Especialistas buscam descrever o que ocorre em cada uma dos estágios do Alzheimer para entender o comportamento da doença no corpo humano
A doença de Alzheimer desafia médicos e cientistas. Por um lado, há esforços para identificar as causas da doença – a fim de buscar um tratamento precoce. Na outra ponta, especialistas buscam descrever o que ocorre em cada uma dos estágios do Alzheimer para entender o comportamento da doença no corpo humano e apoiar pacientes e seus familiares.
Nesta semana, uma pesquisa realiza pela Universidade de Coimbra, em Portugal, identificou uma região do cérebro humano como a área em que ocorrem as primeiras alterações causadas pelo Alzheimer. O estudo abre caminhos para novas pesquisas que podem indicar opções de tratamento.
Segundo os cientistas, no cíngulo posterior ocorrem três sintomas típicos de fases iniciais da doença: inflamação neural, acúmulo de proteínas amilóides (insolúveis no corpo humano) e atividade neuronal aparentemente compensatória, em que uma região do cérebro tenta agir para compensar o déficit de funcionamento apresentado por outra. Sabe-se que a doença só apresenta sintomas após anos de acúmulo de proteínas, o que traz o desafio de diagnosticá-la antes de se tornar visível.
Os estágios da Doença de Alzheimer foram definidos pelo médico Barry Reisberg, diretor do programa de pesquisa e educação sobre a doença da Escola de Medicina da Universidade de Nova York. Essa divisão é usada por especialistas em todo o mundo, algumas vezes simplificada para cinco ou mesmo três estágios.
AS 7 FASES DO ALZHEIMER
Estágio 1 – Nenhum sintoma de demência
Independentemente da idade, qualquer pessoa pode ser mentalmente saudável. Eventuais lapsos de memória são considerados normais em todas as faixas etárias. À medida que envelhecemos é natural que esses lapsos aconteçam com mais frequência e não necessariamente indicam um problema mais grave.
Estágio 2 – Perda de memória subjetiva/esquecimentos relacionados à idade
Muitas pessoas com mais de 65 anos reclamam de dificuldades cognitivas e/ou funcionais. Pessoas mais velhas com esses sintomas reclamam de não conseguir lembrar de nomes com a mesma facilidade com que faziam cinco ou dez anos antes. Eles também reclamam de frequentemente não conseguirem lembrar onde colocaram as coisas. Vários termos já foram sugeridos para definir essa condição, mas declínio cognitivo subjetivo é a terminologia mais aceita atualmente.
Em geral, parentes e amigos não notam imediatamente esse problema. Mas pessoas com esses sintomas apresentam declínio mais rápido do que outras da mesma idade que não têm reclamações semelhantes. Pesquisas mostram que essa fase pode durar até 15 anos em pessoas que não apresentam outros sintomas.
“A doença começa com o acúmulo de determinadas proteínas no cérebro e isso pode levar de 15 a 20 anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas”, explica o médico Otelo Correa dos Santos Filho, da Universidade Estadual do Rio (UERJ), investigador principal da parte brasileira do estudo internacional “Davos Alzheimer Collaborative”. “Nesta fase pré-clínica não há sintomas, e a vida cotidiana não é afetada.”
Estágio 3 – Impacto cognitivo leve
Pessoas neste estágio manifestam déficits sutis, mas que já são notados por pessoas próximas. Elas tendem, por exemplo, a repetir a mesma pergunta várias vezes. Sua capacidade de executar algumas funções se torna comprometida. É comum entre os que ainda não se aposentaram apresentarem declínio da função profissional. Os que precisam aprender novas tarefas têm dificuldades evidentes. Para os que ocupam cargos estratégicos, pode ser o momento de começar a programar uma aposentadoria. Este já pode ser caracterizado como um estágio inicial de Alzheimer e pode durar cerca de sete anos. Ainda assim, é preciso buscar orientação médica e um diagnóstico especializado para entender até que ponto outras condições de saúde podem estar influenciando tais condições.
Estágio 4 – Declínio cognitivo moderado/demência leve
O diagnóstico de Alzheimer nesta fase pode ser feito com bastante acurácia. O déficit funcional mais comum nesta fase é o declínio na habilidade de executar tarefas mais complexas da vida cotidiana, com impacto em sua capacidade de viver de forma independente. Por exemplo, pode ser complicado lidar com contas mensais, pagar o aluguel, ir ao mercado fazer compras, escolher um prato num restaurante. Pessoas que costumavam cozinhar passam a ter dificuldades para preparar os alimentos.
Sintomas de perda de memória se tornam bem evidentes neste estágio. Eventos recentes importantes como uma festa ou a visita de um parente podem ser esquecidos. Em geral, essa fase tem duração de cerca de dois anos.
“As pessoas começam a ter alterações leves de memória, perdem um pouco a noção do tempo, apresentam dificuldades para manejar as finanças, fazer cálculos, mas o impacto nas atividades diárias ainda não é muito grande”, explica o especialista da Uerj.
Estágio 5 – Declínio cognitivo moderadamente severo/demência moderada
Neste estágio, as pessoas apresentam sintomas que as impedem de ter uma vida independente. A principal alteração funcional desta fase é a dificuldade de executar atividades básicas do dia a dia, como, por exemplo, escolher a roupa mais apropriada para as condições climáticas e a ocasião, se alimentar sozinho, pagar as contas, manter as condições de higiene da casa e das roupas. Elas podem apresentar ainda problemas comportamentais, como ataques de raiva e desconfiança.
Do ponto de vista cognitivo, elas frequentemente não conseguem lembrar de grandes eventos ou aspectos importantes de sua vida cotidiana, como o seu próprio endereço, o nome do presidente da República e as condições do tempo. Este estágio tende a durar um ano e meio.
“Nesta fase, o paciente começa a ter os chamados comportamentos atípicos, como sair na rua de pijama, colocar um paletó mas esquecer de vestir a camisa”, exemplifica o médico.
Estágio 6 – Declínio cognitivo grave/demência moderada
Nesta fase, os pacientes perdem a capacidade de se vestir, tomar banho, escovar os dentes ou ir ao banheiro sozinhos. Elas começam a confundir ou não identificar outras pessoas, mesmo as mais próximas. Não conseguem se lembrar do nome das escolas onde estudaram, dos principais líderes políticos do País. Em algum momento, elas começam a ter dificuldades para falar. Do ponto de vista comportamental, ataques de raiva podem ser frequentes. Esta fase pode durar de dois a três anos.
“O paciente já é incapaz de realizar as atividades cotidianas básicas, já tem um comprometimento motor considerável e dificuldade para reconhecer as pessoas”, disse Otelo Correa dos Santos Filho. “Alucinação não é muito comum no Alzheimer, mas pode ocorrer nesta fase.”
Estágio 7 – Declínio cognitivo muito grave/demência muito grave
Nesta fase, os pacientes demandam assistência para atividades cotidianas básicas e para a própria sobrevivência. A capacidade de fala é cada vez mais restrita até ser completamente perdida. O paciente perde também a capacidade de andar sozinho e até de se sentar. A rigidez nas juntas é cada vez mais frequente, impedindo os movimentos mais básicos e levando a deformidades físicas. Uma causa comum de morte é pneumonia, justamente por conta da dificuldade de deglutição cada vez mais acentuada. Esta fase costuma durar de um a três anos. “É a fase mais grave e mais triste da doença, em que as pessoas apresentam demência grave, dependência completa para as atividades diárias e estão acamadas”, afirmou o especialista. “É a fase final da doença”, concluiu.