Você se recusa a tomar a “vacina chinesa” contra a Covid-19? Então precisa estar preparado para essa conversa…
Por Thiago Tanji
No século 16, quando as caravelas mal tinham atracado no Brasil, a China produzia e comercializava cerca de um quarto de todas as riquezas do mundo. Sendo uma civilização com mais de quatro mil anos de idade, o país participava havia séculos do comércio global e exportava diferentes tipos de produtos manufaturados, como seda e porcelana. Não por acaso, os chineses chamam o país de Zhōngguó, que significa “Nação do Centro” — uma referência ao seu papel de protagonista.
O rápido crescimento econômico nas últimas décadas e a conquista do papel de potência do século 21 não deveriam causar tantas surpresas aos olhares ocidentais. Afinal, a vocação histórica da China é a de produtora e comerciante de bens e tecnologias. “Políticas industriais extremamente agressivas, com metas conduzidas pelo Estado, tornaram-se motor de produtividade e crescimento para ganhar mercado, exportar e investir”, explica Diego Bonaldo Coelho, doutor em Administração e professor das instituições FIA e ESPM.
Com a nova política econômica inaugurada em 1978 por Deng Xiaoping, o país asiático ampliou sucessivamente a base de sua produção industrial, diversificando as mercadorias fabricadas e melhorando sua qualidade. “Não dá mais para pensar em dinâmicas de serviços, agronegócio e indústrias manufatureiras sem a presença da China”, considera Coelho.
Principal parceiro comercial do Brasil e responsável por 19,9% das nossas importações em 2019, o país asiático já deixou para trás a ideia de que o selo “Made in China” indicava produtos baratos e de baixa qualidade. Atualmente, os chineses enviam ao mercado brasileiro bens que vão desde chips e circuitos eletrônicos para diferentes tipos de máquinas até componentes para a fabricação de medicamentos (ou seja, a vacina contra a Covid-19 produzida pela Sinovac Biotec é apenas um dos muitos itens da área de saúde que vêm de lá).
Além de estar presente com diferentes tipos de produtos manufaturados, como aparelhos eletrônicos e outras mercadorias, a China tem participação importante na indústria automotiva: do total de importações ao Brasil feitas em 2019, 1,7% dos produtos foram peças para veículos. Em outras palavras, você pode até não gostar do Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949, mas é praticamente impossível que algum produto do seu dia a dia não tenha relação com a economia chinesa. “Não conhecemos a China como deveríamos, e existe uma visão com viés preconceituoso ou até racista e xenófobo, o que é muito perigoso”, destaca o professor. Subestimar um país que tem quatro mil anos de história, afinal, não costuma ser algo muito prudente.