Fenômeno nos anos 2000, implante passou por mudanças tecnológicas que o deixaram mais seguro, mas ele ainda precisa de acompanhamento anual por um médico especializado.
Por Carolina Dantas, G1
“Existiu uma fase que a gente não conhecia todos os efeitos a longo prazo de colocação de implante de silicone. Essa é a verdade”.
A frase de Maira Caleffi, chefe do serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, é a explicação para um período anterior da história do silicone, quando o procedimento ultrapassou a lipoaspiração e passou a ser o mais popular do Brasil. Hoje, o implante continua com alta procura, mas também está em ascensão a busca para a sua reversão pelas pacientes que já fizeram o procedimento.
A cirurgia plástica para o aumento do seio ainda é a mais comum do país, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (dados mais recentes, colhidos em 2019), com 211.287 procedimentos por ano. Por outro lado, a retirada do silicone registrou 19.355 cirurgias, com uma alta de 33% em relação ao ano anterior.
Mesmo que a cirurgia para colocar a prótese ainda seja a mais frequente (15% do total no mundo), os dados sinalizam uma possível mudança de comportamento: a retirada do silicone já está na lista das 20 intervenções mais procuradas (2% do total) – em 2010 nem era mencionada no relatório.
Novos problemas
Nos anos 2000, o silicone passou a ser um dos padrões estéticos e, como a médica mastologista lamenta, muito influenciado pela recomendação dos próprios cirurgiões plásticos.
“Teve uma onda dos [cirurgiões] plásticos de achar mais bonito, de ficar mais durinho e tal. As mulheres também foram muito convencidas a fazer, entende?! Não é só culpa das mulheres. Teve aí uma superindicação do lado dos médicos” – Maira Caleffi
Mais de 20 anos depois, na era do Instagram, a comparação entre corpos está longe de terminar, mas começaram a surgir também novos padrões, uma facilidade maior de entrar em contato com todos os formatos.
Junto a isso, uma síndrome relacionada ao uso da prótese também passa a influenciar algumas mulheres: a Asia (síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante). O primeiro registro na literatura é de 2011.
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“Muitas pacientes ficam apreensivas e solicitam a retirada dos implantes mesmo quando não há indicação ou comprovação da doença. Isso causou um aumento no número de cirurgias de explantes do silicone”, disse Henrique Lopes Arantes, cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
A Asia é uma doença autoimune e está relacionada à presença do implante mamário. Ela é consequência de uma reação inflamatória do organismo à presença do silicone.
De acordo com Arantes, os sintomas são muito inespecíficos e variados: dores nas mamas, fraqueza muscular, dores articulares, cansaço, sonolência e distúrbios do sono, perda de foco, falta de equilíbrio, espasmos musculares, perda de memória, febre e boca seca.
O que os dois especialistas esclarecem é que a doença é extremamente rara. Ter os sintomas não necessariamente é um problema relacionado ao silicone — a resposta correta será dada apenas após consulta com um médico especialista, um mastologista.
“Eu peço exames. Inclusive um dos exames mais importantes que é a ressonância magnética junto com uma ecografia, ultrassonografia, para saber se tem uma camada de líquido ao redor do implante. Isso é um dos sinais de alerta para que a gente comece a pensar nessa coisa tão rara que é a ação dessa síndrome”, disse Caleffi.
Caso haja a manifestação, mesmo que “muito, muito, muito rara”, é possível fazer a retirada da prótese. O silicone continua sendo a principal alternativa para pacientes que precisam de intervenção estética para aumento do seio, e isso também é importante para algumas mulheres.
“Pra quem não tem nada, tem um seio muito pequeno, ou tem uma mama muito machucada pela amamentação, ou emagreceu, ainda é importante fazer, não é só uma questão de moda. O que é uma pena é que a coisa foi pra um caminho maluco com 400 gramas por mama, sabe?!”, disse a médica.
Próteses mudaram
As próteses mudaram: “os implantes estão em constante evolução, desde consistência do gel, revestimento, composição e peso”, explicou Arantes.
“O que mais evoluiu nas próteses é a questão da cápsula. Do tipo de invólucro dela, não tanto o material dela lá dentro. A gente vê que temos próteses muito mais resistentes, com menos chance de vazamento e tudo mais”, disse Caleffi.
O material não precisa necessariamente ser trocado a cada 10 anos, de acordo com o cirurgião plástico e a mastologista.
“É fundamental uma consulta anual com seu cirurgião plástico para avaliar como estão os implantes e se há algum sinal de complicação que indique a troca ou retirada dos mesmos. Não há qualquer consequência ficar com os implantes por mais de 10 anos se estes estiverem em perfeito estado e a paciente satisfeita”, explicou Arantes.
A alternativa para o aumento do seio sem o uso de uma prótese é o uso da gordura do próprio corpo. “Nesse caso, realiza-se uma lipoaspiração para coletar gordura, prepara-se essa gordura e realiza-se o enxerto imediatamente”, completou o médico.