Levantamento indica que no verão a automedicação com colírios atinge 40% podendo provocar catarata, glaucoma e até doenças sistêmicas
No Brasil dados do Ministério da Saúde mostram que a automedicação é a maior causa de internação por intoxicação. O verão aumenta a vermelhidão e desconforto nos olhos causados pelo sol, mar, cloro das piscinas, água contaminada das praias e maior uso de ar-condicionado. O problema é que muitos brasileiros não vê colírio como remédio e usa à vontade. Um levantamento nos prontuários de 370 pacientes do Instituo Penido Burnier mostra que 4 em cada 10 chegam aos consultórios usando colírio por conta própria.
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do hospital, a maior causa dessa vermelhidão e desconforto nos olhos durante o verão é a conjuntivite, inflamação na conjuntiva, membrana transparente que reveste a pálpebra e a esclera, parte branca do olho. A conjuntivite, comenta, tem como efeitos colaterais no olho a desestabilização da lágrima e da córnea, lente externa do olho, que se nutre do filme lacrimal. É portanto, um fator de risco para olho seco evaporativo e ceratite, inflamação da córnea. “Isso porque, a conjuntiva produz junto com as glândulas lacrimais a camada de mucina do filme lacrimal que permite a aderência da lágrima à superfície do olho. Por isso, manter a hidratação dos olhos é a primeira recomendação para enfrentar o calor extremo com mais conforto” esclarece.
Outras inflamações
Queiroz Neto afirma que o calor também estimula a formação do terçol ou hordéolo que causa dor, vermelhidão e inchaço na pálpebra superior. O terçol, explica, é a inflamação de duas pequenas glândulas localizadas na base dos cílios provocada pelo acúmulo de oleosidade da pele e proliferação de bactérias que aumentam no calor. É mais frequente em adolescentes que têm acne, pessoas com blefarite, inflamação crônica das pálpebras, e mulheres que usam maquiagem de baixa qualidade, vencida, ou não retiram completamente o make antes de dormir.
Quando a inflamação acontece nas glândulas da pálpebra que produzem a camada oleosa da lágrima forma o calázio, uma bolinha dura na pálpebra.
Tratamentos
O especialista ressalta que nos casos de conjuntivite nenhum colírio deve ser usado sem prescrição e acompanhamento médico. Isso porque, o tratamento varia conforme a gravidade e tipo de conjuntivite. Geralmente dura de 7 dias a 2 semanas. A conjuntivite viral, ressalta, tem uma secreção viscosa. Quando é branda pode ser tratada com colírio anti-inflamatório não hormonal que é isento de corticoide. As inflamações graves são tratadas com anti-inflamatórios hormonais.
Na conjuntivite bacteriana você pode acordar com as pálpebras grudadas. Queiroz Neto afirma que tem como diferencial a secreção amarelada e purulenta. E tratada com colírio antibiótico que geralmente deve ser instilado no olho por 7 dias.
A conjuntivite alérgica tem como principais características secreção aquosa e coceira intensa que aumenta a vermelhidão quanto mais os olhos são coçados. O tratamento pode ser feto com colírio antialérgico nos casos brandos e corticoide nos severos. Uma dica do oftalmologista é aplicar compressas frias nos olhos para diminuir o prurido.
A conjuntivite tóxica decorrente do contato da mucosa ocular com algum produto de higiene pessoal geralmente não requer uso de colírio. Desaparece espontaneamente. Para aliviar o desconforto a principal recomendação é lavar abundantemente os olhos com água. Pessoas mais sensíveis devem fazer compressas frias com água ou soro fisiológico. Caso evolua para conjuntivite alérgica o tratamento é feito com colírio anti-histamínico sempre com supervisão médica.
Ao primeiro sinal tanto de terçol como de calázio Queiroz Neto recomenda aplicar quatro vezes ao dia compressas mornas feitas com gaze e soro fisiológico durante quinze minutos. Caso não perceba melhora em dois dias é necessário consultar um oftalmologista.
Riscos da automedicação e prevenção
O especialista afirma que o uso indiscriminado de colírios mascara doenças possibilitando a evolução silenciosa de alterações nos olhos. Quando o colírio contém corticoide a dosagem diária deve ser retirada lentamente para não causar efeito “rebote”, ou seja, a reativação da doença que volta a se manifestar de forma mais agressiva.
Por outro lado, o uso de corticoide por um período de tempo prolongado pode causar catarata e glaucoma, importantes causas de perda da visão no País, salienta. O especialista afirma que a catarata é uma causa tratável de perda da visão com implante de uma lente intraocular que substitui o cristalino opaco e pode e eliminar o uso dos óculos de grau para todas as distâncias quando é implantada uma lente multifocal. Já o glaucoma é caracterizado pela obstrução do escoamento do humor aquoso no globo ocular que aumenta a pressão intraocular e requer uso contínuo de colírio antiglaucomatoso para impedir a morte das células do nervo ótico que são irrecuperáveis.
O colírio preferido na automedicação é o adstringente que tem efeito vasoconstritor e deixa os olhos branquinhos. Muitos pacientes, comenta, viciam neste colírio que ao longo do tempo pode causar hipertensão arterial. “Manter as mãos limpas, os olhos hidratados, evitar excesso de produtos na região dos olhos, não compartilhar colírio, fronha, tolha ou maquiagem são as principais recomendações para evitar a conjuntivite, o calázio e o terçol no verão”, finaliza.