Frio extremo, como o atual, também pode ser um fruto da crise do clima

Segundo especialistas e estudos, em alguns locais e momentos, o frio extremo também pode ser associado à crise do clima.


Antes de mais nada, é importante ressaltar que não é simples apontar as relações entre um fenômeno específico -como a atual onda de frio- e a crise climática.


“Nesse fenômeno [onda de frio] é muito cedo para dizer. Temos que esperar que o evento termine e aí começamos a fazer pesquisa”, afirma José Marengo, climatologista e coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, sobre a crise do clima.


Exatamente para tentar resolver isso foram desenvolvidos os chamados estudos de atribuição. Eles tentam identificar qual peso a mudança do clima tem sobre eventos extremos, como secas e ciclones. Assim, os cientistas são capazes de apontar se o aquecimento global tornou mais provável um determinado evento.


Para isso, esses estudos de atribuição fazem modelagens climáticas que comparam e simulam o clima mundial, com e sem crise, permitindo observar as incidências de determinados eventos extremos. Pela complexidade, esse tipo de pesquisa não necessariamente é rápida, dificultando análise de fenômenos em andamento.


Mas, de toda forma, sabe-se que a crise do clima tem relação com eventos extremos dos mais diversos tipos. Um exemplo já estudado são invernos extremos nos EUA. Um estudo recente publicado na revista Science mostrou como o aquecimento do Ártico -resultado das mudanças climáticas-, em determinados momentos, interfere e enfraquece o vórtex polar Ártico, no norte do planeta. Quando isso ocorre, o ar extremamente gelado pode escapar em direção ao sul e causar frio intenso na América do Norte e na Ásia. O exemplo mais recente e impressionante disso foi o da onda congelante que atingiu o Texas, em 2021.


Apesar de um exemplo extremo como esse, de forma geral, a crise climática deve diminuir as ondas de frio e sua intensidade ao redor do globo. De toda forma, em alguns casos, elas podem ser mais extremas.
Ao mesmo tempo, graças ao aquecimento global, diz Artaxo, podemos esperar ondas de calor e secas mais frequentes e intensas. “O que a gente está alterando é a estatística, a probabilidade desses eventos ocorrerem”, afirma o pesquisador.


Em São Paulo, Isaías de Faria, 66, morador de rua, morreu na quarta-feira (18) no núcleo de convivência São Martinho de Lima, no bairro do Belém, na zona leste de São Paulo. Segundo informações, ele tinha passado a noite na rua e morreu logo após entrar no centro de convivência, por volta das 8h.


Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo), foi a madrugada mais fria (chegando a 7°C, com sensações térmicas menores, devido ao vento) para um mês de maio desde o início da medição, em 2004, há 18 anos.


Uma dúvida que pode surgir para algumas pessoas é: se o aquecimento é global, por que temos ondas de frio? O ex-assessor da Presidência e pré-candidato ao Senado Arthur Weintraub questionou a mudança do clima em suas redes sociais esta semana, inclusive. “Os globalistas falavam em ‘aquecimento global’ pra justificar seus atos. Fez muito frio. Então, agora a ameaça que eles dizem existir é a ‘mudança climática'”, escreveu ele.


O aquecimento global se refere a um aumento na média da temperatura do planeta, o que não significa que alguns locais e momentos não possam ter momentos de mais frio, inclusive intenso. Na média, porém, os anos continuam mais e mais quentes.


Os dados mostram que a temperatura média global já subiu mais de 1,1°C na comparação com a era pré-industrial. A causa desse aumento é a emissão de gases-estufa, como CO2, que retêm o calor gerado na atmosfera e fazem o planeta esquentar.


A atual onda de frio no país tem um toque inusual, com o ar frio invadindo a área equatorial e cobrindo uma parte considerável do Brasil e outros países da América do Sul.


Francisco de Assis Diniz, chefe do centro de previsão do tempo do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), afirma que poucas vezes se viu uma ocorrência tão ampla desse nível de frio. Ele cita alguns anos em que casos semelhantes ocorreram, como em 1955, 1975, 1985 e 2000. No ano passado, houve duas ocorrências semelhantes.


Segundo ele, frios extensos e intensos como o visto no Brasil esta semana -houve locais com recordes históricos- são mais comuns em anos de La Niña, como o atual. O fenômeno causa um esfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical e, além das temperaturas, influencia também o regime de chuvas.


O chefe do centro de previsão do tempo do Inmet afirma que o frio atual espalhado pelo país também tem participação da tempestade subtropical Yakecan, que intensificou uma já forte massa de ar frio e acabou a empurrando para a região mais central do continente.