Comunidade científica teme que B.1.1.529 possa ser mais transmíssivel e driblar sistema imunológico, aumentando número de infecções e reduzindo eficácia de vacinas
Reportagem atualizada às 15h30 de sexta-feira, 26 de novembro de 2021
Uma nova variante da covid-19 detectada na África do Sul foi classificada nesta sexta-feira (26/11) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “variante de preocupação” e batizada de omicron. A organização informou que evidências preliminares sugerem que essa variante oferece um risco maior de reinfecção de covid-19 do que suas antecessoras.
A classificação “variante de preocupação” é a adotada pela OMS para descrever as variações do coronavírus que oferecem mais risco à saúde pública – e a mesma usada para descrever a delta, gamma, alpha e beta.
Mais cedo nesta sexta-feira (26/11), Sajid Javid, o ministro da Saúde do Reino Unido, a descreveu como uma “grande preocupação internacional”.
O que se sabe
Ainda não se sabe muito sobre essa nova variante, mas ela seria mais transmissível do que as demais.
Seu número reprodutivo está em 2, o que é “realmente muito alto”, segundo a consultora médica-chefe da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido, Susan Hopkins.
Essa é a métrica que os cientistas usam para indicar quão contagiosa uma doença é: ou seja, cada pessoa infectada estaria, em média, passando o vírus para mais duas pessoas.
É um nível de transmissão não registrado desde o início da pandemia, antes de as restrições começarem a ser impostas, segundo Hopkins.
Quando o número reprodutivo excede 1, isso significa que a epidemia está fora de controle e aumentará exponencialmente.
Os casos confirmados — menos de 100 até agora — ainda estão concentrados em Gauteng, uma província da África do Sul, mas há indícios de que a nova variante pode ter se espalhado ainda mais.
África do Sul tem baixa proporção da população com esquema vacinal completo, o que pode ter facilitado surgimento de nova variante
Em uma coletiva de imprensa organizada pelo Ministério da Saúde da África do Sul, o brasileiro Tulio de Oliveira, diretor do Centro de Resposta a Epidemias e Inovação do país, disse que nova variante tinha uma “constelação incomum de mutações” e que era “muito diferente” de outras que estão em circulação.
Oliveira foi quem descobriu a variante inicialmente detectada na África do Sul, chamada de Beta pela OMS.
“Essa variante nos surpreendeu, ela deu um grande salto na evolução (e tem) muitas mais mutações do que esperávamos”, disse.
Em entrevista ao programa Newsday, da BBC, Oliveira afirmou que o vírus está “se espalhando em grande velocidade” em partes da África do Sul.
Segundo ele, as infecções na província de Gauteng — onde fica a maior cidade do país, Johannesburgo – parecem estar “amplificadas”.
“Esperamos estar errados sobre isso”, disse Oliveira, acrescentando que as equipes estão tentando estabelecer o quão transmissível é a nova variante.
Mas, em sua visão, as vacinas existentes podem continuar a fornecer proteção.
“Esperamos que as vacinas protejam contra hospitalizações. Ainda pensamos que, neste momento, as vacinas são a nossa melhor arma”.
A preocupação agora é que esse vírus seja radicalmente diferente do original que foi inicialmente detectado em Wuhan, na China.
Algumas das mutações foram observadas antes em outras variantes, o que dá algumas dicas sobre seu provável desempenho nessa variante.
Por exemplo, a N501Y, presente nas variantes alpha, beta e gamma, parece tornar mais fácil a propagação de um coronavírus.
Existem algumas mutações que tornam mais difícil para os anticorpos reconhecerem o vírus e podem reduzir a eficácia das vacinas, mas existem outras que são completamente novas.
O professor Richard Lessells, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, disse: “Nossa preocupação em relação às mutações é saber que esse vírus possa ter melhorado a transmissibilidade, maior capacidade de se espalhar de pessoa para pessoa, mas que também possa ser capaz de driblar partes do sistema imunológico.” BBC