Quantos asteroides são potencialmente perigosos para nós? Podemos combatê-los?

Literalmente, há milhões de rochas espaciais pesadíssimas em nosso Sistema Solar, encontradas especialmente no cinturão principal de asteroides; apesar disso, apenas algumas passam perto de nosso planeta

Há algumas semanas, o mundo entrou em alerta com o descobrimento de um asteroide com potencial de atingir a Terra em 2032. Segundo análises iniciais, o YR4, como foi denominado, pode até destruir uma cidade inteira. Tanto que o Telescópio Espacial James Webb (JWST) foi redirecionado pela NASA para monitorar o achado.

Com essa descoberta e os estudos para tentarmos impedir que esses objetos espaciais colidam com nosso planeta e acabem com tudo aqui (caso da missão DART), fica a pergunta: quantos asteroides podem nos atingir com potencial destrutivo e será que temos condições de impedir isso?

Asteroides e a chance de acabar com a Terra

  • Literalmente, há milhões de rochas espaciais pesadíssimas em nosso Sistema Solar, encontradas especialmente no cinturão principal de asteroides, localizado entre Marte e Júpiter;
  • Apesar disso, apenas algumas passam perto de nosso planeta, e uma fração ainda menor pode representar um risco para nós;
  • Quando esses asteroides estão orbitando a 50 milhões de quilômetros da Terra, a NASA os classificam como objetos próximos à Terra (NEOs, na sigla em inglês);
  • Nesse universo, há um nicho de objetos preocupantes que, por serem bem grandes e orbitarem muito perto de nós, podem representar ameaça real ao nosso planeta em caso de colisão direta;
  • Esse nicho é conhecido como asteroides potencialmente perigosos (PHAs, na sigla em inglês) e é monitorado de perto pelos astrônomos.
Chuva de fogo no céu; abaixo, dinossauros
Asteroide que extinguiu dinossauros é um exemplo de PHA (Imagem: Aunt Spray/Shutterstock)

Como se determina que um objeto espacial é um PHA?

Um PHA é um NEO com mais de 140 m de diâmetro, podendo chegar a até 7,48 milhões de quilômetros da Terra, ou cerca de 20 vezes a distância média entre Terra e Lua, conforme a NASA.

Um asteroide com essas dimensões e a essa distância de nós, se passasse por nossa atmosfera sem queimar, poderia causar danos generalizados, ainda mais se caísse em região povoada. Objetos com esse potencial também têm um apelido: asteroides “assassinos de cidades”.

Agora, PHAs ainda maiores, com mais de um quilômetro de diâmetro, podem destruir todo o planeta e, até, extinguir a vida como a conhecemos hojeE isso já aconteceu — a rocha espacial que atingiu a Terra há 66 milhões de anos e matou os dinossauros é o principal exemplo. O apelido desse subtipo não poderia ser outro: “assassinos de planetas”.

Número de asteroides potencialmente perigosos

Neste mês, o Center for Near Earth Object Studies (CNEOS) da NASA identificou algo em torno de 37,5 mil NEOs, dos quais, cerca de 2,5 mil são considerados potencialmente perigosos, segundo o Minor Planet Center da International Astronomical Union (IAU).

Muitos deles vieram do cinturão principal de asteroides, contudo, suas respectivas órbitas foram alteradas conforme o Sistema Solar evoluiu. Nesse sentido, a NASA calculou a trajetórias dos PHAs conhecidos, determinando que nenhum deles está “programado” para atingir nosso planeta nos próximos 100 anos. Mas alguns deverão chegar perto o bastante para nos deixar preocupados.

Além do YR4, outro asteroide que vai chegar bem perto da Terra se comparado a alguns satélites lançados pelo homem é o “Deus do Caos”, ou Apófis. Isso deve acontecer em 2029. Contudo, os cientistas nos acalmaram ao informarem que as chances de uma colisão de Apófis com a Terra são de zero (atualmente).

Isso porque, caso sua órbita seja alterada ao interagir com outros corpos celestes durante os próximos anos, a situação pode mudar. Por isso, os astrônomos estão de olho nele também.

Quem também está sendo vigiado de perto é o asteroide Bennu, alvo da missão OSIRIS-REx de 2023, que trouxe amostras da rocha para a Terra. Hoje, as chances de ele nos atingir em 2082 são de uma em 2,7 mil. Caso isso aconteça, os efeitos na Terra poderão ser devastadores, segundo simulações computacionais.

Asteroide Bennu
Asteroide Bennu (Imagem: NASA/Goddard/Universidade do Arizona)

Identificando corpos espaciais potencialmente perigosos

Para encontrar potenciais PHAs, os astrônomos amadores e profissionais focam em pontinhos vermelhos se movendo no céu. Tais observações costumam ser realizadas por telescópios terrestres, como o Catalina Sky Survey, que fica no Estado do Arizona (EUA) e o Infrared Telescope Facility, que está no topo do vulcão Mauna Kea, no Havaí (EUA).

Satélites também são usados para este fim, como o NEOWISE, da NASA, que “faleceu” há pouco. Todavia, vale ressaltar que nem a NASA, nem a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), possuem satélites exclusivos para rastrear asteroides no Espaço, mas trabalham na próxima geração desse tipo de espaçonave.

Como explica o LiveScience, uma vez que um asteroide ou cometa é avistado, o responsável por encontrá-lo avisa o Minor Planet Center da IAU, responsável por compilar odas as observações de pequenos corpos em nosso Sistema Solar.

Então, cientistas de outros observatórios têm acesso aos dados da IAU e realizam mais medições desses corpos, com vistas a determinar suas respectivas órbitas e se eles podem ser uma ameaça à Terra.

Já conseguimos parar corpos espaciais potencialmente perigosos?

Essa é a pergunta que vale R$ 1 milhão. Hoje, os cientistas concordam que a melhor forma de evitar que um asteroide atinja nosso planeta é desviando sua rota, e não o destruir completamente, como Hollywood costuma nos mostrar.

Os cientistas realizam muitas análises de maneiras de mudar a trajetória de asteroides. Um desses métodos é o chamado trator gravitacional, no qual uma espaçonave orbitaria um asteroide e o tiraria de seu curso original.

Outra maneira que os pesquisadores hipotetizam é realizar a detonação de um explosivo nuclear perto do objeto-alvo, de modo a desviar sua rota.

Hoje, a maneira realística que temos de realizar este feito é por meio de um “impactador cinético“, considerado o melhor e mais viável, que envolve enviar uma espaçonave contra o asteroide, visando tirá-lo de seu curso.

A missão Double-Asteroid Redirection Test (DART), da NASA, que citamos no início do texto, é um bom exemplo de impactador cinético. Ele foi posta à prova em setembro de 2022.

Imagem de Dimorphos completo
Última imagem completa de Dimorphos, obtida pela espaçonave DART, a cerca de 12 km da “lua” do asteroide Didymos, dois segundos antes do impacto (Imagem: NASA/Johns Hopkins APL)

O objetivo da DART era colidir com o asteroide Dimorphos a 23,4 mil km/h, algo realizado com sucesso. Dessa forma, a órbita da rocha espacial em torno de seu asteroide hospedeiro, Didymos, foi alterada em 32 minutos, mostrando que a técnica do impactador cinético pode ser eficaz.

Mas há um porém: esse método necessita de anos de planejamento cauteloso e compreensão completa da órbita do asteroide-alvo.

OLHAR DIGITAL