Sol está mais ativo do que o previsto – como isso nos afeta?

O Sol está mais ativo do que os cientistas esperavam. Devemos nos preocupar? Saiba aqui o que isso significa para a Terra

Embora o Sol pareça ser tranquilo no céu, na verdade, ele é uma esfera de atividade caótica e imprevisível – especialmente nos últimos tempos. Os especialistas, que antes esperavam um comportamento moderado do astro neste ciclo solar, agora se surpreendem com a intensidade dessa dinâmica. 

Em declaração ao site Business Insider, Andrew Gerrard, diretor do Centro de Pesquisa Solar-Terrestre do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, destaca que o comportamento atual da nossa estrela hospedeira está muito além das expectativas, revelando um ciclo solar muito mais ativo do que se esperava. “Não achamos que o Sol estaria tão ativo neste ciclo em particular, mas as observações são completamente opostas”.

Frequentemente, as regiões ativas da nossa estrela explodem lançando plasma e campos magnéticos ao espaço. Crédito: NASA / SDO / AIA / EVE /HMI Science Teams / helioviewer.org/Reprodução

Vamos entender:

  • O Sol tem ciclos de 11 anos de atividade;
  • Ele está atualmente no que os astrônomos chamam de Ciclo Solar 25;
  • Esse número se refere aos ciclos que foram acompanhados de perto pelos cientistas;
  • No auge dos ciclos solares, o astro tem uma série de manchas em sua superfície, que representam concentrações de energia;
  • À medida que as linhas magnéticas se emaranham nas manchas solares, elas podem “estalar” e gerar rajadas de vento;
  • De acordo com a NASA, essas rajadas são explosões massivas do Sol que disparam partículas carregadas de radiação para fora da estrela em ejeções de massa coronal;
  • As erupções são classificadas em um sistema de letras pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) – A, B, C, M e X – com base na intensidade dos raios-X que elas liberam, com cada nível tendo 10 vezes a intensidade do anterior;
  • A classe X, no caso, denota os clarões de forte intensidade, enquanto o número fornece mais informações sobre sua força;
  • Um X2 é duas vezes mais intenso que um X1, um X3 é três vezes mais intenso, e, assim, sucessivamente;
  • Se as CMEs são lançadas em direção à Terra, podem atingir a atmosfera do planeta e reagir com a magnetosfera;
  • Isso provoca tempestades geomagnéticas;
  • A depender da potência, essas tempestades podem ocasionar desde a formação de auroras até efeitos mais graves, como interrupções em sistemas de comunicação ou mesmo derrubar satélites em órbita.

Durante os ciclos solares, o astro alterna entre períodos de mínima e máxima atividade. Em cada ciclo, o ponto mais alto de atividade, conhecido como máximo solar, ocorre quando os campos magnéticos do Sol se invertem, marcando a formação de mais manchas solares e o auge de erupções. 

O ciclo 24 ocorreu entre 2008 e 2019, e agora estamos no meio do ciclo 25, aproximando-nos rapidamente do próximo máximo solar – com alguns cientistas dizendo que ele já começou.

2024 tem número recorde de regiões ativas no Sol em um único dia

Nos últimos anos, a atividade solar tem se intensificado a tal ponto que as regiões profundas da estrela estão sendo sufocadas por intensos campos magnéticos, o que impede que a energia atinja a superfície. 

Esse fenômeno cria manchas solares, áreas mais frias e escuras que aparecem na superfície do Sol e são um indicativo do nível de atividade solar. Cientistas como Gerrard monitoram essas manchas solares para avaliar a intensidade da atividade do Sol, e os números têm batido recordes recentemente.

No início deste mês, a NOAA relatou a observação preliminar de 299 manchas solares em um único dia, o maior número registrado em mais de 20 anos

Esse aumento na quantidade de manchas solares é um sinal preocupante, pois elas são frequentemente o ponto de origem de erupções solares de classe X e de ejeções de massa coronal, ambos fenômenos que podem representar sérios riscos para a Terra. 

Alex James, físico solar da Universidade College London, no Reino Unido, explica que nem todas as manchas solares resultam em erupções e que, mesmo quando isso ocorre, nem todas atingem a Terra. No entanto, prever tempestades solares com antecedência é um campo de pesquisa vital em andamento, pois oferece mais tempo para preparativos em caso de ameaças reais.

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As erupções solares de classe X e as CMEs, apesar de visualmente espetaculares, lançam partículas de alta energia no espaço a velocidades superiores a mil km/h. Quando essas partículas atingem a Terra, podem interagir com o campo magnético do planeta e com sua atmosfera superior, desencadeando tempestades geomagnéticas. 

Essas tempestades, por sua vez, criam as deslumbrantes auroras boreais e austrais, que ultimamente têm sido vistas em latitudes próximas ao equador do que de costume, como nos estados norte-americanos do Texas e do Colorado, devido ao aumento da atividade solar.

Representação artística elaborada com Inteligência Artificial de um satélite Starlink sendo afetado por uma explosão solar. Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

No entanto, essas partículas também podem causar problemas sérios. Desde janeiro, tempestades geomagnéticas resultaram em apagões de rádio em quatro continentes: América do Norte, América do Sul, Europa e África. Esse tipo de interferência pode desativar temporariamente sistemas de GPS, provocar quedas de energia e interromper voos, já que os aviões não têm autorização para decolar sem comunicação via rádio e satélite.

Outro impacto significativo é sobre espaçonaves e satélites. Em fevereiro de 2022, uma tempestade geomagnética contribuiu para a queda de 38 satélites Starlink, que estavam em uma órbita de transição mais baixa. Esses satélites não conseguiram resistir ao arrasto atmosférico intensificado e acabaram caindo de órbita, queimando na atmosfera da Terra.

Em maio deste, a maior tempestade geomagnética em duas décadas causou o  deslocamento conjunto de cerca de cinco mil satélites em órbita, caracterizando a maior migração em massa de espaçonaves da história.

Mesmo que o ciclo 25 seja considerado “mediano” em um contexto histórico (como afirma Mathew Owens, professor de física espacial da Universidade de Reading, também no Reino Unido), nossa crescente dependência de satélites torna os efeitos dessas tempestades mais críticos do que nunca.

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