Luiza Brunet fala de luta feminina, justiça e vida sexual aos 59: ‘Prazer insubstituível’

Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, modelo relembra agressão do ex-marido, se orgulha de luta pessoal contra violência doméstica e celebra, após quatro anos na justiça, conseguir dormir em paz

Por Ana Paula Bazolli, Gshow — Rio de Janeiro

07/03/2021 08h21  Atualizado há 9 horas


Luiza Brunet fala do Dia da Mulher — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Ela se emociona com os relatos que recebe das mulheres que sofrem agressões e pedem socorro, e se orgulha de conseguir, através de sua história, ajudar muitas delas. Modelo de sucesso, Luiza Brunet se tornou voz ativa da luta contra a violência doméstica depois de ter sofrido agressões físicas por parte de seu ex-marido, o empresário Lírio Parisotto.

Foram quatro costelas fraturadas, o mesmo número de anos de espera angustiante para a condenação do agressor pelo STJ e conseguir que seu caso fosse enquadrado na Lei Maria da Penha.

“Você é colocada à prova o tempo todo, por mulheres e homens que tentam desqualificar sua denúncia e escrevem nas redes sociais que você está dando golpe, mentindo”, relembra.

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher  — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

As marcas foram profundas e Luiza teve que silenciar por muito tempo o coração de “casadoura”, como se define, para cicatrizar as feridas. Foi, segundo ela, a melhor escolha.

Aos 59 anos, está solteira, mais forte para encontrar um novo amor e muito bem resolvida com sua sexualidade. Em ensaio exclusivo de Fernando Torquatto para o Gshow, Luiza revive tempos de modelo e fala, sem filtro, de sexo na maturidade:

“É muito importante, rápido, momentâneo, mas insubstituível. Não vejo nenhum pré-requisito para que a gente possa ser feliz e ter muitos orgasmos na vida madura.”

Tirar o silicone e encarar os 60 de forma natural faz parte dos planos da nova Luiza, que se sente livre, leve e pronta para ser feliz novamente.

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Inspiração

“Me sinto hoje em um lugar muito confortável de ser considerada essa mulher que motiva outras a observarem a qualidade dos relacionamento que estão vivendo. A partir do meu discurso, estimulo a fazerem denúncias sobre os companheiros agressores, mesmo dentro do trabalho, assédio moral, físico. Eu sempre conto a minha história, que foi cheia de violações e, desde muito jovem, sem ter conhecimento de como funcionava essa estrutura toda, eu sempre me posicionava.”

“Sempre me incomodei com injustiça e abusos, apesar de ter sofrido uma série deles. Ser essa mulher que passa essa mensagem para várias outras que sofrem e muitas vezes nem percebem que estão em sofrimento, é muito importante. Sou embaixadora do programa ‘Salve Uma Mulher’, que é onde me sinto exercendo meu papel de cidadã e contribuindo para a sociedade.

“Se eu puder ajudar, estarei pronta para me posicionar e falar sempre.”

Pedidos de socorro

“Me emociono demais com os relatos das mulheres que me pedem socorro e muitas consegui ajudar, fazendo eu mesma a denúncia anônima no número 190, mas eu consigo também ajudar com a rede de amigas que tenho pelo Brasil inteiro, coletivo de mulheres advogadas, promotoras de justiça.”

“Conseguimos dar acolhimento para ajudar mulheres a terem qualidade de vida melhor, referência para onde ir, fazer denúncia através de uma promotora de justiça. É muito bom fazer esse trabalho, me sinto útil.”

Causa urgente

“Quando passei pela agressão fiquei desamparada, sofri nos Estados Unidos, estava muito fragilizada e preferi voltar. O ideal era ter feito a denúncia lá. Eu falo muito para mulheres imigrantes, se sofrerem algum tipo de violação fora do seu país, faça logo a denúncia, através da embaixada. Me sinto super forte e preparada para ajudar as mulheres do jeito que eu posso. Sou uma voluntária, não tenho uma ONG, nem um instituto, mas me sinto livre pra ajudar quem eu quiser. Estou bem disponível para o enfrentamento da violência contra a mulher. É uma causa necessária e urgente.”

Aos 13 anos de idade, Luiza Brunet sofreu abuso sexual

Assédio

“Comecei a trabalhar no final da década de 70 para 80 como modelo. Era naturalizado os patrões contratantes quererem fazer o teste do sofá. Na minha época a gente tinha que se safar da maneira que achava correta, me posicionava. Muitas vezes abandonei trabalho no meio, porque não admitia que eu tivesse que fazer teste do sofá ou qualquer coisa do gênero. Importante ter a sabedoria de se colocar como profissional, não como instrumento.”

Sexo depois dos 50

“Sexo, independentemente da idade, se você tiver uma vida saudável, cuidar do corpo, da mente, se exercitar, ter uma vida regrada, vai ter uma qualidade muito boa, seja jovem, madura ou na terceira idade. Sou exemplo disso. Tenho 59 anos, o sexo sempre foi bom, sempre fui uma pessoa muito sexualizada. Não vejo nenhum pré-requisito para que a gente possa ser feliz e ter muitos orgasmos na vida madura.”

“Sexo é muito importante. É rápido, momentâneo, mas um prazer insubstituível.”

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher  — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Menopausa

“Nunca escondi minha idade, a estética nunca foi a minha primeira preocupação. A autoaceitação é a melhor forma de ser completa. Evidentemente, como qualquer mulher que entrou na menopausa e que passa por todo esse processo doloroso, eu tive algumas consequências. Fiz uma histerectomia total (retirada dos ovários, útero e trompas), depois reposição hormonal para que eu pudesse ter uma qualidade de vida melhor.”

“A gente não precisa sofrer com os desconfortos que a menopausa traz. Realmente melhorei muito, me sinto plena depois desse tratamento. Fiz tratamento hormonal, tenho imunidade baixa, faço pilates, caminhada. Prefiro um corpo longilíneo a musculoso. A minha alimentação é regrada, saudável e continuo com o mesmo hábito alimentar de quando viajo, e não enfio o pé na jaca.”

Ao natural

“As cobranças externas, o júri da Internet, se surpreende com o envelhecimento. Já falaram: ‘Está velha, caída’. E já me importei com esse tipo de comentário, hoje não me preocupo mais. É muito bonito ter dignidade de envelhecer naturalmente, bonita e saudável. Não curto muito a moda de harmonização o tempo todo, fiz pequenas coisas estéticas, um mini lifting suave, um preenchimento labial, mas não curti muito que ficou um pouco diferente.”

“Já coloquei silicone e minha próxima cirurgia é retirar as próteses para ficar com meu peito natural. Acho que quando a mulher envelhece, os seios ao natural e menos volumosos dão uma estética mais limpa. Acho, de verdade, envelhecer maravilhoso. Não tem outra alternativa, a gente tem que gostar e aproveitar o que a maturidade dá para gente, tranquilidade, conhecimento. Valorizo isso demais. Envelhecer é irreversível e maravilhoso.”

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher  — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

Luiza Brunet fala do Dia da Mulher — Foto: Divulgação/Fernando Torquatto

‘Casadoura’

“Estou solteira e minha característica é muito de finalizar uma história. Passei por um processo que movi contra meu ex-agressor, queria esperar o resultado e não tive cabeça para me envolver em outro relacionamento. Eu me apaixono, sou super casadoura, preferi ter esse tempo para mim, me qualificar mais como ativista, estudar, participar de congressos, viagens, foi de fato muito boa a escolha que fiz.”

Angústia

“A espera do fim do processo é angustiante pra qualquer pessoa que está esperando um resultado positivo e, de fato, eu tive na Maria da Penha (lei distrital brasileira, cujo objetivo principal é estipular punição adequada e coibir atos de violência doméstica contra a mulher), onde ele foi condenado. Você é colocada à prova o tempo todo, por mulheres e homens que tentam desqualificar sua denúncia escrevendo nas redes sociais que é golpe, mentira, fortalecidos pelo próprio agressor.”

“Aí, quando a justiça é feita, traz um conforto e uma reparação muito importante. Senti isso quatro anos depois, estou muito feliz com esse resultado. Minha verdade foi estabelecida e quem sabe meu coração esteja aberto para um novo amor.”

“Tenho muito orgulho da mulher que me tornei. Ser mulher é maravilhoso, mesmo com todos os percalços da vida.”

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Sou uma mulher que….

“Minha fala como ativista me levou a me orgulhar da minha própria história, atitudes e poder influenciar mulheres a ter esse encorajamento. Me sinto fortalecida e sei o que é correto. O Brasil é o quinto país onde mais se mata mulheres trans. Tem que ser muito mulher para suportar isso todos os dias, não é fácil. Todas nós temos que nos orgulhar, justamente por estarmos vivas e lutando para que a gente possa conviver em uma sociedade mais justa e igualitária.”