Diabetes é responsável por mais de 28 amputações por dia no Brasil; entenda

Celebrado nesta terça, Dia Mundial do Diabetes destaca a necessidade de melhora do acesso à educação de qualidade sobre a doença a profissionais de saúde e diabéticos

Por O Globo — Rio de Janeiro

À medida que a diabetes cresce no Brasil — segundo a última edição da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, 10,2% da população adulta do país já têm a doença —, as consequências seguem o mesmo ritmo. Entre janeiro e agosto deste ano, por exemplo, a condição foi a causadora de pelo menos 6.982 amputações de pernas e pés — uma média de 28 casos por dia.

Os dados são do Sistema Único de Saúde (SUS) e foram divulgados pela Agência Brasil nesta terça-feira. No último ano, os casos já tinham aumentado: foram realizadas 10.168 operações em 2022, número 3,9% maior que o registrado em 2021 (9.781). A doença, caracterizada pelo excesso de açúcar no sangue, já figura como a principal causa de amputação não traumática em membros inferiores, de acordo com Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

A amputação costuma ser antecedida de úlceras nos pés, o chamado “pé diabético”, que causa a perda das funções dos nervos do membro inferior. Assim, o tato e a sensibilidade para dor ficam prejudicados e dificulta a percepção do paciente em notar lesões e/ou feridas. A condição atinge 13 milhões de pessoas com diabetes, conforme informou a Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé) à Agência Brasil.

Em ritmo acelerado e considerado “alarmante” por especialistas, a prevalência da diabetes deve mais que dobrar no mundo e chegar a um total de 1,3 bilhão de indivíduos com o diagnóstico em 2050 – cerca de 13% da população mundial considerando a estimativa das Nações Unidas de 9,7 bilhões de habitantes para o ano. A estimativa é de um trabalho publicado em junho na revista científica The Lancet conduzido por pesquisadores que colaboram com o estudo Global Burden of Diseases (GBD) (Carga Global de Doenças, em tradução livre), liderados pela equipe do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington (IHME, da sigla em inglês), nos Estados Unidos.

Por que a diabetes cresce no mundo?

Segundo o estudo, o aumento dos casos até 2050 está associado principalmente ao avanço da diabetes tipo 2, responsável hoje por 96% dos pacientes no mundo. A prevalência, que é de 5,9%, deve crescer 61,2% e chegar a 9,5% — tornando-se a causa de 1,27 do 1,31 bilhão de diagnósticos daqui a menos de 30 anos. Já o tipo 1 deve aumentar 23,9%, mas saindo de um cenário de 0,2% da população para somente 0,3%.

Isso é importante porque, enquanto a diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que leva o próprio organismo a atacar as células produtoras de insulina, o tipo 2 é associado a fatores de risco modificáveis. O principal deles, ligado a 52,2% dos casos de morte e incapacidade pela diabetes, é o excesso de peso.

Diferente de como ocorre no tipo 1, no tipo 2 a maior quantidade de glicose no corpo leva a um esforço extra para que as células produtoras da insulina sintetizem mais e mais hormônio, que é responsável por retirar o açúcar da corrente sanguínea, até que eventualmente elas deixam de funcionar adequadamente devido à sobrecarga.

Por isso, o fato de a obesidade estar crescendo globalmente está diretamente ligado ao aumento da diabetes. Segundo a última edição do Atlas da Obesidade no Mundo, deste ano, mais da metade da população mundial estará acima do peso ou obesa até 2035. Isso significa ter um índice de massa corporal (IMC) acima de 25 kg/m², para sobrepeso, e acima de 30 kg/m², para obesidade.

De acordo com o atlas, esse crescimento está sendo impulsionado por fatores como a emergência climática, restrições impostas pela pandemia de Covid-19, poluentes químicos, sedentarismo, composição e promoção de alimentos não saudáveis, como os ultraprocessados, ​​e o comportamento da indústria alimentícia, que estimula esse tipo de dieta.

No Brasil, a estimativa é que 41% da população adulta tenha obesidade até 2035. Hoje, de acordo com o Vigitel, 24,3% dos acima de 18 anos já são obesos. Entre as crianças, o crescimento ao longo dos próximos 12 anos será mais acelerado, de 4,4% a cada 12 meses, até chegar a cerca de 27% dos mais novos.

Mas, além do sobrepeso e da obesidade, os pesquisadores do estudo sobre diabetes citam outros principais fatores de risco como a própria má alimentação, o tabagismo, o sedentarismo e o abuso de álcool, que também podem levar ao mau funcionamento da insulina. Porém, Lauryn Stafford, uma das autoras do trabalho e pesquisadora do IHME ressalta que é preciso levar o contexto social e as desigualdades entre os países na hora de pensar em medicas capazes de modificar esses riscos.

“Algumas pessoas podem ser rápidas em focar em um ou poucos fatores de risco, mas essa abordagem não leva em conta as condições nas quais as pessoas nascem e vivem que criam disparidades em todo o mundo. Essas desigualdades acabam afetando o acesso das pessoas à triagem e tratamento e a disponibilidade de serviços de saúde. É exatamente por isso que precisamos de uma imagem mais completa de como o diabetes tem impactado as populações em um nível granular”, diz.