- BBC News, Karonga
- 15 setembro 2024
Emily Nkhana, uma pequena agricultora no norte do Malawi, costumava jogar fora as bananas que estavam maduras demais ou simplesmente deixá-las apodrecer, até encontrar um uso lucrativo para elas: o vinho de banana.
O calor extremo estava fazendo as bananas amadurecerem rápido demais, resultando em grandes perdas para Emily e diversos outros agricultores que vivem no distrito de Karonga.
“Então descobrimos como fazer vinho de banana”, conta ela à BBC, enquanto descasca os limões usados para preservar o sabor das bananas na planta de processamento da Cooperativa Twitule.
Para os agricultores, não se trata apenas de fazer vinho, mas também de sobrevivência, resiliência e de abraçar as novas possibilidades que vêm diante das mudanças climáticas.
O cultivo era feito perto das margens do Lago Malawi. Mas, com aumento do nível das águas causado pelo aumento das chuvas, as plantações de banana passaram a ser inundadas, forçando os produtores a migrar para terras mais altas, mas mais quentes, onde as temperaturas chegam a 42°C.
“Na antiga fazenda, nosso desafio era a grande quantidade de água do lago. Algumas das bananas se afogavam na água, ou nem conseguíamos ver onde tínhamos plantado. Aqui em cima, temos calor demais. Isso faz com que nossas bananas amadureçam muito rápido e sejam desperdiçadas”, diz Emily.
Ela faz parte de um grupo de mulheres unidas pela cooperativa para melhorar suas condições econômicas por meio da agricultura.
A produção de vinho é um empreendimento de pequena escala nos quintais dessas mulheres, onde elas plantam bananas.
O processo de vinificação acontece em um pequeno complexo com uma casa de quatro cômodos na vila de Mchenjere.
E é bem simples: as bananas maduras são descascadas, cortadas em pedaços pequenos, pesadas e misturadas com açúcar, fermento, passas, água, e cobertas com limões.
A mistura é então deixada para fermentar por várias semanas, transformando a polpa da banana em um vinho potente e aromático, contendo 13% de álcool – semelhante ao vinho feito de uvas.
“É um vinho de ótima qualidade. Você tem que bebê-lo sentado para poder aproveitar o sabor doce”, diz Emily.
Vinho de banana pode soar como algo incomum para quem está acostumado aos sabores do vinho tradicional. Para quem experimenta, no entanto, ele é tudo menos decepcionante.
Com uma coloração que pode variar de amarelo claro a âmbar, o vinho tem um sabor levemente doce e frutado, geralmente com um aroma sutil e um leve sabor de limão e banana.
“É suave e leve, quase como um vinho de sobremesa”, diz Paul Kamwendo, um entusiasta de vinhos local que se tornou um dos maiores fãs de vinho de banana em Karonga.
“Eu não tinha ideia que era possível fazer vinho com bananas.”
Para Emily e seus colegas, a chave para um bom vinho de banana está no equilíbrio entre doçura e acidez.
“O momento certo é tudo”, diz ela. “Você tem que saber quando as bananas estão no melhor ponto. Se estão muito maduras, o vinho se torna muito doce. Se estão muito verdes, fica muito azedo.”
A ascensão do vinho de banana no Malawi foi recebida com entusiasmo por produtores e consumidores.
Nos mercados locais, garrafas de vinho de banana, vendidas a US$ 3 (cerca de R$ 17), tornaram-se comuns, com vendedores ansiosos para mostrar as últimas criações.
“Vendemos em mercados por todo o Malawi, na capital Lilongwe e na maior cidade, Blantyre, e está sempre esgotado”, diz Tennyson Gondwe, presidente-executivo da Community Savings and Investment Promotion (Comsip), uma cooperativa que treinou as mulheres na produção de vinho com qualidade e sabor.
Emily diz que fazer vinho, em vez de apenas vender bananas – que muitas vezes acabam desperdiçadas -, transformou sua vida e a de outras mulheres.
“Algumas de nós construímos casas, algumas têm gado, outras têm galinhas. Podemos nos dar ao luxo de comer refeições decentes.”
A cooperativa Twitule produz entre 20 e 50 litros de vinho por mês e espera comprar máquinas para ajudar os produtores a expandir.
“Queremos produzir mais vinho. Queremos mudar desta pequena casa de produção para uma fábrica”, diz Emily.
E o grupo tem planos ainda maiores: a cooperativa pediu à autoridade competente do Malawi para aprovar o produto para exportação.
“As pessoas estão curiosas”, diz Emily, sorrindo enquanto mexe a mistura de vinho, preparando-a para a fermentação. “Eles querem saber qual é o gosto. E, quando experimentam, ficam surpresos com o quão bom é.”