Entidade americana dá novas diretrizes sobre amamentação e sono de bebês

Após o primeiro semestre, os especialistas recomendam a continuidade da amamentação e a introdução de alimentos complementares apropriados.

JESSICA SANTOS
SANTO ANDRÉ, SP (FOLHAPRESS) – Uma nova diretriz da Academia Americana de Pediatria indica o aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses da vida do bebê. Após o primeiro semestre, os especialistas recomendam a continuidade da amamentação e a introdução de alimentos complementares apropriados.


As recomendações foram publicadas na edição de julho da Revista Pediatrics, onde a entidade mostrou evidências dos benefícios do aleitamento materno exclusivo.


“A AAP vê a amamentação como um imperativo de saúde pública e também como uma questão de equidade”, disse Lawrence Noble, coautor do documento “Amamentação e Uso de Leite Humano”.
O texto pontua que “as vantagens médicas e de desenvolvimento neurológico de curto e longo prazo da amamentação a tornam um imperativo de saúde pública”.


De acordo com a organização, existem agentes antimicrobianos, antiinflamatórios, imunorreguladores e leucócitos vivos que contribuem para o desenvolvimento do sistema imunológico da criança. As diretrizes apontam que o aleitamento materno exclusivo no primeiro semestre diminui taxas de infecção do trato respiratório inferior, diarreia grave, otite média e obesidade.


Os benefícios também se estendem a mãe. “Estudos e metanálises também confirmaram o impacto do aleitamento materno por mais de 12 meses na saúde materna na redução das taxas maternas de diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, câncer de mama e câncer de ovários”.


De acordo com Rosângela Gomes dos Santos, pediatra e presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, “essa valorização do leite humano é muito importante porque vem consonância com as recomendações da OMS [Organização Mundial da Saúde]”.


A médica destaca que, para além dos benefícios a saúde de mãe e filho, a prática do aleitamento beneficia o meio ambiente. “São necessários 4 mil litros de água para produzir um quilo de fórmula [usada como substituta do leite materno]”, afirma.


Outro ponto destacado é como a questão racial impacta a amamentação. O documento afirma que a falta de aleitamento adequado tem impacto desproporcional na população negra não hispânica nos EUA. Segundo a especialista, o mesmo acontece no Brasil.


“Pelos gráficos, é possível perceber que as sociedades mais pobres e as mulheres negras amamentam menos e isso já é uma desigualdade social”, afirma Santos.


De acordo com o último ENANI (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil), realizado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em conjunto com a Fundação Oswaldo Cruz, a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e a UFF (Universidade Federal Fluminense), em apenas 62,4% dos casos o bebê é iniciado no aleitamento logo após o nascimento.


Tanto a entidade quanto Santos reforça a importância de garantir a proteção à amamentação. “Mulheres que estão em trabalho informal e não são cobertas pela licença maternidade ou outra lei que assegure a amamentação têm que largar seus bebês muito cedo”, diz a pediatra.


Adoção e amamentação A academia recomenda o uso do termo “amamentação no peito”, uma vez que pode ser mais preciso e inclusivo no que diz respeito à lactação e fisiologia em famílias com diversidade de gênero, como aquelas em que homens trans são responsáveis pelo aleitamento.


Famílias adotivas podem recorrer aos bancos de leite para realizar o processo de Lactação Adotiva, que possibilita iniciar a produção própria de leite materno.


Caso tenham doadoras, as famílias homoafetivas masculinas também podem contar com o apoio dos bancos, que farão o processo de pasteurização do leite para o bebê para não correr o risco de amamentação cruzada.


No Brasil, a dificuldade no acesso ao leite materno por adotantes é suprida pela Rede Brasileira de Leite Humano e seus mais de 300 bancos espalhados pelo país.


Sono e outras recomendações Em outro documento publicado em junho, a Academia Americana de Pediatria traz recomendações sobre o sono a fim de evitar a síndrome da morte súbita infantil.
A entidade afirma que os bebês de até seis meses devem dormir no quarto dos pais, mas em uma superfície plana separada. A entidade afirma que a cama compartilhada não é recomendada “em nenhuma circunstância”.


Também é indicado que os bebês sejam colocados para dormir de costas até que a criança atinja 1 ano de idade. Há risco de se elevar a cabeceira do berço. “Os bebês não podem ser colocados em uma inclinação de 30 graus sem deslizar para baixo”. Portanto, a superfície para o sono deve ser “firme, plana e não inclinada a fim de evitar asfixia”.


Os pais também são aconselhados “a colocar o bebê de bruços enquanto estão acordados e supervisionados por curtos períodos de tempo, começando logo após a alta hospitalar, aumentando gradualmente para pelo menos 15 a 30 minutos no total diário até as 7 semanas de idade”.


A academia não indica enrolar o bebê como “como estratégia para acalmá-lo”, pois “pode aumentar o risco de asfixia se a criança enrolada rolar para a posição de bruços”.