Jato de fuga de Ghosn também transportou ouro venezuelano

Empresa revela detalhes de como os voos foram fretados e diz que o nome do ex-titã da indústria automobilística não está nos registros.

Bloomberg News03/01/2020 – 15:24 / Atualizado em 03/01/2020 – 16:31

O jato Bombardier Global Express, registrado como TC-TSR, foi um dos utilizados por Ghosn na fuga do Japão para o Líbano Foto: MNG Jet
O jato Bombardier Global Express, registrado como TC-TSR, foi um dos utilizados por Ghosn na fuga do Japão para o Líbano Foto: MNG Jet

ISTAMBUL — Quer transportar toneladas de ouro ou levar um ditador a um lugar seguro? Precisa tirar um executivo da prisão domiciliar e transportá-lo clandestinamente para o outro lado do mundo? A empresa escolhida por Carlos Ghosn para sua audaciosa fuga do Japão foi uma operadora de voos charter turca cujas aeronaves ajudaram a fazer tudo isso e muito mais.

PUBLICIDADE

Dois aviões operados por uma unidade da MNG Holding, um conglomerado com serviços de hotelaria, finanças e transporte, fizeram a rota tortuosa de Osaka para Istambul e depois Beirute, transportando secretamente Ghosn para seu país de origem, segundo uma autoridade turca.

Embora os detalhes ainda estejam sendo revelados, a dramática fuga chama a atenção para a empresa e para o mundo privado dos voos charter. O governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, usou aeronaves da MNG para enviar ouro para Istambul. Reza Zarrab, um trader de ouro que violou as sanções dos EUA ao Irã, recorreu à empresa para administrar seu avião particular.

Os jatos fretados oferecem aos clientes uma capa de privacidade. Os aviões geralmente pertencem a um grupo, mas são operados e administrados por uma empresa especializada. Ainda assim, é possível rastrear os números e registros da cauda, parcialmente quebrando o sigilo. Foi assim que o nome da MNG surgiu na trama de Ghosn.

PUBLICIDADE

— Tenho certeza de que estão no radar de todos agora — disse Michael Burton, advogado especializado em direito do comércio internacional.

A MNG Jet diz que os clientes podem fazer o que quiserem com a aeronave fretada, desde que não seja ilegal. No entanto, a empresa afirmou que abriu um processo criminal relacionado aos voos de Ghosn que, segundo a MNG Jet, significaram “ o uso ilegal de seus serviços de fretamento de jatos ”.

“Da mesma forma que uma agência de aluguel de carros, a MNG Jet aluga aviões e não se responsabiliza pelo que os passageiros fazem com eles”, escreveu a empresa em resposta por e-mail a perguntas. “De acordo com o código da aviação internacional, não é papel, responsabilidade e direito da MNG Jet investigar as razões por trás das viagens ou verificar o conteúdo da bagagem transportada pelos passageiros nos aviões”.