estava afastado do fluxo diário da operação. Com isso, seus filhos cuidavam da operação através de seus cargos no conselho de administração da companhia.
Jacob cuida da área internacional, David comanda os negócios de pessoa física e Alberto supervisionava as contas de pessoas jurídicas. Mas os dois últimos tinham visões diferentes para o futuro da companhia, o que fez com que Alberto, em último recurso, saísse da instituição para criar a Asa Investments.
(Esther chegou a trabalhar durante um ano do banco, e hoje é dona da escola judaica Beit Yaacov, em São Paulo)
(*Com informações do Estadão Conteúdo)