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Elas ditam o ritmo das bolsas dos Estados Unidos e são extremamente valorizadas em Wall Street.
As empresas de tecnologia conhecidas como as “Sete Magníficas” não param de crescer em vendas, lucro e valor.
Segundo analistas, todas venderão 12% a mais este ano e outros 12% em 2025. Muito acima de empresas semelhantes de outras indústrias.
Alphabet (controladora do Google), Apple, Amazon, Meta e Microsoft ganharam juntas cerca de US$ 327 bilhões em 2023, 25,6% a mais do que no ano anterior. Um número próximo, por exemplo, do PIB total da Colômbia ou do Chile.
E ainda assim esse grupo exclusivo, ao qual também pertencem Tesla e Nvidia, passa por uma fase de demissões, em alguns casos em massa, e que se somam às realizadas no ano passado.
Além das gigantes, muitas outras empresas menores se juntaram à onda. No total, quase 32.000 trabalhadores foram demitidos de 122 empresas de tecnologia desde o início do ano, de acordo com o site Layoff.fyi, citado pela Reuters. E ainda restam mais de 10 meses pela frente.
O Paypal terá este ano 2.500 funcionários a menos, o Spotify 1.500, o eBay 1.000 e o Snapchat 500 – para dar exemplos de empresas bem conhecidas da indústria da tecnologia.
Esse cenário tem levado muitos a comparar o que está acontecendo com o início dos anos 2000, quando a ascensão da internet levou à bolha pontocom, ou o frenesi especulativo e à subsequente queda nos preços das ações de muitas empresas baseadas na Internet durante o final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Para Mathieu Racheter, analista-chefe da consultoria Julius Baer, a comparação não se sustenta porque o valor das ações das empresas de tecnologia de megacapitalização ainda não atingiu o nível da bolha das líderes dos anos 2000.
Baer acrescenta que as “Sete magníficas” geram muito dinheiro, o que ajudaria em caso de possíveis problemas.
Mas o que está, então, por trás dessa segunda onda de cortes?
1. Inteligência artificial e mudanças estratégicas
“A história do setor tecnológico inclui a ascensão e a queda de grandes empresas que acabam sendo afetadas pela disrupção e sendo substituídas por outras mais inovadoras da geração seguinte”, lembra Brice Prunas, gerente de Inteligência Artificial da empresa de gestão de ativos ODDO BHF AM.
Foi assim que aconteceu com a bolha pontocom. E, nesta década, o boom dos modelos de Inteligência Artificial (IA) representa uma revolução.
“Tomemos como exemplo a empresa para aprender línguas Duolingo. Parte de seu pessoal demitido (ou “desvinculado” para usar o termo usado pela empresa) são escritores e tradutores, que serão substituídos por algoritmos”, explica o site Quarck.
A IA é rápida. O que um redator humano leva entre 60 e 90 minutos para escrever, a IA pode fazer em 10 minutos ou menos.
No início deste ano, um relatório da Goldman Sachs disse que a IA poderia substituir o equivalente a 300 milhões vagas de emprego em tempo integral.
“Já vimos isso na bolha tecnológica dos anos 2000, as disrupções sempre levam as empresas a uma realocação dentro de sua estrutura”, diz Javier Molina, analista sênior de mercados da eToro.
“De um lado, vemos mudanças estratégicas e fechamento de divisões e, de outro, uma reorientação para a Inteligência Artificial. Isso leva à eliminação de certos empregos em muitos processos que são automáticos”, diz Molina.
É a forma de aumentar a produtividade.
2. A lembrança de 2022 e o encerramento de projetos
O setor de tecnologia eliminou 168.032 empregos em 2023 e foi responsável pelo maior número de demissões em todas as indústrias, de acordo com um relatório da consultoria Challenger, Gray & Christmas, Inc.
Em meio à onda de euforia pelo sucesso que alcançaram durante a pandemia, muitas empresas do Vale do Silício aumentaram as contratações e expandiram seus planos de crescimento com a ideia de que o vento continuaria soprando a seu favor.
Mas não foi assim que aconteceu e, quando os ventos mudaram, começaram as demissões em massa em 2022, que continuaram por grande parte de 2023.
Outra das razões que conspirou contra os novos projetos foi o aumento da taxa de juros do Federal Reserve, o Banco Central americano, em resposta à inflação descontrolada.
Tomar dinheiro emprestado é agora mais caro e muitas empresas de tecnologia requerem muito capital, especialmente nas fases iniciais de desenvolvimento.
“Os recentes aumentos nas taxas de juros acentuaram a situação limite de muitos projetos, que em outros tempos podiam investir, aspirando crescer e alcançar lucros em uma fase posterior”, diz Andrés Allende, gerente do fundo DIP Value Catalyst da A&G funds.
“No entanto, agora, o efeito dominó do financiamento mais caro secou os investimentos. Isso leva ao fechamento de mais e mais projetos tecnológicos”, acrescenta.
Com os cortes, as empresas buscam estar o mais saudável possível em um momento de incerteza econômica.
“Abaixo das ‘mega-caps’ (empresas de megacapitalização), muitas empresas menores estão passando por momentos muito difíceis, o que explica as reduções nos quadros de funcionários”, diz Prunas, da ODDO.
3. Um ciclo brutal
E até mesmo as mega-caps recorreram a cortes de custos para saciar a demanda por maiores lucros de seus investidores.
Mas é que “os ciclos em tecnologia costumam ser assim, bruscos… mas também mais rápidos e flexíveis. Em breve, muitas dessas empresas e projetos serão adaptados e voltarão a inovar. Aqueles que sobreviverem podem voltar a ter oportunidades muito promissoras”, explica Allende.
“Até que o novo ciclo ganhe vida – já começamos a ver alguns sinais – as dificuldades do setor de tecnologia podem impactar de forma relevante o consumo e o investimento em outros setores, já que muitas vezes os empregos em tech tem níveis de renda muito acima da média”, acrescenta o especialista da A&G.
Os analistas concordam que é preciso diferenciar o que acontece nas pequenas empresas, que é uma questão de sobrevivência, do que acontece com as gigantes da tecnologia, que têm mais margem e grandes quantidades de capital para enfrentar as turbulências.