O russo tem como aliado na UE o húngaro Viktor Orbán, que alega que a política de sanções de Bruxelas prejudica mais a economia dos países europeus do que Moscou
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Vladimir Putin deu nesta segunda-feira (18) uma rara declaração reconhecendo os efeitos das sanções do Ocidente contra a Rússia. “Tendo consciência das dificuldades colossais que enfrentamos, buscaremos novas soluções de maneira inteligente”, disse o líder russo, ao citar o setor de alta tecnologia, a um conselho de desenvolvimento estratégico. “É um desafio imenso para o país.”
Ele afirmou que a Rússia deve priorizar a construção de tecnologias próprias e o apoio a empresas de rápido crescimento, mas acrescentou que isso não deve implicar isolamento em relação ao resto do planeta.
“No mundo atual, não é possível isolar as coisas com um compasso e erguer um muro enorme”, disse ele. “Simplesmente não é possível.” Ainda segundo Putin, as restrições a produtos de alta tecnologia estão “sendo deliberada e intencionalmente usados contra” a Rússia.
As declarações se deram em meio a discussões realizadas pelos membros da União Europeia (UE) sobre acatar recomendação do Executivo do bloco e aplicar o sétimo pacote de sanções contra Moscou. Desta vez, a medida visaria a proibição de importação do ouro russo, entre outras coisas.
O chefe da diplomacia do bloco, o espanhol Josep Borell, defendeu na sexta (16) que o mecanismo seria crucial para combater a Guerra da Ucrânia. Ele disse que, desde o início da invasão militar, mais de 1.200 pessoas e cem organizações russas foram alvo dessas medidas da UE.
“As sanções atingiram substancialmente a economia russa, privando o país do acesso aos mercados financeiros e a produtos de tecnologia avançada, prejudicando a indústria petrolífera, as companhias aéreas, as indústrias militar e automotiva”, afirmou Borell em um comunicado. “Elas funcionam.”
Essa é justamente a percepção que Putin diz querer combater. “Está evidente que isso representa uma grande mudança para o nosso país, mas não vamos desistir e mergulhar na desordem ou, como alguns preveem, retroceder décadas”, afirmou, a membros do governo.
O russo tem como aliado na UE o húngaro Viktor Orbán, que alega que a política de sanções de Bruxelas prejudica mais a economia dos países europeus do que Moscou -tendo em vista principalmente a questão da exportação de gás natural, usada como instrumento de pressão pelos russos.
Países como a Alemanha, temem o bloqueio total do gasoduto Nordstream, hoje em manutenção, em especial depois que a Rússia já interrompeu o fornecimento a Bulgária, Polônia, Finlândia, Holanda e Dinamarca. Com esse contexto, a UE fechou um acordo que ampliará as importações do Azerbaijão, e a Itália ensaia fazer o mesmo com a Argélia.
Dmitri Peskov, assessor do Kremlin, ecoou a leitura de Putin durante entrevista a uma emissora de TV do Irã -o presidente russo deve viajar a Teerã nesta semana, naquela que seria sua segunda viagem ao exterior desde o início da guerra.
“Talvez seja esse o preço que tanto a Rússia quanto o Irã têm de pagar por sua independência e soberania. O que não mata, fortalece”, disse, referindo-se às sanções do Ocidente, que chamou de medidas ilegais perante o direito internacional.
Enquanto Moscou viu restrições se intensificarem na guerra, o Irã é alvo de sanções internacionais devido a seu programa de desenvolvimento de armas nucleares. O país tenta amenizar as restrições por meio da possível retomada do acordo nuclear de 2015, cujas cláusulas foram reiteradamente desrespeitadas.
RÚSSIA MIRA MÍSSEIS DE LONGO ALCANCE
No front da guerra, o ministro da Defesa russo, Seguei Choigu, ordenou a forças pró-Rússia que priorizem a destruição de mísseis de longo alcance e armas de artilharia da Ucrânia.
Ele afirmou que os equipamentos -muitos doados por países do Ocidente- estariam sendo usados para bombardear áreas civis no Donbass, o leste russófono do território ucraniano, e incendiar campos de trigo e silos de armazenamento de grãos.
Na cidade de Toretsk, na província de Donetsk, ao menos seis pessoas morreram durante um bombardeio russo, anunciou o Serviço Estatal Ucraniano para Situações de Emergência. Ataques também foram relatados em Mikolaiv (sul), bem como nas regiões de Kharkiv (nordeste) e Dnipropetrovsk (centro-leste).