Hadley Vlahos encena situações comuns (e desafiadoras) para quem acompanha pessoas em seus momentos finais
Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro
Ela é um fenômeno no TikTok, com 1.7 milhão de seguidores, mas o assunto que rendeu tantos fãs à enfermeira Hadley Vlahos está longe de ser popular: o fim da vida. Especializada em cuidados paliativos, dedica-se a pacientes terminais e, no livro “The In-Between: Unforgettable Encounters During Life’s Final Moments” (em tradução livre, “A passagem: encontros inesquecíveis durante os momentos finais da vida”), conta a história de pessoas que assistiu até o último suspiro, entre elas a sua sogra. Lançado no meio do ano, ficou 13 semanas na lista de best-sellers do jornal “The New York Times”, mas não mudou a rotina da profissional, que continua morando nos arredores de Nova Orleans com o marido e os três filhos.
A enfermeira Hadley Vlahos: sucesso nas redes ao falar do fim de vida — Foto: Divulgação
Sua missão é garantir que o paciente fique confortável, com o mínimo possível de dor, e que os familiares também se sintam acolhidos nesse processo, que pode demorar meses. Já presenciou casos inusitados: gente que começa a ver e conversar com parentes falecidos, ou doentes acamados há anos que, de repente, se levantam. Nem todos estão internados em hospices e seu trabalho inclui visitas domiciliares: “sempre acabamos nos aproximando”, explica.
Hadley afirma que quis escrever o livro para abordar temas que não são discutidos no curso de enfermagem. Ela abraçou os cuidados paliativos quando tinha apenas 24 anos, mas não lhe faltava experiência familiar com a morte: os avós maternos eram embalsamadores e tinham uma funerária. No TikTok, encena situações comuns (e desafiadoras) para quem acompanha pessoas em seus momentos finais. Num dos vídeos, telefona para uma mulher para avisar que a mãe dela está morrendo. A filha diz que sofreu abusos durante anos e que as duas não têm qualquer relação, mas se emociona e concorda quando a enfermeira lhe pergunta se gostaria de ser avisada quando a mãe falecer. Responde a perguntas e enfatiza a importância da naturalização do assunto:
“Vivemos numa cultura na qual mesmo quando alguém recebe o diagnóstico de uma doença terminal, insistimos que a pessoa tem que continuar lutando. A família não pergunta se seu ente querido prefere ser enterrado ou cremado porque ninguém quer dizer: ‘você vai morrer, o que quer que a gente faça?’”.
Diante da corrida da ciência para expandir os limites da longevidade, dá seu testemunho: “não quero viver até os 120 anos. Já passei bastante tempo com pessoas perto dos 100 ou centenárias para saber que, quando começamos a enterrar nossos filhos, estamos prontos para ir”. Em entrevista recente, deu uma resposta surpreendente, e sábia, ao ser perguntada sobre o que seria uma boa morte:
“Quero um funeral em vida. Não quero que os outros digam qual é a melhor memória que têm de mim depois que eu me for. Muitos pacientes imaginam que ninguém se importa com eles mas, quando vou ao seu funeral, ouço inúmeros elogios e lembranças bonitas. Gostaria que tivessem ouvido isso antes de morrer”.