Desde julho de 2021, o estoque de moeda estrangeira no Brasil já caiu US$ 20,1 bilhões
As reservas internacionais já acumulam uma queda de US$ 20,1 bilhões em pouco mais de um ano, para US$ 326,3 bilhões. Essa “queima”, no entanto, tem pouca relação com intervenções do Banco Central e na verdade é fruto da desvalorização do euro, que perde força em meio ao risco de uma recessão na Europa.
O Brasil, assim como outras economias, possui ativos em moeda estrangeira para evitar que o país passe por crises externas, como faltar dinheiro para realizar transações internacionais. Essas reservas ficam denominadas em dólar, já que é a moeda da principal parte dos ativos investidos.
O último dado atualizado sobre a composição das reservas brasileiras é de 2021. O estoque era composto por 81,5% de ativos referenciados ao dólar, mas havia uma parcela de 12,2% em euro. É essa parcela que é atingida pela desvalorização do euro frente ao dólar.
Quando o assunto é a variação do estoque desses recursos, os dados do Banco Central (BC) mostram que, nos 12 meses encerrados em julho, o saldo sofreu uma variação negativa de US$ 9,2 bilhões. Pelos números, é possível saber que a principal responsável por essa oscilação foi a queda no preço dos ativos que compõe esse “colchão de liquidez”, com perda de US$ 24,3 bilhões. Nesse período, o euro se desvalorizou em 12,8%.
Parte desse rombo foi mitigado pela remuneração que as reservas receberam no período – esses recursos, em geral, ficam aplicados em títulos de dívida de outros países.
“Grande parte da redução das reservas é mais por variação de posições do que intervenções no mercado de câmbio. Nesse caso, o BC não tem como evitar, foi algo orgânico”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
O BC informa também um dado mais atualizado, mas que mede somente o comportamento total das reservas, sem detalhamento do impacto dos preços das moedas. Por esse número, entre agosto do ano passado e o dia 11 deste mês, esses recursos caíram US$ 20,1 bilhões. O euro nesse período perdeu 18,1%.
Ainda firmes e fortes
Apesar desse tombo, as reservas internacionais do Brasil continuam bem reforçadas, mesmo que já tenham perdido US$ 64 bilhões desde o seu recorde, que foi em 25 de junho de 2019, quando atingiu US$ 390,5 bilhões.
Esse volume todo, no entanto, traz custos: para ter todo esse montante reservado para períodos de dificuldade, o governo emite título da dívida.
Em um momento de taxa elevada – a Selic está em 13,75% ao ano -, o custo de carregar esses recursos em moeda estrangeira sobe, dado que essa taxa é muito maior que o valor da remuneração desse estoque – os juros nos Estados Unidos estão entre 3% e 3,25% ao ano e, na Zona do Euro, pouco mais de 1%.
“Existe um custo para manter esses dólares à disposição. Mas é como o seguro de um carro. É um colchão para absorção de choques externos”, explica Sanchez.
A Argentina, por exemplo, tem menos de US$ 40 bilhões em reservas e é um dos motivos para o governo adotar medidas que evitam uma saída ainda maior de dólares do país.
Para Fabrizio Velloni, Frente Corretora, o Brasil poderia chegar a um meio termo, de ter reservas ainda suficiente para lidar com crises externas, mas abaixo do patamar atual para não arcar com o custo de rolagem dessas reservas.
“Não precisamos de uma reserva tão alta. Esse estoque dá credibilidade para o exterior? Dá, mas há outros fatores que poderiam ajudar, como um controle maior dos gastos públicos”, conta.
Em sua avaliação, é justamente a falta de um controle maior sobre os gastos públicos é que deve contribuir para uma maior pressão sobre a cotação do dólar no curto prazo. A volatilidade seria aliviada, no entanto, se o vencedor do pleito de 30 de outubro detalhasse os planos para a área fical.
“Isso não iria fazer o dólar depreciar, mas tiraria um pouco da volatilidade da moeda em um momento que o cenário externo preocupa”, diz.
A última grande atuação do BC no mercado de câmbio foi em dezembro – na ocasião, isso retirou US$ 6,3 bilhões das reservas, um valor bem menor que o impacto da desvalorização do euro.
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