“2016 será o grande ano da maconha”, diz David Friedman, investidor do ramo
O mercado legal corresponde a no máximo 10% da movimentação do setor nos EUA. Quem investe na área conta com a expansão e o surgimento de novos produtos e serviços.
A venda legal de maconha bate recorde ano a ano nos Estados Unidos. Em 2015, foi da ordem de US$ 3,4 bilhões a US$ 5 bilhões, dependendo de quem faz o cálculo. Se contado o mercado negro, porém, a economia gerada a partir da Cannabis ultrapassa US$ 50 bilhões, pelas estimativas do executivo David Friedman. Ele é diretor-presidente da MJIC, uma empresa de investimentos e serviços de apoio para empresas do segmento.
Produtos e serviços associados à maconha representam novas possibilidades para investidores. Há necessidades variadas e muito específicas num setor que trabalha com uma matéria-prima ilegal na maior parte do mundo — cultivo, transporte, finanças, marketing, embalagens, processamento. De acordo com a consultoria New Frontier, especializada no ramo, o crescimento anual dessa indústria nos EUA é da ordem de 27% e a receita das companhias pode triplicar até 2020, chegando a US$ 15 bilhões (a revista americana Forbes tem estimativas mais modestas). No momento, apenas cinco estados americanos permitem o uso recreativo da planta — Colorado, Alaska, Oregon, Washington e Distrito de Columbia — e 23 consideram legal o uso para fins médicos.
Friedman acredita que 2016 será “o ano da maconha nos Estados Unidos”. Sua empresa criou uma bolsa chamada Marijuana Index, que inclui as ações relacionadas à planta. Bastante volátil, ele conta cerca de 150 empresas. Inclui grandes companhias listadas em bolsas de valores e pequenas empresas atuantes no segmento.
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Na onda do mercado emergente, Friedman explica a ÉPOCA as oportunidades e riscos ligados ao setor.
David Friedman, investidor de produtos e serviços ligados a maconha e diretor-presidente da MJIC. A empresa dele criou um índice para monitorar a evolução do setor (Foto: Divulgação)
ÉPOCA – A maconha ainda é um produto estigmatizado?
David Friedman – Sim, muito. Essa imagem está melhorando, mas a maioria das objeções que você escuta está relacionada à natureza ilegal (do negócio na maior parte do mundo). A grande consequência disso é colocar sua reputação em risco. Por isso, bancos e investidores institucionais não querem se envolver com o setor. Eles se preocupam com o estigma e com como isso se projetará nos clientes e investidores deles. De onde estávamos há dez anos caminhamos bastante, mas ainda há um longo caminho a seguir.
ÉPOCA – O desenvolvimento desse mercado pode tomar rumos diferentes com a eleição de Hillary Clinton ou de Donald Trump?
Friedman – Não penso que haverá um impacto caso Hillary ou Trump vençam. Ambos são neutros. Da perspectiva de um presidente… acho que tentarão evitar a questão da maconha. Vão jogar para os estados, como Obama fez, e ficarão longe disso. Acho que nas eleições seguintes, esse tópico será mais considerado. Mas é um assunto difícil.
ÉPOCA – Qual é a importância da economia da maconha?
Friedman – A demanda é grande, mas depende de qual economia você fala. O mercado legal é minúsculo, porque tudo vinha sendo feito pelo mercado negro, que gira em torno de US$ 50 bilhões, e provavelmente mais do que isso se você incluir os serviços associados. Só 10% desse total provém do mercado legal. Quase todo o dinheiro circula para comprar armas e colocar os cartéis nas ruas. Mas a demanda não irá embora. A questão é: a compra é legal ou ilegal?
ÉPOCA – Qual é o risco de investir nesse mercado?
Friedman – Um risco é o da sua reputação. O segundo é o risco com a lei, pelo fato de ainda ser ilegal (na maior parte dos estados americanos). Também há o risco bancário, que considero o maior. Não podemos ter serviços bancários normais e isso cria muitos riscos para os donos de negócios, que estão sentados no dinheiro, e para as companhias que tentam operar legalmente, pagando suas taxas, seus empregados. Eles constantemente precisam cair fora, porque suas contas bancárias são encerradas. Os bancos não estão autorizados a lidar com negócios de maconha porque eles ainda são ilegais (na maior parte do país), e o governo federal controla o sistema bancário.
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ÉPOCA – Qual é o perfil do investidor de maconha?
Friedman – O perfil do investidor de Cannabis hoje varia bastante. Você tem pessoas de 20 e poucos anos e pessoas na faixa de 60 ou 70. Em geral, são investidores de alto risco. Há investidores jovens que podem tomar esse risco ou investidores mais velhos, que lidam com o produto há décadas e entendem que ela [maconha] não é a droga psicótica que tentam ensinar a todos nos últimos 70 anos. Você está lidando com pessoas liberais que não têm medo de tomar risco e não têm preocupação em serem estigmatizadas, assim como em qualquer outra indústria emergente.
ÉPOCA – Como funciona seu negócio?
Friedman – O MJIC começou como uma típica companhia de investimento, levantando dinheiro de investidores na indústria de Cannabis. Mudamos no ano passado ao notar que era muito difícil nos mantermos apenas como uma empresa de investimento no setor, porque tudo era muito novo. Decidimos operar o negócio como uma empresa regular em vez de só levantar investimentos. Agora, atuamos em três divisões. Trabalhamos com todos os produtos e serviços para a indústria, de finanças a marketing e mídia. Tentamos focar em companhias que trabalham com produtos relacionados à maconha. Normalmente, não tocamos na planta. Providenciamos serviços que as pessoas que tocam na planta precisam. Podem ser embalagens, serviços de marketing e propaganda. Há uma gama de oportunidades e nós investimos em algumas delas.
ÉPOCA – Qual é a perspectiva para este mercado?
Friedman – 2016 será o grande ano da maconha, provavelmente o maior que já vimos. Muitas medidas aprovadas desde 2012 entram em vigor após um ou dois anos, e temos muitas outras em andamento. Cinco estados legalizaram a planta e 23 permitem seu uso medicinal. Oito estados discutem o uso recreacional ou adulto da maconha. Há mais por vir. A questão é o quão rápido isso vai acontecer.
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ÉPOCA – Sabemos os benefícios da legalização da maconha, como a diminuição do crime, mas que tipo de efeito negativo ela acarreta?
Friedman – Conheço pessoas que irão discordar da minha posição, mas acho que há malefício na existência da maconha e não na sua legalização. Drogas recreacionais de qualquer tipo causam dano. Se você não pode erradicá-las, acredito que o mais responsável a se fazer seja legalizá-las e regulá-las. É o que fazemos com álcool, tabaco e outras drogas — como medicamento, a maconha tem seus benefícios. Você não pode erradicar a planta. O malefício do mercado negro é muito maior para a sociedade do que o de um mercado regulado, na minha opinião.
ÉPOCA – Em um país extremamente violento como o Brasil, que efeitos a legalização poderia gerar? O que podemos aprender com os Estados Unidos?
Friedman – É uma grande questão e precisa ser analisada. Há um temor de que a legalização, ao retirar a distribuição das mãos dos criminosos e cortar seus negócios, possa gerar uma reação violenta. Chicago, em particular, temia isso. Até agora, não há registro de que a violência tenha aumentado nas comunidades que legalizaram, mas penso que países são diferentes e que pode não ser o caso do Brasil. Acho que, no longo prazo, qualquer aumento da violência será curto porque o mercado negro se deslocará para outras drogas ou maneiras irregulares de ganhar dinheiro. A proibição do álcool (nos EUA) trouxe mais violência com a guerra de facções criminosas do que a própria revogação, mas isso foi há muito tempo.
ÉPOCA – Qual a maior inovação na indústria da maconha atualmente?
Friedman – É engraçado — em muitos casos, fazer negócio nessa indústria é como fazer negócio nos anos 1980, com máquinas de fax e papéis. Você está lidando com uma indústria que operou muito tempo nas sombras, mas que conseguiu inovar muito. Acredito que a principal inovação seja simplesmente a legalização por si só e a normalização de negócios a partir de práticas e tecnologias utilizadas em outros setores por anos. Especificamente no setor, eu diria que a inovação mais significativa vem dos vários esforços para padronizar os componentes psicoativos da droga, para que haja menos flutuação de pessoa para pessoa, como isolar os (compostos) terpines e o CBD (canabidiol) do THC (tetraidrocanabinol), e misturá-los de uma forma previsível. Há muita expectativa quanto ao aperfeiçoamento disso.
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