Por muito tempo, a máxima de que beber álcool moderadamente faz bem ganhou espaço (e adeptos), mas novos dados apontam que a realidade não é exatamente assim. É o que indica um estudo internacional feito com 135 mil idosos, com 60 anos ou mais, no Reino Unido. Na verdade, a ingestão de bebidas alcoólicas foi relacionada ao risco aumentado de câncer em quase todos os cenários, especialmente para indivíduos com outros problemas de saúde ou que viviam em áreas de baixa renda.
Lógico, quanto mais álcool a pessoa ingere diariamente, maiores serão os riscos de apresentar complicações de saúde, como diferentes tipos de câncer. Entretanto, o ponto do estudo liderado por pesquisadores da Universidade Autónoma de Madrid, na Espanha, é que até o consumo mais controlado traz riscos, segundo artigo publicado na revista JAMA Network Open.
Relação entre câncer e álcool
De forma paralela, um relatório baseado em dados coletados nos EUA conecta o consumo de álcool em excesso ao aumento no risco de seis tipos específicos de câncer. A seguir, veja a lista apresentada no relatório da American Association for Cancer Research (AACR):
- Câncer colorretal;
- Câncer de estômago;
- Câncer de mama;
- Câncer de fígado;
- Câncer de cabeça e pescoço;
- Câncer de esôfago.
Impacto do consumo de álcool na mortalidade
“Em comparação com bebedores ocasionais [menos de 3 gramas de álcool por dia], bebedores de baixo risco [definido como até 20 g/d para homens e até 10 g/d para mulheres] tinham maior mortalidade por câncer, bebedores de risco moderado [de 20 a 40 g/d para homens e de 10 a 20 g/d para mulheres] tinham maior mortalidade por todas as causas e câncer, e bebedores de alto risco [mais de 40 g/d para homens e mais de 20 g/d para mulheres] tinham maior mortalidade por todas as causas, câncer e doenças cardiovasculares”, afirmam os autores.
“O excesso de mortalidade associado ao consumo de álcool foi maior em indivíduos com fatores de risco socioeconômicos e relacionados à saúde, entre os quais até mesmo consumidores de baixo risco tinham maior mortalidade, especialmente por câncer”, acrescentam os pesquisadores.Consumo de álcool é relacionado à maior mortalidade por câncer em análise envolvendo idosos (Imagem: Karandaev/Envato)
Curiosamente, o estudo com pacientes britânicos descobriu que a preferência por vinho e beber apenas durante as refeições mostraram “pequenas associações protetoras com relação à mortalidade, especialmente por câncer”, comenta a equipe.
No entanto, esses dados devem ser melhor analisados em novas pesquisas. É possível que beber, durante o almoço ou o jantar, torne a absorção do álcool mais lenta. Outros componentes não alcoólicos do vinho podem ser responsáveis pela variação, por exemplo.
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Fatores de risco para câncer
Considerando a saúde entre os norte-americanos, o novo relatório da AACR revela que 40% dos casos de câncer estão relacionados a fatores de risco modificáveis, como beber álcool, fumar, exposição a poluentes e sedentarismo (falta de exercícios físicos).
Para ser mais preciso, “5,4% dos casos de câncer foram atribuídos ao consumo de álcool, em 2019, o ano mais recente para o qual há dados disponíveis”, afirma o levantamento.
Apesar disso, reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas ou parar totalmente o consumo “podem diminuir o risco de desenvolver cânceres relacionados com o álcool em 8% e podem reduzir o risco de todos os tipos de câncer em 4%”, afirma o relatório.
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Embora o álcool tenha relação com o câncer, os pesquisadores da AACR alertam para o fato de que muitas pessoas desconhecem essa conexão. Por isso, defendem a importância de campanhas públicas voltadas para a conscientização dos riscos.
Fonte: JAMA Network Open, AACR