Queda no preço do milho não desanima o produtor de Mato Grosso do Sul

Apesar da redução, produtor de MS terá várias alternativas na colheita do cereal nesta safrinha, como armazenagem, e novas opções para o mercado interno

A primeira impressão da queda no preço do milho nos últimos três meses em Mato Grosso do Sul pode parecer um problema para o produtor rural. 

Segundo o levantamento de preços do Sistema Famasul, em 17 de março deste ano, a saca era comercializada em média a R$ 91,00 no Estado. Mas para os produtores os preços atuais continuam atrativos, conforme informam os especialistas.

De lá para cá, a cotação teve queda nos meses seguintes, passando da marca de R$ 80,00 reais apenas no dia 29 de maio. Nos demais meses, o preço do milho ficou abaixo dessa marca. Em 13 de março, era cotado a R$ 77,25 a saca, e, em 13 de abril, a R$ 77,00.

Com o fechamento da cotação desta terça-feira, a saca do milho era comercializada a R$ 75,00 em média no mercado físico de MS. Em três meses, a retração no preço foi de 17,58%.

Na edição de 5 de março, Carlos Dávalo, corretor da Granos Corretora, explicara que a quebra da safra de soja e a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia pressionavam os preços dos grãos no mercado mundial naquela altura.

De acordo com o consultor e agrônomo João Pedro Dias, o mercado comprador está bem desaquecido em MS. Os fatores sazonais estão entre as principais causas, e a partir do andar da colheita da segunda safra esse cenário pode mudar.

“Ele deve ficar neste patamar, o produtor vai vender e fazer caixa, e a expectativa de o mercado mundial mexer com esse preço. Por mais que apresente alta, em MS, temos a questão da paridade de exportação, tem de vender o equivalente no mercado interno”, comenta.

O especialista não vê o preço disparando muito no Estado. Segundo ele, os patamares comercializados estão atrativos.

“Daqui para frente, vamos fazer estoque. A produção de etanol a partir de milho representa uma demanda muito grande. Temos ainda a produção do farelo, que não tem o potencial proteico da proteína da soja, mas que é uma alternativa de processamento também”.

“Em época de colheita, a pessoa não vende muito abaixo nem vende muito acima, se o mercado internacional passar a ser o balizador, aí teremos uma mudança neste cenário”, conclui.

A paridade de exportação inclusive deve ser assimilada ainda mais pelo próprio mercado interno de Mato Grosso do Sul, dizem os especialistas.  

De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, existe um perfil a ser implementado em MS.

“Nosso objetivo sempre tem sido como estratégia de desenvolvimento a famosa frase de agregação de valor ao produto. Ou seja, transformação. É muito claro que a linha de desenvolvimento do Estado é a agroindustrialização”, comentou.

Etanol

De acordo com João Pedro Dias, a primeira fábrica de processamento de milho para transformação em etanol, que entra em operação em julho, será capaz de processar 1,800 milhão de toneladas. “Quase 15% da produção vai para o processamento de uma indústria”, finaliza.

A previsão da produção deste ano deve ficar 43,4% maior que a do último ciclo da segunda safra. O levantamento foi feito baseado nos dados da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), e estima-se que neste ano MS colha 9,34 milhões de toneladas.

A área plantada deve ficar em 1,9 milhão de hectares, com produtividade de 78,13 sc/ha. Ao fim da colheita do milho 20/21, ficou constatado 47,71 sacas por hectare em Mato Grosso do Sul, com quebra recorde e produção final de 6.528.332 toneladas colhidas.

No Estado, as lavouras em boas condições representam 80,8%, as regulares são 12,8% e as ruins são 6,4%. Esse panorama é excelente em comparação com a mesma época do ano passado.

Naquele momento, as geadas e o clima de seca haviam castigado a plantação de milho em MS. As condições das lavouras eram predominantemente ruins, 61%, e regulares, 38%; apenas 1% era considerado boa, ou seja, possuíam plantas viçosas e que garantiam uma boa produtividade.

No dia 24 de junho, o índice de colheita do milho segunda safra em MS atingiu 57,7 mil hectares, o que representa 2,9% da área estimada. A região norte apresenta média de área colhida de 10,5%, a região central de 3,9% e a região sul de 1,1%.

O presidente da Aprosoja/MS, André Dobashi, explica que “a região norte está com a colheita mais avançada porque o produtor plantou mais cedo e a região tem apresentado boas condições climáticas”. Quando comparada com o mesmo período da safra anterior, a porcentagem de área colhida está 2,9 pontos porcentuais acima.

Projeção

Se acaso ocorrer geada na região sul até a primeira quinzena de julho, esta projeção pode ser alterada, conforme explica o coordenador técnico da Aprosoja/MS, Gabriel Balta.

“A partir do dia 15 de julho, eliminamos o risco de perdas na produção, porque depois desse período, a cultura já está bem desenvolvida e a geada não representa riscos significativos de perdas”, disse Gabriel.

Conforme o agrometeorologista da Embrapa, Danilton Flumignan, tivemos três frentes frias com bastante força no Estado este ano. “ Uma em maio e duas em junho. A mais intensa foi em meados do meio de junho, em que se notaram temperaturas bastante baixas para algumas regiões. Quando aconteceram, foram bem geladas e bem localizadas, em regiões reduzidas”.

Para o mês de julho, Danilton diz que, em via de regra, quem plantou dentro das épocas recomendadas estará em situação mais tranquila. 

“Quando se entra em julho, quem plantou nas épocas recomendadas, mesmo com geadas, não vão impactar tanto a produtividade, porque o milho se encontra em uma fase de pouca sensibilidade às geadas, quem plantou dentro de época pode se considerar potencial de prejuízo muito baixo”, finalizou. CORREIO DOESTADO