Um grupo de cientistas das Universidades Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) divulgou nesta semana uma plataforma de testes de Covid-19 capazes de separar diferentes variantes do vírus de maneira mais rápida, mais fácil de transportar e mais barata.
Os exames diagnósticos capazes de separar diferentes variantes do novo coronavírus em amostras de pacientes infectados tipicamente requerem sequenciamento genético, o que requer transporte de amostras até laboratórios que possuem grandes máquinas, lentas e com alto custo de operação.
Num estudo publicado na última sexta-feira na revista ‘Science Advances‘, porém, os pesquisadores apresentaram uma plataforma de teste de saliva que pode ser montada por uma impressora 3D ao custo de 15 dólares, capaz de executar testes para variantes do Sars-CoV-2 ao preço de 6 dólares a unidade.
Os cientistas ainda não detalharam como a tecnologia será licenciada, mas afirmam que a ideia é tê-la colocada à disposição do maior número possível de centros de monitoramento dentro e fora dos EUA, para que o espalhamento das variantes de preocupação da Covid-19 seja bem mapeado.
Liderados pela engenheira Helena de Puig, os pesquisadores descrevem no estudo a motivação para criar a nova plataforma de testagem, batizada com o acrônimo miSHERLOCK (Minimally Instrumented Specific High-Sensitivity Enzymatic Reporter Unlocking).
“A pandemia de Covid-19 acentuou a necessidade de diagnósticos que pudessem ser rapidamente adaptados e empregados em diferentes situações. Diversas variantes do Sars-CoV-2 mostraram efeitos preocupantes sobre eficácia de vacinas e tratamentos, mas nenhum teste portátil permitia a identificação delas”, escrevem De Puig e sua equipe no artigo publicado pela “Science Advances”.
Fruto da CRISPR
Para criar o teste, os cientistas usaram o método CRISPR para manipulação genética, invenção que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina de 2019. A tecnologia confere grande precisão à identificação de mutações em trechos específicos de RNA (o material genético do vírus) que caracterizam cada uma das variantes da Covid-19.
No estudo, os pesquisadores mostram que a plataforma foi capaz de identificar corretamente as variantes Alfa, Beta e Gama do coronavírus (originalmente detectadas no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil). Todas elas demonstraram ser mais contagiosas que a cepa de coronavírus que emergiu em 2019 na China. Cientistas dizem já estar trabalhando para que o teste inclua também a capacidade de diferenciar a variante Delta (encontrada inicialmente na Índia), aquela que mais preocupa autoridades sanitárias no mundo hoje.
O diagnóstico ocorre por meio de reagentes químicos que respondem à presença de cada uma dessas cepas de vírus na amostra. Quando uma variante está presente, a ampola com a amostra adquire uma cor luminescente. Para interpretar o resultado, os cientistas criaram um aplicativo de celular que interpreta a coloração do exame com a câmera, dispensando o uso de maquinário específico.
Segundo os cientistas, uma amostra de saliva pode ser processada em pouco mais de uma hora. No teste realizado no estudo, as variantes de Covid-19 foram identificadas corretamente em 96% das amostras. DOURADOS NEWS