Relatório do escritório de pesquisa de tendências Observatório de Sinais aponta um momento “neoessencialista”, em que a busca pela essência das coisas vai se traduzir como desejo de simplificação e reducionismo.
“As pessoas estão procurando mais leveza e praticidade. Isso acontece em função de um quadro pesado e negativo que vivemos por causa da pandemia, com a questão da morte muito próxima”, afirma Dario Caldas, sociólogo e diretor do Observatório de Sinais.
Restrito a assinantes, o relatório aponta que a tendência “neoessencialista” se aproxima esteticamente de um despojamento voluntário, presente no estilo minimalista. No mercado, deve se traduzir em produtos que tenham apenas elementos essenciais, mas com grande atenção à funcionalidade.
O célebre “menos é mais” fortalece o consumo sustentável, outra tendência acelerada nos últimos meses. Segundo Caldas, aumenta a percepção, especialmente entre jovens, do atrelamento da pandemia ao desequilíbrio do clima e do planeta. “Isso significa que os consumidores tendem a fazer uma associação natural entre a saúde do corpo individual e a saúde planetária, coletiva”, indica o relatório.
Nesse contexto, conceitos como a economia circular (reutilização de materiais), reducionismo, desperdício zero e upcycling (técnica que reaproveita itens descartados e os transforma em novos) saem mais fortes da pandemia e se confirmam como referências sustentáveis.
Objetos com formatos que inspiram a sensação de proteção, como a poltrona Capsule, da designer ucraniana Kateryna Sokolova, voltam à cena.
O campo do design respondeu mais rapidamente a essa tendência. A estilista Marine Serre, por exemplo, já explora no design das roupas o imaginário de calamidade sanitária e ambiental. Antes mesmo da pandemia, a francesa havia criado uma coleção incluindo máscaras protetoras.
Em julho deste ano, uma de suas peças apareceu no álbum visual “Black Is King”, da cantora Beyoncé, e Serre ganhou projeção mundial.
Em ano turbulento, outra tendência no design impulsionada é a do escapismo, com a fuga da realidade ou da rotina.
A marca Jacquemus, por exemplo, representou essa tendência em desfile realizado em meio a um trigal. Na passarela montada em um campo dourado, os modelos exibiram roupas com cortes despojados e tons em harmonia com o ambiente, com o objetivo de evocar leveza.
Nos serviços, os consumidores estarão mais simpáticos a adesão aos pequenos rituais, que vão do momento do cafezinho na loja à experimentação de produtos.
São ações que podem trazer prazer aos consumidores, considerando o período de estresse e as muitas horas conectados à internet na pandemia. “Como consequência, isso aumentará o engajamento dos negócios”, diz Caldas.
Outra tendência identificada apela à sedução. O estudo lembra a diminuição do apelo sexual em tempos de guerra ou pandemia e sugere que grifes de confecções, bolsas e calçados apostem em elementos que chamem atenção, como brilho e decotes.
No varejo, os ambientes físicos incorporarão elementos digitais. Na tendência “mundo figital”, a convergência se dá com inovações tecnológicas, entre elas cobranças automáticas por aplicativo, lockers para retirada de produtos comprados online e provadores inteligentes, com telas de toque em que os clientes podem consultar informações de peças, cores e tamanhos.
Na internet, a expectativa é a de que os cursos de gastronomia que ajudem a driblar a crise econômica e a inflação nos preços dos alimentos sejam os mais procurados.
Para Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP, os consumidores deverão buscar cursos online para tornar a vida mais barata e agradável. Os preços dos alimentos sofreram uma alta de 2,54% no mês passado, segundo o IBGE. O aumento acumulado de janeiro a novembro foi de 12,14% –o maior para um ano desde 2002.
Seguindo a mesma lógica, a venda de artigos de beleza e bem-estar deve aumentar, uma vez que os consumidores deverão tentar resolver em casa o que hoje fazem no salão de cabeleireiro ou nas academias de ginástica.
Wilson Poit, diretor-superintendente do Sebrae-SP, aposta no crescimento das microfranquias, assim classificadas quando exigem um investimento inicial de até R$ 90 mil.
Para ampliar o número de franqueados, grandes marcas devem aumentar o investimento em quiosques ou espaços dentro de outras lojas, no formato “store in store”.
Stefano Arpassy, consultor do birô de tendências WGSN, acredita que a pandemia deve valorizar os negócios de bairro, já que o período de isolamento fez os consumidores conhecerem melhor os estabelecimentos do entorno. “As pessoas querem resolver os seus problemas de forma rápida, saber para quem destinam o seu dinheiro e qual é a origem do produto. É uma junção de comodidade com olhar de responsabilidade.”