Opresidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, decidiu reforçar o controle nas fronteiras com o Brasil. A preocupação é com a situação de cidades binacionais e fronteiriças onde existem casos de covid-19 do lado brasileiro, e não no uruguaio.
Lacalle Pou esteve hoje (6) no departamento de Cerro Largo, acompanhado pelo ministro da Defesa, Javier García, e pelo comandante em chefe do Exército, Gerardo Fregossi. Eles visitaram o destacamento militar localizado na cidade de Noblía, perto de Aceguá, fronteira com Brasil. As visitas fazem parte da estratégia de percorrer a fronteira e reforçar as medidas de controle, colocando autoridades sanitárias permanentemente nas zonas limítrofes, e desenvolvendo um protocolo preventivo para proteção da população uruguaia.
“Maior atenção, cautela, cuidado, presença sanitária uruguaia na fronteira, porque sabemos que existem infecções. O grande problema é evitar uma infecção maciça para que a capacidade de saúde do país não fique saturada. Hoje, felizmente, estamos muito longe dessa saturação”, disse o presidente uruguaio.
O assunto foi tema de uma reunião, ontem (5), entre Lacalle Pou e vários auxiliares, entre os quais o secretário da Presidência, Álvaro Delgado; o secretário adjunto, Rodrigo Ferrés; os ministros do Interior, Jorge Larrañaga, e da Saúde, Daniel Salinas; o chanceler Ernesto Talvi, e o presidente da Administração de Serviços de Saúde do Estado, Leonardo Cipriani.
O ministro da Saúde visitou hoje as cidades de Artigas e Bella Unión para trabalhar na coordenação entre os sistemas de saúde público e privado do Uruguai e do Brasil. Na última segunda-feira, a cidade de Rivera foi visitada. Río Branco e Chuy serão inspecionadas proximamente.
O Uruguai tem seis cidades fronteiriças com acesso a municípios brasileiros: Rivera (no Uruguai) e Santana do Livramento (Brasil); Artigas e Quaraí; Río Branco e Jaguarão; Bella Unión e Barra do Quaraí; Chuy e Chuí; Aceguá e Aceguá.
O presidente deu instruções aos ministros para que aumentem os controles, tanto nas fronteiras formais quanto em rotas secundárias que são usadas como atalhos para driblar os controles aduaneiros. Lacalle Pou solicitou ainda protocolos e diretrizes claras para a população das zonas limítrofes.
Em Santana do Livramento, por exemplo, há 19 casos confirmados do novo coronavírus, de acordo com as informações do governo do Rio Grande do Sul. Já na vizinha Rivera, no lado uruguaio, ainda não há nenhum caso registrado, assim como em Artigas (fronteira com Quaraí, que tem quatro casos e uma morte).
Na Ponte da Concórdia, que liga as cidades de Artigas e Quaraí, foi instalado um sistema de desinfecção usado durante a febre aftosa para os usuários desinfetarem os calçados. Além disso, a temperatura corporal é monitorada com termômetros infravermelhos.
O Rio Grande do Sul tem, até o momento, 2.030 casos confirmados da covid-19 e 83 mortes. A população do estado é de 11, 29 milhões. O Uruguai, que tem apenas 3,5 milhões de habitantes, registra 670 casos da doença e 17 mortes.
Uma das preocupações do governo é com o início da colheita de cana-de-açúcar, que ocorre no fim de maio na cidade de Bella Unión. Todos os anos, cerca de 300 brasileiros entram no Uruguai para trabalhar na colheita da cana. Segundo o secretário da presidência, há previsão de apicação de testes e de adoção de medidas de segurança sanitária, como uso de máscaras faciais e distanciamento físico.
“Vamos realizar testes maciços para quem chega do Brasil e, apesar de ainda não estar totalmente decidido, queremos fazer testes aleatórios durante toda a colheita [da cana]. A capacidade de nos anteciparmos, em quase em todas as áreas do governo, mas principalmente no sanitária, é fundamental”, disse Lacalle Pou.
“Queremos trabalhar preventivamente para que haja uma colheita com garantias para os trabalhadores e a população de Bella Unión. É por isso que estaremos em contato com todos os atores da cadeia, com autoridades locais, sindicatos, empresas, prefeitos e autoridades de saúde, para que, juntos, tenhamos as garantias e controles necessários para uma colheita sem problemas de saúde e sem perigo de infecções em uma área onde não há casos”, afirmou Álvaro Delgado.
Apesar do Uruguai ter proibido a entrada de estrangeiros, no contexto da emergência sanitária, os residentes de localidades que fazem fronteiras com o Brasil são exceção, pois frequentemente vivem de um lado e trabalham de outro lado da fronteira. No Chuí, por exemplo, apenas uma avenida divide o lado brasileiro do uruguaio, sendo uma única cidade, o que dificulta enormemente o controle.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Talvi, entrará em contato com o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, para tratar da questão. “Acima de tudo, porque existem casos confirmados no Brasil, e não no Uruguai. Queremos preservar essa situação”, afirmou Delgado. O secretário ressaltou a conscientização dos uruguaios e os rígidos controles sanitários como fator determinante para que não haja casos de contaminação em cidades binacionais.