Ataque contra Cristina Kirchner: o que se sabe e o que falta esclarecer

Fernando André Sabag Montiel, brasileiro que vive em Buenos Aires, apontou pistola para o rosto da vice-presidente, mas arma não disparou.

Por g1 — São Paulo

Cristina Kirchner, vice-presidente da Argentina, foi vítima de um ataque a tiro na noite desta quinta-feira (1º), em Buenos Aires. O atirador, um brasileiro de 35 anos, apontou uma pistola para o rosto de Kirchner, mas arma não disparou.

Alberto Fernández, presidente do país, classificou o ataque como “o mais grave desde 1983, quando o país voltou a ser uma democracia”. Ele também declarou feriado nacional nesta sexta-feira (2).

Abaixo, leia perguntas e respostas com o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso.

Quem é Cristina Kirchner?

Atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner tem 69 anos e já governou o país por dois mandatos — em 2007, quando sucedeu seu falecido marido, Néstor Kirchner (morto em 2010), e em 2013, quando foi reeleita. A administração dos Kirchner, a chamada “era K”, começou em 2003, no desfecho de uma severa crise econômica, e durou 12 anos.

Durante seu primeiro mandato, Cristina tinha Néstor como seu principal aliado e conselheiro. O ex-presidente morreu em outubro de 2010 vítima de um ataque cardíaco. Apesar das insistentes recomendações médicas para que reduzisse o nível de tensão após duas intervenções coronárias.

Cristina Kirchner na sacada de sua casa em 23 de agosto de 2022 — Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Cristina Kirchner na sacada de sua casa em 23 de agosto de 2022 — Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Néstor e Cristina, que militaram juntos na ala juvenil do peronismo dos anos 1970 e se casaram em 1975, tinham um estilo confrontativo e decisivo de governar, com discurso considerado populista.

Kirchner está sendo julgada por corrupção ligada a contratos públicos concedidos no início dos anos 2000. Os promotores acusam a vice-presidente de participar de um esquema para desviar dinheiro público quando ocupava a presidência do país. Segundo a promotoria, empresários que participavam do esquema faziam contratos com o Estado e repassava uma parte das verbas a então presidente.

Ela, que nega as acusações, pode enfrentar uma sentença de 12 anos de prisão e possível desqualificação para cargos públicos se for condenada.

Quem é o atirador?

Fernando Sabag Montiel, de 35 anos, nasceu em 13 de janeiro de 1987, reside no bairro de La Paternal, em Buenos Aires, e tem permissão para trabalhar como motorista de aplicativo na Argentina. O documento do brasileiro obtido pela Polícia Federal mostra que ele nasceu em São Paulo, mas que não é filho de brasileiros e que vive desde o começo da década de 1990 no país vizinho.

Segundo o blog da Andréia Sadi, as primeiras informações do Itamaraty são de que o atirador seria de São Paulo, filho de mãe argentina e pai chileno, que teria sido expulso do Brasil em 2021.

–:–/–:–

Cristina Kirchner: quem é o suspeito de tentar matar a vice-presidente da Argentina

Montiel tem antecedentes por porte de arma ilegal não-convencional. Em 17 de março de 2021, ele alegou “segurança pessoal” ao ser flagrado com um facão de 35 cm.

De acordo com o site “Infobae”, vizinhos definiram Montiel inconstante, propenso a dizer “tolices” e que tem o hábito de esperar músicos famosos em hotéis.

Montagem de fotos com imagem da arma apontada para Kirchner e o rosto do atirador — Foto: Handout / TV PUBLICA / AFP; C5N

Onde aconteceu o ataque?

O atentado aconteceu quando Kirchner acenava para apoiadores na frente de sua casa, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires. A vice-presidente conta com uma equipe de segurança de 100 policiais federais.

Como aconteceu o ataque?

As imagens mostram que Montiel aparece de gorro preto entre as pessoas que aguardavam a chegada de Kirchner em frente à sua casa. O brasileiro estica o braço esquerdo e aponta a pistola na altura da cabeça da vice-presidente. Também é possível ouvir o gatilho antes do disparo.

Kirchner, ao ver a arma, chega a se abaixar. Ela continuou a assinar livros, a tirar fotos e a cumprimentar as pessoas após o ataque, como se nada tivesse acontecido.

Qual foi a motivação do ataque?

Ainda não se sabe qual foi a motivação. Também não há informações sobre um possível depoimento ou declarações do brasileiro à polícia argentina.

O que aconteceu com o atirador?

Os seguranças de Kirchner conseguiram deter Montiel com a ajuda dos militantes que estavam em volta da vice-presidente. Em seguida, o brasileiro, que tem antecedentes policiais, foi preso.

Segundo o ministro da Segurança da Argentina, Aníbal Fernández, a situação ainda vai ser analisada. “Agora a situação tem que ser analisada pelo nosso pessoal da [polícia] Científica para avaliar os rastros e a capacidade e disposição que essa pessoa tinha.”

Qual foi a arma usada?

A arma de calibre .38 estava carregada com cinco balas, mas falhou na hora do disparo.

Arma apreendida pela polícia após tentativa de assassinato contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner — Foto: Reprodução

Arma apreendida pela polícia após tentativa de assassinato contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner — Foto: Reprodução

O que aconteceu após o ataque?

Fernández, o presidente da Argentina, declarou feriado nacional nesta sexta-feira (2).

“Decidi declarar feriado nacional para que, em paz e harmonia, o povo argentino possa expressar-se em defesa da vida, da democracia e solidarizar-se com nossa vice-presidente”, anunciou durante pronunciamento em rede nacional.

“Estamos diante de um fato com uma gravidade institucional e humana extrema. Atentaram contra a nossa vice-presidente e a paz social foi alterada“, afirmou o presidente, acrescentando que “este atentado merece o mais enérgico repúdio de toda a sociedade argentina e de todos os setores políticos”.

Juan Manzur, o chefe de gabinete da Casa Rosada, a sede da presidência da Argentina, convocou uma reunião de ministros para esta sexta-feira (2). Segundo informaram fontes da Chefia de Gabinete ao site “Infobae”, a reunião será realizada a partir das 8h30 no horário de Brasília.

“Hoje mais do que nunca temos a obrigação e a responsabilidade de defender a democracia, o diálogo, o consenso e a paz social”, declarou Manzur em uma rede social logo após o ataque.