Hoje nós sabemos que a Lua provavelmente se formou a partir de um impacto colossal ocorrido nos primórdios do Sistema Solar
Ela ilumina nossas noites, movimenta nossas marés e nossos romances. A Lua, nossa companheira cósmica, sempre fascinou a humanidade, inspirando mitos, lendas, canções e paixões. Mas, para além do seu encanto poético, a Lua também é um objeto de estudo científico fundamental para a compreensão da história do nosso planeta e do Sistema Solar. E um dos enigmas que mais intriga os cientistas que estudam o astro é: como a Lua se formou?
Ao longo da história, diversos mitos e teorias tentaram explicar a origem do nosso satélite natural. Na mitologia finlandesa, a Lua teria surgido a partir da clara dos ovos de pata que Ilmatar, a Deusa do Ar, teria deixado cair. Para os esquimós, a Lua seria uma jovem menina que teria fugido para o céu para escapar das implicâncias do seu irmão que vivia perseguindo a garota. Aqui no Brasil, os tupis acreditavam que a Lua teria sido criada por Tupã para iluminar a escuridão da noite que ele acabara de inventar.
Hoje nós sabemos que a Lua provavelmente se formou a partir de um impacto colossal ocorrido nos primórdios do Sistema Solar. Mas essa história não foi inventada por alguma mente criativa como as lendas místicas contadas por nossos ancestrais. Ela só pode ser contada hoje graças a séculos de estudos, cientistas determinados, desenvolvimento tecnológico e uma aventura sem igual!
Quando não se pode observar ou reproduzir em laboratório algo como a formação da Lua, a Ciência trabalha levantando hipóteses e buscando evidências que possam reforçar, comprovar ou descartar uma ou outra ideia.
Surgiram então algumas hipóteses, como a da Fissão, que propunha que a Lua teria se desprendido da Terra devido à rápida rotação do nosso planeta. Uma teoria interessante, mas que não se sustenta na Matemática. Os cálculos mostraram que para isso acontecer, a Terra teria que girar mais rápido do que uma patinadora artística.
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Outra teoria, a da Captura, sugeria que a Lua, vagando pelo Sistema Solar, teria sido capturada pela gravidade da Terra e se tornado nossa companheira. Uma ideia até válida, mas que encontrava dificuldades para explicar a órbita quase circular da Lua e o fato dela estar se afastando do nosso planeta a cada ano.
Já a Teoria da Coacreção defendia que a Terra e a Lua teriam se formado juntas, a partir do mesmo disco de poeira e gás que originou o Sistema Solar. Uma teoria simples e que foi uma das mais aceitas pela comunidade científica até a metade do Século XX, mas que carecia de evidências para comprová-la, e é aí que essa história se encontra com a história da maior aventura da humanidade.
A melhor forma de tentar compreender a origem da Lua seria ir até lá e trazer um pedacinho dela para que nossos cientistas analisassem. E quando Armstrong, Aldrin e Collins retornaram de sua viagem épica em 1969, é que os mistérios da formação da Lua começaram a ser desvendados.
As rochas trazidas pela Apollo 11 e por outras 5 missões que pousaram em nosso satélite natural apresentavam uma grande semelhança com as rochas terrestres. Isso não apenas descartava a Teoria da Captura, mas também foi o ponto de partida para o ressurgimento de uma teoria revolucionária para a origem da Lua: a Teoria do Grande Impacto.
Essa teoria para a origem da Lua foi proposta inicialmente em 1946 por Reginald Daly, da Universidade de Harvard. Ele sugeriu que a Lua poderia ter se formado a partir de um impacto de um grande objeto com a Terra. Essa teoria não ganhou muita atenção até que ela foi resgatada em 1975 pelos cientistas William Hartmann e Donald Davis.
Eles sugeriram que a Lua se formou há 4,5 bilhões de anos, a partir dos detritos resultantes de uma colisão entre a Terra primitiva e outro planeta do tamanho de Marte, que posteriormente foi denominado Theia. A energia liberada no impacto vaporizou parte da crosta terrestre e lançou uma enorme quantidade de detritos no espaço. Esses detritos, ao longo de milhões de anos, se aglutinaram, formando a Lua.
A Teoria do Grande Impacto se encaixava como uma luva para explicar diversas características da Lua, como sua órbita inclinada, sua composição química similar à da Terra e distintas de outros objetos conhecidos do Sistema Solar. A Lua é composta essencialmente por rochas silicatas equivalentes às encontradas no manto terrestre, mas tem um núcleo ferroso 4 vezes menor que o do nosso planeta, o que afastaria a hipótese da Coacreção.
Mesmo não conseguindo reproduzir o evento em laboratório, modelos computacionais que simulam o impacto entre a Terra e Theia reforçaram a plausibilidade da teoria. Mas a prova definitiva veio das amostras de rochas lunares trazidas pelas missões Apollo, entre 1969 e 1972.
Além das semelhanças químicas entre as rochas lunares e terrestres, a baixa quantidade de elementos voláteis, como água, nas amostras trazidas da Lua, reforçava a ideia de um impacto colossal que teria vaporizado esses elementos.
As missões Apollo, também deixaram na Lua instrumentos científicos que continuam a fornecer dados valiosos sobre a estrutura interna do nosso satélite, como sismógrafos que detectam os “tremores lunares”, permitindo aos cientistas estudar a composição e a história geológica da Lua.
A Teoria do Grande Impacto revolucionou a nossa compreensão sobre a formação da Lua e do próprio Sistema Solar. Mas a Ciência continua! Recentemente, novas simulações mostraram que esse processo pode ter sido bem mais rápido do que se imaginava. A Lua teria se formado apenas algumas horas após o impacto com Théia. Uma eficiência de fazer inveja até aos empreiteiros chineses.
A história da formação da Lua é um exemplo de como a Ciência, movida pela curiosidade humana, busca desvendar os mistérios do Cosmos e entender melhor o nosso lugar no Universo. E se a Lua sempre atraiu a atenção da humanidade, com a Ciência ela se torna ainda mais fascinante e apaixonante!
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