Os municípios de Japorã e Coronel Sapucaia se destacam no mapa da pobreza de MS.

Os municípios no extremo sul-fronteira de MS (Porto Murtinho, Japorã, Coronel Sapucaia), é onde está se concentrando o “cinturão da pobreza” ou já quase calamidade.

Mato Grosso do Sul é um Estado rico !!! Um dos maiores no Agronegócio e exportador ao Mundo. Mas, isto ou a riqueza é para muito poucos no Estado e ou mesmo os dividendos nem ficam na região e faz ou tem uma população pobre em ao menos metade dos 79 municípios, que abrange também cerca de 50% dos 2,7 milhões de Sul-mato-grossenses. Hoje, MS tem nove cidades na pobreza extrema (Porto Murtinho, Japorã, Coronel Sapucaia, Maracaju, Bandeirantes, Itaporã, Naviraí, Santa Rita do Pardo e Terenos). E a situação é crítica em outras 36, perfazendo mais de 1.240 milhão de pessoas em situação de pobreza.

A crise econômica e o desgoverno federal, com alta nos preços de itens básicos como alimentação, energia elétrica e combustíveis aliado ao aumento do desemprego desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020, agravaram drasticamente o cenário. Em um ano e meio, mais de 200 mil pessoas foram inseridas no CadÚnico (Cadastro Único do Governo Federal). Em novembro de 2020, o total de pessoas de MS inscritas era de 1.038 milhão. Desde então o gráfico vem em uma escalada crescente, chegando a 1.240 milhão em abril de 2022, último dado disponível pelo Ministério da Cidadania.

Assim, atualmente, quase metade da população do Estado é considerada de baixa renda e necessita do auxílio de programas sociais para sobreviver. A situação fica ainda mais crítica quando olhamos para os municípios do interior, que chegam a ter 70% de seus moradores nesta situação. Os municípios no extremo sul-fronteira de MS (Porto Murtinho, Japorã, Coronel Sapucaia), é onde está se concentrando o “cinturão da pobreza” ou já quase calamidade, mesmo ao lado ou com município sendo de grandes áreas produtoras, mas exportadoras do Agronegócio.

Os municípios de Japorã e Coronel Sapucaia se destacam no mapa da pobreza de MS, sendo que ambos têm atualmente mais de 70% da sua população em situação de pobreza. A situação mais grave vem da fronteira com o Paraguai. Porto Murtinho aumentou em 745% o número de famílias em situação de extrema pobreza. Em 2020, apenas 90 famílias viviam em extrema pobreza, segundo dados do CadÚnico, mas esse número chegou a 761 famílias em abril de 2022.

Das 79 cidades do Estado, 36 delas têm mais de 50% da população inscrita no CadÚnico, ou seja, em situação de pobreza. O CadÚnico inclui aqueles que ganham até meio salário mínimo por pessoa (R$ 606) ou até 3 salários mínimos de renda mensal total familiar (R$ 3.636).

Desigualdade social alarmante

A população de Porto Murtinho é estimada para o município é de 17.460 pessoas, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados do Ministério da Cidadania mostram que, do total de habitantes, 42,3% são considerados de baixa renda atualmente. A economia da cidade gira em torno basicamente da agropecuária, porém, o projeto da Rota Bioceânica tem voltado os holofotes para o município, que deve receber investimentos milionários para se tornar rota do Brasil para os portos do Chile.

Já um exemplo de alarme social é Maracaju, que em dois anos viu o número de famílias em extrema pobreza crescer 117,1%, chegando a 532 famílias nessas condições em abril de 2022. No município, que é o principal produtor de soja de Mato Grosso do Sul, com 932 mil toneladas na safra 2021/22, o percentual de famílias em pobreza e extrema pobreza soma 61,9% da população. A cidade também é considerada a mais rica do Estado, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Outros cinco municípios que têm economia pautada no agronegócio estão nessa lista de aumento superior a 100% no número de famílias em extrema pobreza – Bandeirantes (104,9%), Itaporã (123,9%), Naviraí (114,5%), Santa Rita do Pardo (131,8%) e Terenos (117,7%).

Atualmente, apenas três municípios contam com menos de 30% da população em situação de pobreza, sendo eles Itaporã, Sonora e Maracaju. Em comum, as três cidades tem o agronegócio como principal atividade econômica. Itaporã e Maracaju inclusive estão entre as 100 cidades mais ricas do Brasil, de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Mas não são só elas. Outras oito11 cidades de Mato Grosso do Sul foram listadas pelo Mapa no início de 2022, como as mais ricas do país, consideram a produção agrícola. Ponta Porã, Sidrolândia, Dourados, Rio Brilhante, Caarapó, Costa Rica, Aral Moreira, Chapadão do Sul, Nova Alvorada do Sul, Naviraí e Laguna Caarapã.

Apesar de algumas melhores posicionadas no mapa da pobreza, Costa Rica, Água Clara e Aral Moreira têm mais de 50% da população em situação de pobreza atualmente.

Inflação que afeta os mais pobres

O pesquisador da UFMS, Wesley Osvaldo Pradella Rodrigues, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, destaca que vários fatores contribuíram, sobretudo a partir de 2020, para o aumento da pobreza em todo o país. Um dos principais é o aumento de 21,3% na inflação brasileira, entre janeiro de 2020 e junho de 2022.

“A inflação impactou diretamente no preço de itens básicos como alimentos, bebidas e habitação, que compõe grande parte do orçamento das famílias mais pobres. E o grande problema é que quanto mais a renda fica comprometida com itens básicos, menor o poder de compra das famílias. Na prática, significa que elas precisam trabalham apenas para sobreviver”, explica Wesley.

O pesquisador destaca ainda que a inflação não impacta da mesma forma famílias de classe média, por exemplo, visto que nessa faixa salarial o gasto com itens básicos compromete uma parcela menor da renda mensal. “Inflação é um imposto para pobres, por que quando sobe ela onera diretamente essas famílias de renda mais baixa e não as de classe média e alta”, diz.

Apesar de Mato Grosso do Sul se destacar nacionalmente na produção do agronegócio, o progresso da cadeia não chega até a população mais pobre. “A desigualdade reduz quando se oferece emprego e alternativas de renda e o agronegócio não é um setor que contribua para isso. O agronegócio é uma atividade concentradora de riqueza e não um agente redutor da desigualdade. O setor caminha para ser cada vez mais automatizado, contratando cada vez menos e mão de obra mais básica”, destaca o pesquisador.

Agronegócio prioriza o mercado externo

Exportar seus produtos é hoje uma prioridade do agronegócio, visto a conjuntura de preços favoráveis no mercado externo, o que impacta para que todo os setor seja movido pela taxa de câmbio do dólar. Economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Staney Barbosa Melo explica que, por um lado esse fator atenuando os impactos negativos da conjuntura interna, mas por outro, gera consequência para o mercado interno, como os preços mais elevados dos alimentos.

“Custa caro para o produtor brasileiro importar sementes, adubos, maquinários e outros insumos para a sua produção, necessitando barganhar com os demais elos por aumento de preço para obter alguma margem. Parte dessa produção é destinada ao mercado externo, que paga preços mais competitivos. Então essa questão dos custos nos ajuda a entender esse paradoxo dos alimentos com preços elevados”, explica o economista.

Porém, setores com forte demanda interna são impactados pelo aumento da pobreza. “Pegando como exemplo o setor de carnes, podemos dizer que o mercado interno representa 70% da demanda do setor, enquanto as exportações respondem por apenas 30%, a maior parte da receita deste segmento advém da demanda no mercado interno que encontra um desequilíbrio entre os salários e os custos dos alimentos”, afirma. RadiojodaFm