Drogas popularmente usadas no combate à obesidade foram associadas pela primeira vez a um risco aumentado de paralisia estomacal, de acordo com estudo da Universidade British Columbia. Riscos aumentados de pancreatite e obstrução da intestino também foram constatados, mas já eram conhecidos. Constam, inclusive, na bula dos medicamentos.
De acordo com o trabalho, publicado nesta quinta-feira, 5, na Journal of the American Medical Association, os efeitos adversos foram constatados em pessoas que não são diabéticas, mas estavam usando os remédios para perda de peso.
Os medicamentos foram desenvolvidos originalmente para o tratamento da diabetes tipo 2, mas também são indicados para perda de peso. Eles funcionam induzindo a produção de insulina, bloqueando a produção de açúcar no fígado e proporcionando uma sensação de saciedade.
“Ouvimos relatos de pessoas que tiveram muita náusea, que vomitavam de 15 a 20 vezes por dia quando começaram a tomar um desses remédios, mas ainda não havia um estudo epidemiológico para não diabéticos”, afirmou Mahyar Etminana, coautor do estudo, em entrevista. “O fato de termos descoberto que as drogas aumentam o risco de gastroparesia (paralisia estomacal) em pessoas que usam esses remédios para perda de peso vai ao encontro do que essas pessoas vêm experimentando.”
Os pesquisadores trabalharam com as prescrições de 16 milhões de pacientes dos EUA para os quais foi receitado um dois dos remédios mais populares da classe dos agonistas de GLP-1, semaglutida e liraglutida, entre 2006 e 2020. Pacientes que tomavam esses remédios para diabetes tipo 2 não foram incluídos no trabalho.
Os pesquisadores investigaram os registros médicos dos pacientes para saber quantos tinham desenvolvido os seguintes problemas de estômago: pancreatite, obstrução da bexiga, gastroparesia e doença biliar. Os históricos médicos desses pacientes foram comparados aos de outros que usavam bulpopriona-naltexone (uma outra classe de medicamento) para o emagrecimento.
Pacientes que tomaram os remédios da classe dos agonistas de GLP-1 apresentaram um risco de desenvolvimento de pancreatite nove vezes maior. No caso da obstrução do intestino, o risco era quatro vezes maior. O risco de paralisia estomacal era três vezes maior. Foi constatado também um leve risco maior de doença biliar, mas, segundo os pesquisadores, seria “estatisticamente insignificante”.
“São ocorrências relativamente raras”, admite Mohit Sodhi, coautora do trabalho. “Mas se pensarmos que temos milhões de pessoas tomando esses remédios, mesmo 1% significa dezenas ou mesmo centenas de milhares de pessoas que poderiam apresentar esses sintomas.”