A espera do empresário pela recuperação da mulher ganhou repercussão na cidade, já que ele ficava todos os dias sentado na porta do hospital com uma garrafa de água quente para o seu chimarrão, na esperança de que Cristiane se recuperasse.
O diagnóstico de Covid-19 da esposa foi feito no dia 4 de julho. Três dias depois, o médico decidiu interná-la. “Ela estava com 20% dos pulmões comprometidos, então ele achou melhor interná-la. Mas infelizmente ela piorou”, conta o agora viúvo. “Ela foi intubada e, por causa da gravidade, decidiram encaminhá-la para a capital. Eu decidi ir junto porque os filhos ficaram tomando conta da nossa mecânica [empresa].”
Hahn ficou hospedado em um hotel a 600 m do hospital. “Então todos os dias eu ficava esperando ela acordar. Por mim, eu ficava 24 horas ao lado dela, mas, por conta do protocolo de segurança, não podia.”
A espera pela esposa fez com que ele ganhasse admiração de quem passava pelo hospital, observando o homem de cuia de chimarrão nas mãos.
Em um dos dias, conseguiu liberação para uma visita. “Graças a Deus o hospital preparou todo um protocolo para que eu a pudesse visitar e conversar com ela.”
As visitas, então, se tornaram mais frequentes. “Todos os dias eu conversava com ela, todo dia pedia para ela acordar, segurava a mão dela para mostrar que eu estava presente.”
O empresário conseguiu se despedir de Cristiane. “Ela derrubou duas lágrimas, a primeira quando eu cheguei e a segunda quando me despedi”, lembra, emocionado.
No dia 4 de agosto, recebeu a notícia de que ela havia morrido. “A diretora ligou para o médico e depois disse que ele viria nos atender. Quando ele chegou, pelo semblante eu já sabia que algo ruim tinha acontecido.”
O viúvo disse que a sua permanência em frente ao hospital para esperar Cristiane foi acontecendo naturalmente. “Cada pessoa que parava para conversar torcia muito para que ela acordasse. Elas ficavam emocionadas com a minha história. E isso é bom.”
A primeira semana, conta, tem sido difícil pela ausência de Cristiane. “Eu vou lembrar sempre com carinho dela e a certeza que vivemos um grande amor. Tínhamos nossas brigas como qualquer casal, mas a gente se amava e construímos uma bela família.”
Encontro no Paraná Hahn conta ter conhecido a esposa em Ampere, no Paraná. Passou de moto na frente de onde Cristiane estudava. “Ela passou por mim e eu fui atrás para saber quem era. Ela me mandou um recado dizendo que não estava interessada em namorar. Aí que eu disse que queria ela”, disse sorrindo. “Quando é difícil, aí que a gente tenta mais.”
O ano era 1996. Ele tinha 27 anos e ela, 17. Namoraram, e logo se casaram. Decidiram se mudar para Mato Grosso, em busca de emprego. “Eu decidir vir pra cá. Ela não queria, tanto que só foi me visitar dois meses depois. Porém, veio e nunca mais voltou.”
“A minha tristeza é que a gente sempre batalhou, trabalhamos muito. Nossa vida era só trabalho para dar uma vida melhor para nossos filhos. Aí, quando montamos nosso negócio e estávamos ajeitando nossa vida, acontece essa tristeza”, lamenta ele.
Da união com Cristiane, criaram três filhos. “O que fica é uma família linda, com três filhos educados e trabalhadores. Fica a sensação de um homem realizado.”
A quem acompanhou a espera solitária, ele agradece e faz um pedido: “Aproveite cada segundo ao lado de quem vocês amam. Digam que amam, que gostam, abracem, beijem. Porque do nada você pode não ter mais essa pessoa do seu lado. Então não tenham vergonha de dizerem o que sentem e agradeçam todos os dias por estar com que vocês amam”.