O mercado da soja segue volátil, pressionado por uma série de fatores tanto internos quanto externos. Segundo dados divulgados pela Grão Direto, o contrato de soja para novembro de 2024 na Bolsa de Chicago encerrou a U$10,38 o bushel, com queda de 2,63%. No mercado físico brasileiro, a alta de 0,37% do dólar, que fechou a R$5,46, manteve os preços relativamente sustentados, ainda que as projeções apontem desafios à frente.
Essa retração no mercado futuro norte-americano está ligada a fatores como a recente greve nos portos dos EUA, a seca prolongada no Brasil, e as tensões no Oriente Médio, que têm ampliado a instabilidade em várias commodities, especialmente o petróleo e, consequentemente, o óleo de soja.
Apesar dos temores iniciais, a greve nos portos dos Estados Unidos teve um impacto menor do que o previsto no comércio global de soja. Graças à pressão exercida pela Casa Branca e à aceitação de uma nova oferta salarial pelos trabalhadores portuários, o movimento foi encerrado sem grandes prejuízos para o escoamento da commodity.
Ainda assim, o mercado permaneceu sensível à situação logística, e o temor de novos atritos nos portos poderá trazer volatilidade para as negociações, especialmente no que se refere às exportações de grãos para a China, o maior comprador de soja americana.
No Brasil, o plantio da safra 2025 de soja avança de forma lenta, dificultado pela escassez de chuvas. Até a primeira semana de outubro, as condições climáticas permaneceram secas, gerando incertezas sobre o desenvolvimento das lavouras. De acordo com previsões meteorológicas, as chuvas devem chegar ao Sudeste e Centro-Oeste apenas na segunda quinzena do mês, aumentando o risco de atrasos significativos.
Essa situação remete ao ocorrido na última safra, quando os atrasos nas precipitações resultaram em replantios e quebras de produtividade em diversas regiões produtoras. As preocupações sobre uma possível repetição desse cenário têm influenciado a curva dos prêmios futuros, que seguem em alta à medida que o atraso no plantio se estende.
Os conflitos no Oriente Médio, especialmente entre Israel, Hezbollah, Hamas e o Irã, aumentaram as incertezas sobre a oferta e logística global de petróleo. O aumento nos ataques, somado à possibilidade de que Israel bombardeie refinarias iranianas e à limitação do transporte no estreito de Ormuz, está gerando uma alta nas cotações do petróleo. Esse movimento reflete diretamente nas commodities agrícolas, como a soja, devido à utilização de óleo de soja para a produção de biodiesel. Com a valorização do petróleo, o óleo de soja tende a acompanhar o movimento, gerando pressões altistas nas cotações, especialmente no mercado futuro de Chicago.
Outro fator importante a ser observado é a economia chinesa. O governo da China programou para a próxima semana uma coletiva de imprensa onde detalhará os estímulos econômicos recentemente anunciados. O mercado global de soja está de olho nesse evento, pois pode indicar o nível de demanda futura por parte do país asiático, o maior importador de soja mundial.
Se as medidas forem bem recebidas, espera-se um aumento na demanda chinesa, o que poderá sustentar os preços da soja. Entretanto, qualquer sinal de enfraquecimento econômico ou ajuste abaixo das expectativas pode gerar uma onda de volatilidade no curto prazo.
Ainda segundo análise de Grão Direto, diante desses desafios, as projeções para a soja brasileira nas próximas semanas são de aumento na volatilidade, especialmente se o clima continuar adverso e os conflitos geopolíticos seguirem escalando. O mercado nacional, contudo, tem mostrado resiliência, sustentado pelo dólar forte e pelo interesse internacional na soja brasileira, que poderá ser beneficiada por eventuais interrupções no fluxo de commodities norte-americanas.
Os produtores brasileiros devem ficar atentos às variações nos prêmios futuros, que podem ser uma ferramenta de mitigação de riscos em tempos de incerteza. Acompanhando de perto o desenrolar da temporada de chuvas e as movimentações geopolíticas, será possível ajustar estratégias de venda e negociação de contratos.
Com as atuais condições climáticas e geopolíticas, a soja brasileira pode continuar a apresentar cotações positivas, mesmo em um cenário global adverso. O mercado precisa, entretanto, estar preparado para oscilações significativas, principalmente até que as chuvas normalizem o ritmo do plantio.